Comentário à Missa deste domingo IV da Quaresma
30 de março de 2014
Santo Agostinho diz o seguinte: «As obras
do Senhor não são apenas factos: são também sinais. E, se são sinais, para além
do facto de serem admiráveis, devem certamente significar algo. E encontrar o
significado destes factos é por vezes bem mais trabalhoso do que lê-los ou
escutá-los».
A cura do cego de nascença é um desses
sinais. Este milagre revela que Jesus é a luz do mundo e vem libertar a
humanidade de todo o género de cegueira. É óbvio que esta cura resulta da fé
daquele homem. Só a fé conduz ao milagre do sentido da vida, à esperança na
plenitude da luz.
Hoje precisamos deste horizonte no coração
da humanidade como o pão para a boca. A crise de fé na dimensão da
transcendência humana é muito grande e conduz à cegueira do desespero.
Quanta infelicidade há por aí, que podia ser simplesmente convertida em
felicidade se a justiça, a solidariedade e a amizade fossem os ingredientes da
vida quotidiana de muita gente. Ainda não é, porque as escamas da cegueira estão
bem impregnadas e não permitem a visão clara.
O simbolismo do gesto de Jesus radica no
desejo que devemos sentir quando a cegueira interior nos persegue e nos faz
mergulhar na escuridão do sem sentido da vida. O mundo que nos rodeia não
enxerga o bem que Deus quer edificar a favor de todos. A humanidade cega-se com
a ganância e o egoísmo que levam à injustiça, à falta de respeito pelos outros,
em especial, os mais fracos. Daí que os espírito da vingança seja tão grande e
vá ditando as regras da conduta humana.
Todo este ambiente traduz a
ausência do respeito que é o abandono dos idosos, a violência doméstica, a
exploração das crianças, o desemprego, a mentira, a calúnia, a vingança, o
desgoverno das autoridades públicas e, numa frase, estamos com uma ausência de
valores em todos os domínios da sociedade. Assim, falta-nos a todos olharmos
Jesus de Nazaré, o verdadeiro libertador e dizermos: «Eu creio, Senhor» para
que a libertação das nossas cegueiras seja uma realidade e todos possam
convergir para um mundo mais fraterno e justo.
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