Nota
prévia: Esta minha análise sobre o congresso apenas diz respeito ao que
observei e senti nos vários momentos onde estive presente. Não deixei a cabeça
em casa e a minha capacidade crítica esteve sempre comigo. E não me venham com
essa ideia terceiro mundista de que tudo o que se faz na Madeira é logo
atacado, querem alguns sempre deitar abaixo e dizer sempre mal. Não é disso que
se trata. Mas antes trata-se de olharmos as coisas com espírito crítico e para
que também não se alimente a ideia parva de que tudo o que fazem alguns é
sempre perfeito e só pelo facto de serem eles a fazer devemos dizer sempre bem,
mesmo que não seja assim na realidade. Não embarco nisso.
Para
mim já terminou o congresso dos 500 anos da Diocese do Funchal e com ele também
espero que tenha terminado tudo o que diz respeito a esta comemoração dos 500
anos. Prometo ainda adquirir o livro das actas do congresso para guardar como
recordação e consultar quando for necessário. Não fosse um evento de uma
envergadura gigante que merece que tenhamos essa atenção.
Deixo
aqui uma palavra de admiração pelo Professor José Eduardo Franco, madeirense de
Machico, sítio dos Maroços, que se vai revelando um organizador de congressos
gigantes. Mas falta ainda saber se são humanamente possíveis de serem
acompanhados pela capacidade humana. Parabéns pela sua capacidade para
mobilizar uma série de estudiosos do mais variado quadrantes da investigação,
do pensamento e do saber.
É
óbvio que a história da Diocese do Funchal merecia um acontecimento desta envergadura,
resta saber se era isto mesmo que precisávamos neste momento. Um dado relevante
que se tira como conclusão do congresso é que parece existir mais pessoas fora
da Madeira a estudar a história da Igreja da Madeira do que cá dentro.
Desde
muito cedo quando comecei a ouvir falar da preparação do congresso, pensei logo
que poderia ser mais útil para o futuro da Igreja da Madeira um Sínodo diocesano,
porque a Igreja tem uma longa experiência na prática do Sínodo (significa, «caminhar
juntos». Em um sínodo diocesano, trata-se de uma «assembleia de eclesiásticos»
e leigos «convocados pelo seu prelado ou outro superior» que se reúnem com o
propósito de «caminhar juntos», seguindo um determinado plano) e uma metodologia
própria para tal.
O
congresso é mais grandioso, mais mediático, se quisermos, mais concentrado em
tempo pessoas e lugar, por isso, fica-se em congresso muito pela história com
pequenas pinceladas no presente e sem futuro absolutamente nenhum.
Sim,
precisamos da história, com toda a certeza, e mau será que nos envergonhemos do
nosso passado, mas para relançar a Igreja para o futuro precisávamos que alguma
coisa provocasse um tufão de Espírito Santo. Não vi isso neste congresso. Aliás,
faltou que víssemos a força transformadora e impulsionadora à volta dos eventos
todos sobre os 500 anos da Diocese do Funchal. No congresso ouvi muito sobre um
passado glorioso, algum menos bom, outro floreado e outro ainda adulterado,
porque nem todas as pessoas convidadas para intervir pareciam estar abalizadas
para o fazer. Mas isso são critérios que nos ultrapassam.
Face
a tudo o que observei não me pareceu que daqui se inicie uma renovação da
Igreja da Madeira. Porque numa reunião magna como esta sentirmos que se evita
alguns assuntos, só porque pode não ser de bom-tom ou suspeitarmos que tenham
pensado que podiam ferir suscetibilidades, não augura conclusões e linhas de
ação determinadas para levar adiante uma postura que demonstre conversão e
outra postura perante as injustiças, as interferências político partidárias e a
denúncia contra a exploração dos poderosos sobre os mais fracos.
O
congresso foi grande e teve o cuidado de tocar ao de leve sobre a maioria dos
aspectos da história da Diocese do Funchal. Não quer dizer que não tenha
imensas lacunas, a principal delas foi ter descurado a história da Igreja do
Porto Santo, porque embora sendo constituído por duas paróquias idênticas às
paróquias da Diocese do Funchal, não deixa de ter uma história muito
específica. A história das viagens no mar da travessa trata-se de uma
verdadeira odisseia. O isolamento daquela população, a pobreza que sempre a acompanhou
e tantos outros aspectos muito peculiares do Porto Santo. Tais particularidades
do Porto Santo mereciam uma mesa redonda ou nem que fosse uma intervenção em
qualquer um dos enormes painéis.
A propósito
de painéis. Foram muito grandes, aproveitávamos pouco deles. Muita gente para
falar sobre temas que mereciam um semestre em qualquer curso universitário. Por
isso, foi comovente e penoso ver como os intervenientes se viam constrangidos
pelo presidente da mesa e de como ficavam perplexos perante o corte da palavra
porque o relógio não perdoa. Este festim hilariante distrai sobremaneira a
assembleia e corta o fio à meada. Foi pena.
O
congresso foi o que foi. Esperemos que alguns propósitos ali debitados não
caiam em saco roto, mas que da parte dos principais responsáveis da Diocese, permitam
que as portas se abram à conversão dos corações e que sejam solícitos à
criatividade que venha de onde vier para que a história da Diocese que hoje
dizem ser «metade da história da Madeira», daqui a mais 500 anos não seja
apenas uma nota de rodapé.
Como
calculam de Papa Francisco não vi nem ouvi nada...
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