«A Vida é
Bela», é um filme de Roberto Benigni. É belo, divertido e comovente. Lembrei-me
deste filme por causa do panorama avassalador de terrorismo, traduzido em
assaltos por todo o lado, destruição de bens pessoais entre outras desgraças
que vão dando razões mais que suficientes para a insegurança e medo à nossa
volta. Se começarem a rebentar bombas, lá se vai o resto do turismo. Esperemos
que o juízo não desapareça por completo.
Voltando ao filme. O pano de fundo do enredo é a
Toscana, Guido (Roberto Benigni) vive em Arezzo, sonha ter uma livraria e está
apaixonado pela professora da escola local, Dora (Nicoletta Braschi). É neste
ambiente que Guido, Dora e o amigo poeta Ferrucio (Sergio Bustric) vivem a
chegada do fascismo e o anti-semitismo. O casal tem um filho, Giouse (Giorgio
Cantarini). Todos pressentem o perigo iminente. Em solteira Dora tinha
tido um noivo que pertencia ao exército fascista e que nunca perdoou a Guido o
facto de ter casado com ela.
A subida ao poder de Mussolini, a condição de judeu
de Guido e o encerramento da sua livraria proporcionaram a ocasião para a
vingança. Guido e o seu filho são enviados para um campo de concentração. Dora,
incapaz de se separar deles segue-os e partilha o mesmo destino. Chegados ao
campo, Guido empenha-se em fazer crer ao seu filho - totalmente inocente face
ao que se passa à sua volta - de que na realidade estão numa espécie de feira
popular, onde tudo é um jogo.
Estamos perante um filme que é um hino à liberdade e
à entrega total pelo bem dos outros. Tudo se passa como se fosse um jogo com
regras e divertimentos aparentes como se a realidade fosse uma aparência
constante. Mas quando o amor prevalece sobre tudo, qualquer preço para salvar a
vida dos semelhantes é sempre pouco.
O riso, não se contém perante a obsessiva imaginação
deste pai e pode funcionar como antídoto para combater o horror.
A beleza da vida está em ser capaz de encarar as
adversidades como um jogo. Um jogo que reforça o sonho, a liberdade e a
esperança. Aí radica a fé como força interior que move o amor pelos outros como
razão última da vida apesar do sofrimento e da morte. É óbvio que faz sentido
proteger desesperadamente contra tudo e contra todos a sobrevivência daqueles
que nos são próximos e os outros. A imaginação pode ser um caminho eficaz,
porque ajuda a sobreviver a tudo e pode, sobretudo, combater o medo.
Os horrores do homem contra o homem são sempre a
revolta do homem contra si mesmo. A incapacidade para reconhecer as suas
limitações produz um ser todo-poderoso sem princípios e sem valores. - Não será
isto mesmo que está hoje a fazer de forma subtil o empobrecimento das pessoas,
a condenação ao desemprego, a desgraça da ociosidade e a tragédia da austeridade
profundamente injusta?
Qualquer totalitarismo reduz o homem a um predador
de si mesmo. A ilusão de um homem todo-poderoso que não obedece à lei moral ou
à consciência de si mesmo diante dos outros, que se acha ilimitado diante da
sua vontade, que não reconhece padrões de bem-comum, que proclama a inutilidade
de Deus e, com ela, a fronteira entre o bem e o mal torna-se cada vez mais
ténue. Assim sendo, ao tentar superar a sua condição de pecador, falível e
finito, o Homem torna-se naquilo que o nazismo, o comunismo (e agora o
capitalismo e o neoliberalismo) fizeram dele: uma besta. A nossa insegurança
resulta disto mesmo.
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