Já estávamos fartos de ver picos enfiados
nas janelas, nos arcos, nas imagens de pedra nos frontais e nos telhados dos
monumentos por esse mundo fora. Uma ideia que não choca ninguém, dado que servem
para repelir os pombos e mandá-los para outros sítios onde podem lançar os excrementos
à vontade sem estragarem o que está edificado para deleite dos nossos olhos.
Porém, a mesma ideia agora surge num
recando de rua em Londres onde pernoitava um sem-abrigo. A fotografia suscitou
uma onda de contestação geral, o que provocou outras denúncias do mesmo género
em outras cidades. Toca a colocar estes picos em metal para que esses seres
estranhos que moram na rua não se deitem neste espaço. Uma ideia horrível que
se for tomada a sério por muito boa gente que nos desgoverna achará um método
genial para enxotar os maltrapilhos que eles lançaram na rua da amargura. Muitos
estão desejando de fazer isto em todos os recantos das nossas ruas, para que
sejam afastados da responsabilidade colectiva todos os filhos das varas verdes caídos
no meio da rua.
É mais fácil fazer como se faz aos
pombos, afastá-los para longe. Mas poderia ser melhor para a sociedade inteira
atacar as razões que levam a que existam pessoas deitadas no olho da rua. O
problema não se resolve com picos no chão, temos que atacar as verdadeiras razões
que conduzem ao problema. Isso sim, seria o dever das autoridades,
principalmente. Mas, ao invés disso consideram os sem-abrigo uma praga idêntica
à praga dos pombos. Ó mundo cruel e triste sem consciência do teu valor e das
pessoas que de povoam, que devem ser amadas e respeitadas com dignidade.
A humanidade não aprende
que não serve de nada repelir de um lado para o outro os problemas e que mesmo
que esteja escondido dos olhos um problema como este, não quer dizer que tenha
deixado de existir. Será preciso pensar e atacar a fonte que permite fazer
brotar tanta gente que deambula pela rua. No entanto, salvaguarde-se, que a
existirem, que sejam respeitados e tolerados como pessoas. E quem se atreva a
repudiar de forma discriminatória os sem-abrigo seja punido e que se lhe arranje
um abrigo para ver o sol aos quadradinhos.
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