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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O congresso sobre os 500 anos da Diocese do Funchal

Nota prévia: Esta minha análise sobre o congresso apenas diz respeito ao que observei e senti nos vários momentos onde estive presente. Não deixei a cabeça em casa e a minha capacidade crítica esteve sempre comigo. E não me venham com essa ideia terceiro mundista de que tudo o que se faz na Madeira é logo atacado, querem alguns sempre deitar abaixo e dizer sempre mal. Não é disso que se trata. Mas antes trata-se de olharmos as coisas com espírito crítico e para que também não se alimente a ideia parva de que tudo o que fazem alguns é sempre perfeito e só pelo facto de serem eles a fazer devemos dizer sempre bem, mesmo que não seja assim na realidade. Não embarco nisso. 
Para mim já terminou o congresso dos 500 anos da Diocese do Funchal e com ele também espero que tenha terminado tudo o que diz respeito a esta comemoração dos 500 anos. Prometo ainda adquirir o livro das actas do congresso para guardar como recordação e consultar quando for necessário. Não fosse um evento de uma envergadura gigante que merece que tenhamos essa atenção.
Deixo aqui uma palavra de admiração pelo Professor José Eduardo Franco, madeirense de Machico, sítio dos Maroços, que se vai revelando um organizador de congressos gigantes. Mas falta ainda saber se são humanamente possíveis de serem acompanhados pela capacidade humana. Parabéns pela sua capacidade para mobilizar uma série de estudiosos do mais variado quadrantes da investigação, do pensamento e do saber.
É óbvio que a história da Diocese do Funchal merecia um acontecimento desta envergadura, resta saber se era isto mesmo que precisávamos neste momento. Um dado relevante que se tira como conclusão do congresso é que parece existir mais pessoas fora da Madeira a estudar a história da Igreja da Madeira do que cá dentro.
Desde muito cedo quando comecei a ouvir falar da preparação do congresso, pensei logo que poderia ser mais útil para o futuro da Igreja da Madeira um Sínodo diocesano, porque a Igreja tem uma longa experiência na prática do Sínodo (significa, «caminhar juntos». Em um sínodo diocesano, trata-se de uma «assembleia de eclesiásticos» e leigos «convocados pelo seu prelado ou outro superior» que se reúnem com o propósito de «caminhar juntos», seguindo um determinado plano) e uma metodologia própria para tal.
O congresso é mais grandioso, mais mediático, se quisermos, mais concentrado em tempo pessoas e lugar, por isso, fica-se em congresso muito pela história com pequenas pinceladas no presente e sem futuro absolutamente nenhum.
Sim, precisamos da história, com toda a certeza, e mau será que nos envergonhemos do nosso passado, mas para relançar a Igreja para o futuro precisávamos que alguma coisa provocasse um tufão de Espírito Santo. Não vi isso neste congresso. Aliás, faltou que víssemos a força transformadora e impulsionadora à volta dos eventos todos sobre os 500 anos da Diocese do Funchal. No congresso ouvi muito sobre um passado glorioso, algum menos bom, outro floreado e outro ainda adulterado, porque nem todas as pessoas convidadas para intervir pareciam estar abalizadas para o fazer. Mas isso são critérios que nos ultrapassam.
Face a tudo o que observei não me pareceu que daqui se inicie uma renovação da Igreja da Madeira. Porque numa reunião magna como esta sentirmos que se evita alguns assuntos, só porque pode não ser de bom-tom ou suspeitarmos que tenham pensado que podiam ferir suscetibilidades, não augura conclusões e linhas de ação determinadas para levar adiante uma postura que demonstre conversão e outra postura perante as injustiças, as interferências político partidárias e a denúncia contra a exploração dos poderosos sobre os mais fracos.
O congresso foi grande e teve o cuidado de tocar ao de leve sobre a maioria dos aspectos da história da Diocese do Funchal. Não quer dizer que não tenha imensas lacunas, a principal delas foi ter descurado a história da Igreja do Porto Santo, porque embora sendo constituído por duas paróquias idênticas às paróquias da Diocese do Funchal, não deixa de ter uma história muito específica. A história das viagens no mar da travessa trata-se de uma verdadeira odisseia. O isolamento daquela população, a pobreza que sempre a acompanhou e tantos outros aspectos muito peculiares do Porto Santo. Tais particularidades do Porto Santo mereciam uma mesa redonda ou nem que fosse uma intervenção em qualquer um dos enormes painéis.
A propósito de painéis. Foram muito grandes, aproveitávamos pouco deles. Muita gente para falar sobre temas que mereciam um semestre em qualquer curso universitário. Por isso, foi comovente e penoso ver como os intervenientes se viam constrangidos pelo presidente da mesa e de como ficavam perplexos perante o corte da palavra porque o relógio não perdoa. Este festim hilariante distrai sobremaneira a assembleia e corta o fio à meada. Foi pena.
O congresso foi o que foi. Esperemos que alguns propósitos ali debitados não caiam em saco roto, mas que da parte dos principais responsáveis da Diocese, permitam que as portas se abram à conversão dos corações e que sejam solícitos à criatividade que venha de onde vier para que a história da Diocese que hoje dizem ser «metade da história da Madeira», daqui a mais 500 anos não seja apenas uma nota de rodapé.
Como calculam de Papa Francisco não vi nem ouvi nada...

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