Com a devida vénia, apresentamos aqui este texto do Padre Fernando Calado Rodrigues, publicado no Correio da Manhã de 29-08-2014. Faço minhas estas palavras.
O Papa Francisco retomou, esta semana, as audiências
na Praça de São Pedro com críticas contundentes para o interior da Igreja.
Regressou à temática das divisões entre os cristãos,
que já abordou noutras circunstâncias, nomeadamente no encontro com os
pentecostais. Agora aplica-a ao interior das comunidades católicas e não tanto
no âmbito do diálogo ecuménico. A proposta do Papa foi uma reflexão sobre a
"Igreja Una e Santa". Recordou que "há tantos pecados contra a
unidade; e não pensemos apenas nas heresias ou nos cismas, mas em faltas muito
mais comuns, nos pecados ‘paroquiais’: com efeito, as nossas paróquias,
chamadas a ser lugares de partilha e comunhão, infelizmente parecem marcadas
por invejas, ciúmes, antipatias. Como se coscuvilha nas paróquias! Isto não é
Igreja, não se faz! É verdade que isso é humano, mas não é cristão!" São
estas e outras críticas, acompanhadas por uma atitude de compreensão para com
os que andam afastados, que entusiasmam muitos e incomodam alguns. Estes,
aliás, têm promovido uma oposição silenciosa e sub-reptícia ao Papa muito mais
perigosa do que um atentado terrorista.
Um atentado terrorista faria dele um mártir das suas
convicções e da renovação que propõe à Igreja e ao Mundo. Mas este terrorismo
eclesiástico é muito mais perigoso, porque procura descredibilizar e esvaziar a
dinâmica reformadora por ele introduzida. "No início, criticaram-no pela
simplicidade das suas roupas, depois pela sua liberdade litúrgica, mais tarde
por causa da sua crítica ao sistema económico. Agora ficam incomodados com as
visitas que faz aos seus amigos – é mau que tenha amigos, pior ainda se são
judeus, muçulmanos ou pentecostais. Não gostam que ria, brinque, surpreenda,
improvise, converse, telefone, em resumo, que aja humanamente", escreveu
Marco Velásquez Uribe, no sítio chileno ‘Reflexión y Liberación’. Prossegue
este autor: "A um nível mais elevado, e de maneira mais orgânica,
estrutura-se uma oposição dogmática. Silenciosamente, vai ganhando força uma
corrente teológica que, sem pudor, vai corrigindo os desejos reformistas do
Papa." O que se deseja é que tanto o terrorismo externo como o interno não
consigam calar nem travar o Papa Francisco.
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