A Igreja Católica é uma «família»
profundamente doente nos tempos que correm. Os laivos de frescura do Papa
Francisco não serão eternos e passado o seu efeito virão tempos árduos para a
Igreja Católica. Não basta um para fazer a Igreja, mesmo que esse um seja o
Papa.
O Papa Francisco colocou o tema da
família no centro da reflexão logo no início do seu pontificado. Escutaram toda
Igreja. Fizeram uma série de perguntas a todos os católicos e a humanidade de
boa vontade. Uma iniciativa inédita e surpreendente.
Fez-se dois Sínodos. Debateram. O diálogo
foi aberto até ao máximo. Escutaram testemunhos diferentes. Ouviram as mulheres
(poucas, mas algumas lá estiveram e falaram). Alguns casais estiveram presentes
(18 casais - se não estou em erro). A maioria dos presentes eram homens, machos
celibatários sem nenhuma experiência do que é uma família. Não são pais que
nunca deixaram de dormir por causa de um filho que não dorme, chora porque está
doente ou tem fome. Não fazem ideia do que é ter que conjugar a vida com outras
vidas, uma esposa e filhos e a sogra (como «brincou» o Papa em Filadélfia no
encontro com as famílias).
Perante isto tudo aquele grupo enorme de
homens, machos, vieram de todo o mundo, alguns são cardeais, outros bispos...
Ao que vieram? - Sabemos que vieram confirmar o que toda a gente já sabia. Que
há uma doutrina sobre o matrimónio e sobre a família que é intocável. Por isso,
o Sínodo não passou de mais conversa (para não dizer paleio e mais paleio) sem
carne, sem vida, sem família concreta dos tempos de hoje. Até pode ter tido
alguma coisa disso nas palavras do Papa. Mas estava isolado. Foi aplaudido, mas
não escutado.
Assim, conclui-se que muitos estiveram
lá para se passear com as suas ricas púrpuras. Não levaram nas suas malas, na
cabeça e no coração as suas Igrejas concretas e as famílias que as constituem. Não
fizeram eco do pulsar daquilo que há hoje por todo o mundo, uma diversidade
enorme de ser família. Só algumas figuras da Igreja Católica, porque se tomaram
de grande poder do céu e da terra, não se dá conta disso, porque tem medo de um
cisma. Porque há uma doutrina intocável. Uma tradição que fizeram ser mais santa
do que Deus e a dignidade da vida com o bem maior que é a felicidade das
pessoas. Umas leis absurdas que não encontram possibilidade de prática na vida
concreta de hoje.
Este grupo reunido em Sínodo prefere que
cada um se desenvencilhe perante cada caso e que faça como entender, ou pelo
rigor para seguir a linha ou a «santa tradição» (o conservadorismo) ou o
encolher de ombros ou a indiferença ou a misericórdia (acolhendo, compreendendo
e solucionando) mesmo que por esse caminho estejam sujeitos a serem vítima de
serem considerados uns desalinhados revolucionários. Foi este ambiente que o
Sínodo semeou. É com mais do mesmo que vamos ter que continuar a viver.
Este resultando medíocre do Sínodo sobre a
família, revela-nos uma Igreja Católica enferma, ligada às máquinas, sob uma
obsessão que se chama unidade, isto é, o medo do cisma. O último folgo, até ver,
chama-se Papa Francisco.
Sinto pena que Roma continue indiferente
à indiferença universal que hoje cresce como lume na palha em relação àquilo
que prega. Venha daí uma Igreja de Igrejas, onde cada Igreja se organiza e
funciona de acordo com as idiossincrasias próprias de cada povo onde está
implantada.
Comungo deste sonho do Papa Francisco.
3 comentários:
Li e fiquei confuso...
Como pode um homem que escreve assim, aceitar(engolir) tudo o resto e manter-se ao lado dos seus pares?!
Como podem esses pares aceitar quem escreve assim?!
Seja como for, comungo consigo em tudo o que escreveu sobre este assunto e faço minha a sua pergunta: Como pode um bando de solteirões empedernidos pronunciar-se sobre os problemas da Família?!
Um abraço!
José
Também fiquei confuso com o seu comentário. Em todo o caso, eu sou ímpar. Sigo Jesus de Nazaré e o Papa Francisco, se preferir. Quanto ao restante, é vida... Um abraço.
Percebo a ideia. Mas eles também ouvem muitas confissões. Acho que ajuda a sentir o que vai na cabeça das pessoas e os problemas das famílias.
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