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domingo, 23 de dezembro de 2012

Bispo Vieira Pinto - Repensar a Mensagem



Texto de Dírio Ramos publicado no Dnotícias, Funchal, 23 de Dezembro de 2012. Que testemunho desconcertante!
Neste dias em que os salamaleques elogiosos mutuamente levados a cabo entre algumas figuras da «nossa» Igreja Católica e outras figuras ligadas à política, calam fundo as seguintes palavras.
Vejamos, é deveras preocupante quando o poder político faz elogios, concede homenagens e menções honrosas às figuras da Igreja católica. Sinal manifesto, que algo não anda bem. Ainda mais se estivermos atentos à injustiça que grassa na nossa sociedade, a avassaladora onda-tsunami de desemprego, os joguetes com as pessoas idosas resultante da ganância em nome do lucro e de amizades perversas, a falta de sensibilidade em relação aos que sofrem, os desvarios dos gastos atirados às futilidades contra o essencial para termos um bem estar social mais digno, o descalabro da fome e da pobreza das famílias, o caos na saúde, na educação, a carga soberba de impostos sobre os cidadãos e a perseguição desumana do fisco às famílias...
Tantas outras situações sociais que merecem atenção, denúncia e anúncio profético dos membros da Igreja Católica. Se tais assuntos fossem tratados, denunciados nas pregações, os salamaleques teriam outros contornos... Por isso, cuidemos do seguinte testemunho porque nos interpela de forma acutilante, para não sermos traidores do Natal de Jesus. 
Uma Igreja que não é interpelada, perseguida, caluniada... Sofredora, não é verdadeira Igreja do Evangelho. Ao invés, uma Igreja elogiada, homenageada, mencionada honrosamente e cumulada com outras benesses pelos poderes deste mundo, não sei o que é, mas lá que não cumpre a sua missão, estou mais que seguro disso...

No dia um de Janeiro de 1974, o Bispo de Nampula , V. Pinto fez uma homilia com o título «Repensar a Guerra». Eis um pequeno trecho: «Ouvi-me uma vez ainda, homens que chegastes ao limiar do novo ano de 1974. (…) Eu quero falar-vos uma vez mais de paz. (…) A paz é algo que se deve não apenas manter mas produzir, e produzir a partir da verdade, da justiça do amor e da liberdade: a partir da consciência política do homem. Não é, por conseguinte , compatível com a «ordem» à custa da verdade, da justiça, do amor e da liberdade; não é repressão, não é medo, não é silêncio, não é morte. 
A paz é o homem, e o homem é o coração da paz. Daqui a necessidade urgente de tomar o homem a sério se quisermos seriamente a paz. E não apenas o homem sem nome, distante , desconhecido, mas o homem daqui e de hoje o homem que (…) sofre , há quase dez anos, a violência da guerra e que certamente deseja a paz. (…). 
Já o Profeta Ezequiel se insurgia contra os falsos profetas que, enganando o povo, afirmavam que tudo ia bem, quando tudo corria mal ( EZ.13.10.16)».
Três meses depois foi expulso de Moçambique, com onze sacerdotes que escreveram o «Imperativo de Consciência». Eram acusados de traidores à Pátria! 
De regresso a Nampula, quando havia os exageros da Frelimo, continuava a defender o povo. Perguntou Samora a V. Pinto : Porquê é que você que é Bispo, quando vem falar comigo, nunca fala de Deus nem da religião, mas do Povo, da sua defesa, dos seus direitos e da sua dignidade? O Bispo respondeu-lhe: Um deus que precisasse da minha defesa seria um deus que não é DEUS . Deus não precisa que O defendam. Os seres humanos sim.
Há 40 anos, estava em Moçambique onde dentro das forças armadas lutava contra a guerra que matou 8290 militares e milhares de patriotas africanos. Hoje, na Madeira, uma terra com desemprego, fome, miséria, emigração , de prepotência política, de medo, continuo a luta contra os falsos profetas.

1 comentário:

Graça Pereira disse...

Conheci pessoalmente D. Vieira Pinto. Na minha terra em Moçambique (e não só - do Rovuma ao Maputo -) os salões enchiam-se para o ouvir. Ouvir com clareza e abertura a verdade e todos sabemos, desde o tempo de Jesus, como o poder político e a sociedade "trata" a verdade...naquele ano de 74, foi uma expulsão e há quase dois mil anos, custou uma cruz!!
Santo Natal
Graça