Comentário à Missa do Domingo
XXVI tempo comum,
28 setembro de 2014
Os
outros são o verdadeiro desafio da vida. São Paulo considera que será preciso
cultivar bons "sentimentos", isto é, os sentimentos de Cristo, para
que o entendimento entre nós e os outros seja uma realidade.
Mas,
já é antiga a denúncia de que a relação com os outros não é pacífica. O mito de
Sófocles é claro, na magnífica "Antígona", ao proclamar no ponto alto
do diálogo o seguinte: "A teimosia merece o nome de estupidez". E
Hémon, um dos personagens da Antígona dirá alto e bom som: "Quem julga que
é o único que pensa bem, ou que tem uma língua ou um espírito como mais
ninguém, esse, quando posto a nu, vê-se que é oco". Toda a superioridade
perante os outros merece esta resposta e não pode ser senão a pior coisa que a
"louca" da imaginação de cada um inventa, destruindo assim o bem e a
felicidade que Deus deseja para o mundo.
O
estado de superioridade acontece nas coisas mais corriqueiras da vida. As
relações profissionais estão cheias desta realidade. As famílias alimentam-se
deste sentimento como do pão para a boca. As religiões ou as igrejas também
vivem esta condição com a mesma frequência com que pronunciam orações. E dos
que se consideram a si mesmos superiores, diz-se o mesmo que disse Ambrose
Bierce, são uns cobardes. E cobarde para este autor era alguém que, numa
situação perigosa, pensa com as pernas.
Este
sentimento, é o que mais inimigos, produz. Os rancores que muitas vezes as
pessoas expressam uns contra os outros estão associados à ao egoísmo e ao
convencimento pessoal centrado no ego muito longe da partilha para o bem comum.
E sobre estes sentimentos, Oscar Wilde ensinou que a melhor resposta, consiste
em perdoar-lhes sempre, porque nada os aborrece tanto.
A
sabedoria da vida está em saber acolher o mistério. Não são os desastres que
libertam e fazem a felicidade, mas a descoberta da verdade e da paz ("os
sentimentos de Jesus Cristo" - segundo o Apóstolo Paulo), como alimento
essencial para a relação com os nossos semelhantes.
Consequentemente,
Jesus no Evangelho ensina que não bastam palavras e declarações de boas
intenções, é preciso viver, dia a dia, os valores do Evangelho, seguir Jesus
nesse caminho de amor e de entrega que Ele percorreu, construir, com gestos
concretos, um mundo de justiça, de bondade, de solidariedade, de perdão, de paz.
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