Ontem dia 11 de Junho de 2013, ficará na nossa
memória como o dia em que o Papa Francisco reconheceu haver corrupção no
Vaticano e um lóbi gay. Não é novidade, foi essa a razão da renúncia de Bento
XVI. O reconhecimento confirma a razão invocada. O Papa Francisco confessa-se
incapaz de reformar a Cúria do Vaticano, porque é muito desarrumado, tal tarefa
fica a cargo da comissão de cardeais nomeados para tal. Oxalá que esta graça
aconteça para bem da Igreja e da propagação do Evangelho de Jesus de Nazaré,
que aparece andar um pouco esquecido no meio deste imbróglio em que estamos
mergulhados.
Ficará também para os anais da Diocese do Funchal,
que na celebração do seu 499 Aniversário, a presença na Madeira do Arcebispo de
Braga, D. Jorge Ortiga, que proferiu uma conferência na Igreja do Colégio (11 de Junho de 2013), disse uma série de coisas bastante oportunas quanto à necessidade da
mudança da Igreja. Disse, que é «preciso mudar as mentalidades», que «há padres
secularizados, mas também há leigos clericalizados», que «antes os problemas eram os mesmos, as soluções eram
as mesmas, agora não é assim, a vida e o mundo não se apresentam em tudo da
mesa forma e com os mesmos contornos», mais ainda assinalou a necessidade de
fazer-se a aposta no que já existe e apelou à criatividade para que surjam novas
formas de evangelização da Igreja e do mundo. Todos são chamados a este
trabalho, porque o tempo da Igreja piramidal determinista acabou e eis que
chegou o tempo da comunhão e união fraterna com grande respeito pela
pluralidade e diversidade.
Alguns
acharão que estamos perante um discurso ousado. Realmente, também considero.
Nem sempre foi assim este bispo. A idade e as circunstâncias fazem as pessoas.
Ainda bem.
Mudar
mentalidades, foi o que disse como mote da sua comunicação. Urge hoje inventar
novas maneiras de ser cristão ou de ser fiel - não só no sentido de fidelidade,
mas também no sentido de ser cristão de plenos direitos e deveres na Igreja -,
será a linha de fogo da Igreja em geral, mas particularmente da Igreja da
Madeira que está a celebrar 500 anos de existência.
Inventar
não em nome de gostos e caprichos, mas em nome da máxima fidelidade ao
Evangelho de Cristo, o único a quem devemos cantar: «És a nossa fé». Não ser
cristãos como quem vive de uma recordação que vai desaparecendo pouco e pouco,
mas ser fiéis à responsabilidade que o estatuto de filhos de Deus confere e que
São Paulo exprime: «Se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus
e co-herdeiros de Cristo» (Rom 8, 17). Quem diz herdeiro, diz continuador da
missão, da vida e sujeito na transformação do mundo.
As
quatro etapas devem ser esclarecidas por todos na Igreja, mas de modo especial
pela hierarquia a quem compete guiar os fiéis à santidade. Deles deve vir o
impulso que permitirá a muitos cristãos desestabilizados a fazerem o funeral do
mundo do qual se sentem órfãos e reencontrarem o dinamismo inscrito no centro
da sua fé.
Os
psicólogos verificam todos os dias que os traumatismos sofridos pesam muito,
mas mais grave ainda é o seu recalcamento. A dor aumenta quando a pessoa
atingida não pode manifestar o seu sofrimento e não tem quem a oiça com atenção.
É importante que os cristãos possam manifestar o seu descontentamento e o seu
desgosto, a sua impaciência e, por vezes, a sua raiva. E os bispos e os padres
não devem ficar ressentidos, porque essa manifestação saudável afinal acontece.
Por
isso, renovarem-se e saírem do sofrimento faz supor que se purificaram
interiormente em relação à crise, o que implica terem sido ouvidos. A
hierarquia deve continuar a ver chegar-lhe esta queixa por vezes difícil de
escutar. Compreende que é também sua tarefa acolher os decepcionados com a
Igreja (ou os «vencidos do catolicismo» como diria Ruy Belo e tantos outros
irmãos que se desencantaram com a Igreja ou que simplesmente foram esquecidos
por ela). Os desencantados com os tempos, aqueles que a história recente
afastou, aqueles que se inquietam com os progressos do mundo. Interessar-se-á
por compreender a angústia de alguns cristãos e as suas interrogações.
Preocupar-se-á com o acolhimento benevolente tanto das tentações de recuar,
como das tentativas de experimentar. Sobretudo, saberão confiar na armadilha de
uma atitude de defesa orgulhosa de um equilíbrio passado que se desfaz sem que
a isso se possam opor.
No
fundo, basta não marginalizar ninguém e centrar toda a missão evangelizadora no
acolhimento de todos como irmãos, numa atitude de humildade e desprendimento.
Uma Igreja interessada só em bens deste mundo não tem futuro e tem os dias
contados. Por isso, requer-se uma Igreja que ponha em prática a expressão tão
conhecida e badalada do Papa João XXIII, «a Igreja, deve ser Mãe e Mestra».
Mais deve a Igreja toda estar ciente da palavra do Evangelho: «toda árvore boa
produz bons frutos, enquanto a árvore de má qualidade produz maus frutos. Uma
árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore de má qualidade pode dar
bons frutos» (Mt 7, 17-18).
Para
abandonar a Igreja da crise, é preciso fazer-lhe o funeral, depois é preciso
também aceitar a realidade, a separação, a ausência, o desaparecimento, o
desenvolvimento, as crises e os sofrimentos.
O carisma do acolhimento, da confiança, da renovação, será uma qualidade
de que há-de fazer prova a Igreja dos próximos tempos, porque a Igreja tem
necessidade disso. A fase que se aproxima permite-o e exige-o.
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