Os dias do cinema
O livro é uma das melhores obras de Tolstói, o romance Ana Karenina
narra a história do amor difícil e controvertido vivido pela protagonista Ana
na Rússia czarista. Ela é uma mulher casada que vai atrás do seu amante Vronski
mas, arrebatada por uma paixão proibida, resvala cada vez mais para um abismo
de mentiras e destruição. Tolstói questiona o significado da vida e da justiça
social tendo como pano de fundo as crises familiares. É o maior romance de
adultério na literatura universal.
Esta história fica muito bem representada no filme levado à cena por estes
dias. Então temos uma belíssima mulher da nobreza russa, casada com um
ministro, que tem um filho deste casamento, conhece e apaixona-se por um oficial ao
visitar a sua cunhada em Moscovo. Ela tenta o divórcio, mas o marido não aceita.
Ela abandona-o e vai para a Itália com o amante, vivendo os tórridos momentos
de paixão que, entretanto, aos poucos se resfria até culminar com o trágico
final.
Estamos perante várias críticas importantes, que destaco três:
1. Crítica à elevada burocracia numa cena
magistral, em vários travellings espantosos, onde estão muitas pessoas a
carimbar papel ininterruptamente que é lançado ao ar provocando assim uma
chuva de folhas de papel.
2 Crítica à religião através de varias citações bíblicas e
preceitos morais tradicionais para justificar que o divórcio é uma aberração
mesmo que o casamento subsista na mais crua fachada, sem amor e felicidade.
3. Crítica à sociedade que despreza e olha de esguelha quem ousa enfrentar
os esquemas tradicionais e corajosamente enfrenta o poder patriarcal que
hipocritamente teima em manter os laços na base do estatuto social, a pura
imagem construída, hipócrita contra os elementos fundamentais de qualquer ligação
entre as pessoas, o amor e a felicidade. Tanto assim é que Anna Karenina, não
suportando o desprezo da sociedade aristocrática por ter ousado a separação e o
divórcio. Depois vê esfriado o seu amor quando descobre que o seu
"novo" amor, na segunda relação não consegue segurar-se diante do
desprezo da sociedade, facto que o derrota abdicando da mulher por quem estava
loucamente apaixonado, por quem tinha enfrentado a família, posição social e a
progressão na carreira militar. Vê-se assim vencido pela hipocrisia social,
pelo dinheiro, família e pela carreira... Factos que o induzem à traição e ao
desprezo por Karenina. Esta face a esta tragédia, perde totalmente o norte,
despreza os filhos e desespera até à tragédia final, o suicídio, atira-se para
debaixo de um comboio em andamento.
Estamos perante uma interpretação magistral da obra-prima do prestigiado
autor russo, Tolstói. O filme “Anna Karenina” de Tom Stoppard e Joe Wright,
procura mostrar a sociedade russa como um teatro gigante, onde as pessoas obedientemente
executam os papéis que lhes são atribuídos, mostrando tudo o que a vida
artificial implica. Os vários actores assumem o seu papel de forma soberba, um
elenco do filme é impecável. A caracterização e a roupa são de um requinte
fabuloso, facto que transforma a vida em puro teatro. A expressividade, dos
vários papeis assumidos pelos autores principais são de uma envolvência
cativante e fascinantemente. A fidelidade teatral de Keira Knightley (Anna),
Jude Law (Karenin), Aaron Taylor-Johnson (Vronsky) e Domhnall Gleeson (Levin),
justificam uma ida ao cinema deixando assim uma lembrança ainda mais densa e
viva do livro do autor russo, Anna Karenina.
1 comentário:
Quero agradecer sua interpretação dessa obra, que nos leva a grandes reflexões, até que ponto é válida a coragem desta mulher. Luciana Roques
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