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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A derrota da cruz é a vitória da vida abundante

Comentário à Missa deste domingo
Domingo XXIV tempo comum, Festa da Exaltação da Santa Cruz, 14 setembro de 2014
Neste domingo celebramos a Exaltação da Santa Cruz, que nos convida a olhar para Jesus que se deixou elevar ao alto da cruz para revelar à humanidade que o caminho do egoísmo e de todas as formas estruturais de pecado que fazem vítimas inocentes por todo o lado não podem continuar.
Todo o mal foi vencido nesse quadro dramático de sofrimento que a cruz nos mostra, não apenas como derrota de um Deus, que pretendeu assumir tudo o que fazia parte da condição humana, mas como sentido de redenção de vitória da vida plena sobre todas as formas de morte que este mundo continua a construir escandalosamente.
A cruz é dom de amor, que nos mostra o sentido da vida, que tantas vezes implica sofrimento e morte, mas no fim está pujante de brilho para quem vive do amor, esta é a riqueza da vida plena contra todas as formas de violência.
É interessante a primeira leitura que nos mostra um Deus que caminha sempre ao lado do seu povo, fazendo perceber o quanto podem ser prejudiciais as suas opções erradas, daí que Deus se apresente com a Sua luz para que o povo nunca se esqueça que o caminho da felicidade está na busca constante pela vida e pela verdadeira liberdade, mesmo que isso às vezes implique sofrimento e morte.
A serpente de bronze levantada sobre um poste indica o quanto Deus deseja manifestar à humanidade a vida e o quanto a protege de todas as forças destruidoras deste mundo. O deserto da vida deste mundo, algumas vezes apresenta-nos os mais belos oásis, mas também revela o quanto há de perigo, de aridez e todas as investidas destruidoras que a solidão e a secura do deserto apresentam. Este sinal da serpente, é símbolo da Cruz de Cristo, onde se revelará em plenitude a salvação de Deus através da radicalidade do amor, que implicou sofrimento e morte, como preço da grande dádiva da vida em abundância que Deus manifesta para todo o mundo.
São Paulo na carta aos Filipenses, reflecte bem a ideia de que Cristo ao fazer-se carne igual à nossa carne, abdicou do orgulho e da arrogância, escolhendo o caminho da entrega a Deus Pai/Mãe ao serviço da humanidade inteira até ao dom total da vida. A Cruz é a expressão máxima desta escolha. É este o caminho e esta opção que os cristãos de todos os tempos, se quiserem converter o mundo para a justiça e para a visibilidade do bem comum, têm que assumir, prescindindo de toda a arrogância e de todo o egoísmo. Não há outro caminho que nos salve senão este.
O Evangelho de São João mostra-nos tudo sobre o grande amor que Deus revela em Jesus, ao ter enviado até junto de nós o seu próprio Filho, para nos oferecer a vida eterna. Faz-nos o convite a olhar para a cruz e tomarmos dela o exemplo do amor total, a percorrermos o caminho da entrega desinteressada em todas as tarefas que realizamos e a fazermos da vida, mesmo que seja o mais anónima possível, um dom total. Não há outro caminho para a profundidade da ética, que não deve esperar merecimento, agradecimento pelo que se deu ou fez. Fazer o bem sem esperar nada em troca e sem interesses pessoais egoístas. A isto chama-se generosidade, bondade e militância em favor da vida para todos.
É humano que tudo o que se faça neste mundo tenha uma retribuição, mas é cristão fazermos muita coisa sem que necessariamente venha daí um retorno, amar sem ser correspondido pode embelezar o mundo, emprestar desinteressadamente, amar os inimigos e rezar pelos que caluniam é a ética segura que emana de uma cruz que salvou o mundo, mesmo que aparentemente esteja envolta numa tremenda derrota.

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