Se estivermos atentos ao que acontece na nossa vida e ao que acontece à nossa
volta, verificamos que aquilo que surge de doloroso nem sempre deixa de
produzir, mais tarde ou mais cedo, um efeito positivo e até agradável. É bem
verdade esta palavra de Cheney: “As almas não teriam arco-íris, se os olhos não
tivessem lágrimas”.
As adversidades que encontramos nos caminhos da vida nunca nos deixam iguais:
ou nos engrandecem ou nos diminuem.
Há adversidades que são aproveitadas para repensar, para corrigir, para
aperfeiçoar, para aproximar de Deus, para nos tornarem mais compreensivos e
mais pacientes com os outros.
Há sofrimentos, físicos ou morais que nos transformam, deixando-nos melhores ou
piores. Alguém escreveu que a “adversidade é abrasivo que aguça a coragem”. Um
desgosto, uma desilusão, uma doença podem ter o efeito de um clarim que
desperta os valores latentes em cada homem.
Quando a dor nos “esquece” durante bastante tempo, nós vivemos cegos sem ver de
frente a realidade dos nossos defeitos, sem coragem para reconhecê-los e
corrigi-los, egoístas, sem solidariedade para quem sofre.
Mas quando qualquer espécie de sofrimento surge, esse sofrimento humaniza-nos,
torna-nos mais compassivos e indulgentes com os que sofrem, na nossa casa, no
nosso mundo de trabalho, no nosso círculo de conhecidos e até do mundo inteiro.
Certo escritor, perante uma crítica contundente aos seus livros, deixou de
escrever. Lamentando-se a um colega recusou qualquer conselho, tão desesperado
estava.
- Não vou dar-lhe conselhos. Vou dar-lhe uma definição de poesia que li há
tempos: “Poesia é o que Milton viu quando ficou cego”.
O escritor voltou a escrever e tornou-se afamado.
Vale a pena pôr em prática esta palavra de Susana Fouché: “a minha dor tomei-a
na mão como um instrumento de trabalho”.
Mário Salgueirinho
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