A «perigosa» Paróquia da Ribeira Seca
lançou hoje no Teatro Municipal do Funchal Baltazar Dias, o seu «contributo autónomo» (aliás,
devia ser em vez de autónomo, ostracizado), para a celebração dos 500 anos da
Diocese do Funchal. Trata-se de um conjunto de canções em CD com o seguinte
título: «A Igreja é povo, o povo é de Deus», junto acompanha um opúsculo, «Cancioneiro
Breve (I)», com os textos e as quadras populares que foram musicadas. O autor/poeta
principal é o povo da Ribeira Seca.
Os textos e as quadras pretendem fazer
memória das «condições de vida, as carências, as reivindicações e as consequentes
perseguições de que foi alvo um modesto agregado populacional localizado a
nordeste da cidade e concelho de Machico». Enfim, um pequeno retrato, visto a
partir do sentir das pessoas concretas desta localidade ostracizada pelos
poderes político e religioso. Afinal, mancomunados para levar adiante os seus
intentos de domínio e opressão, sob o pretexto de um pseudo episódio infantilizado
por pessoas que se esperava serem adultas e mais ainda homens investidos da autoridade
e da piedade da Igreja. Um retrato sujo, vergonhoso, pecaminoso, se quisermos radicalizar
ainda mais a leitura que se faz desta triste realidade.
A apresentação contou com a presença do
Professor Anselmo Borges que dissertou sobre a ideia da memória que faz a
Igreja povo de Deus, para que seja depois sacramento de inclusão e integração à
luz do Papa Francisco contra todas as formas de exclusão que os condicionalismos
históricos vão ditando. Nada pode ser mais forte, tanto fora tanto dentro da
Igreja, que condicione esse sacramento essencial da Igreja que é a inclusão.
A doutrina da Igreja que se baseia no
Evangelho de Jesus Cristo, não pode por sua natureza ser senão inclusiva e tudo
o que seja marginalização levada à prática pelas atitudes daqueles que têm o
«serviço» da autoridade redunda em contra testemunho evangélico e viola a
verdadeira natureza da Igreja. Por isso, não se percebe, hoje, que face aos
gestos enormes do Papa Francisco que quotidianamente apela à prática da
misericórdia e demonstra com exemplos bem concretos como se deve realizar a
reconciliação e integração daqueles que por qualquer circunstância estavam de
fora.
A Igreja da Madeira carrega em si a
«chaga» chamada Ribeira Seca e parece não fazer muito caso que uma porção do
povo de Deus esteja fora do âmbito diocesano. É pena. A festa poderia ser mais
autêntica. Assim fica coxa e não serve senão para encher o ego de alguns. Esperemos
que os próximos 500 anos sejam iluminados pela sabedoria da inteligência e a graça
do Espírito Santo faça brilhar a paz e o sonho de uma Diocese para todos sem
que ninguém seja excluído na Ribeira Seca nem em mais nenhuma ribeira da vida
desta nossa querida Ilha da Madeira.
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