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segunda-feira, 11 de abril de 2016

A Alegria do Amor

Para quem não tem tempo por agora para ler na íntegra a mais recente Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a Família, pode começar por aqui... Um resumo excelente. Atenção leigos ao capítulo IV e atenção sacerdotes ao capítulo VIII. Eis no seu todo o texto que abre muitas portas se permitirmos que o bom senso e a boa vontade sejam luz para ver mais e melhor o Evangelho e, no caso, o ensinamento Papal.


“Amoris Laetitia”.
Caso você seja leigo e queira ler a exortação apostólica do Papa sobre a família, pule os três primeiros capítulos e comece pelo Capítulo IV. Caso seja sacerdote, teólogo moral ou fiel divorciado, leia o Capítulo VIII.
A exortação de 263 páginas Amoris Laetitia (“A Alegria do Amor”) foi lançada nesta sexta-feira, 08-04-2016, no Vaticano.
O artigo é de Thomas Reese, jesuíta, jornalista, publicado por National Catholic Reporter, 08-04-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O capítulo de abertura é uma reflexão sobre as Escrituras, mas francamente ele acabou sendo uma coleção de referências sobre os textos sagrados que, juntas, não ficaram bem.
Não que o capítulo seja ruim; há algumas passagens boas. Por exemplo, é legal ver uma exegese positiva da descrição de Eva no Gênesis como uma auxiliar de Adão. Mais adiante no capítulo IV, ele traz a Carta aos Efésios, onde se pede que “as mulheres [sejam submissas] aos seus maridos”, dizendo que não se deve assumir “esta roupagem cultural, mas a mensagem revelada que subjaz ao conjunto da perícope”.
O segundo capítulo analisa a “a situação atual das famílias, para manter os pés assentes na terra”. Esse capítulo, como o primeiro da encíclica papal sobre o meio ambiente, reflete a insistência do pontífice de que os fatos importam.
Penso que ele faz uma descrição realista do estado da vida em família, porém há algumas surpresas a observar.
Uma característica notória deste capítulo é o seu chamado a uma salutar autocrítica na Igreja.
“Além disso, muitas vezes apresentamos de tal maneira o matrimônio que o seu fim unitivo, o convite a crescer no amor e o ideal de ajuda mútua ficaram ofuscados por uma ênfase quase exclusiva no dever da procriação”, escreve ele. “Outras vezes, apresentamos um ideal teológico do matrimônio demasiado abstracto, construído quase artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efetivas das famílias tais como são”.
“Também nos custa deixar espaço à consciência dos fiéis, que muitas vezes respondem o melhor que podem ao Evangelho no meio dos seus limites e são capazes de realizar o seu próprio discernimento perante situações onde se rompem todos os esquemas”, continua ele. “Somos chamados a formar as consciências, não a pretender substituí-las”.
O capítulo também convida à ação do Estado para a promoção de emprego, de moradia decente e de uma assistência à saúde, bem como um cuidado com os migrantes e pessoas com necessidades especiais.
O mais marcante é a condenação dos excessos das “culturas patriarcais”, de uma “forma de machismo” e da exigência de que devemos admirar “a obra do Espírito no reconhecimento mais claro da dignidade da mulher e dos seus direitos”.
O terceiro capítulo recorda “elementos essenciais da doutrina da Igreja sobre o matrimônio e a família”.
Ele começa enfatizando que “o nosso ensinamento sobre o matrimônio e a família não pode deixar de se inspirar e transfigurar à luz deste anúncio de amor e ternura, se não quiser tornar-se mera defesa duma doutrina fria e sem vida”.
Infelizmente, o capítulo cai às vezes em uma doutrina fria e sem vida, com citações numerosas tiradas de três papas anteriores e do Vaticano II.
Permita-me enfatizar: não estou dizendo que não leia os primeiros três capítulos. Em vez disso, digo para começar pelo Capítulo IV e voltar aos três primeiros mais tarde.
O Capítulo IV é uma obra-prima. Ele deveria ser lido por todos aqueles que planeam se casar e por todos aqueles que já estejam casados, independentemente de quanto tempo já passou. Tomara que alguma editora venha a publicar este capítulo em separado para as aulas preparatórias do matrimônio e aconselhamento, bem como para cursos de ensino médio e superior.
Eu já participei numa discussão sobre este capítulo com um velho jesuíta, muito sábio, que opinou: “O que sabe ele sobre a vida de casado?” Embora o meu companheiro jesuíta não tinha lido ainda o capítulo em questão, ele refletiu as inúmeras pessoas que já se cansaram de ouvir homens celibatários falarem sobre o assunto da vida de casado.
Portanto, vocês casados, leiam o capítulo e nos digam o que acham dele. Enquanto isso, aqui eu descrevo o que está contido aí.
O capítulo intitula-se “O Amor no Matrimônio”. Começa com uma meditação  maravilhosa sobre a passagem lírica de São Paulo sobre o amor: 1 Cor 13, 2-3. Ele cita Martin Luther King e refere o filme “A festa de Babette”.
O texto toma o hino de Paulo como uma preparação para discutir o amor conjugal. “Depois do amor que nos une a Deus, o amor conjugal é a ‘amizade maior’”, diz ele, citando São Tomás de Aquino.
O tom é pastoral e inspirador; não é irritante nem julgador. Pode-se somente concluir que, como sacerdote e bispo, ele passou inúmeras horas escutando e dialogando com os casais sobre a experiência de vida deles.
O Capítulo V trata dos filhos na família. Para o Papa Francisco, esse capítulo e o capítulo anterior são “os dois capítulos centrais, dedicados ao amor”.
No amor dos pais pelos filhos, Francisco vê “o primado do amor de Deus que sempre toma a iniciativa”, isso porque os filhos “são amados antes de ter feito algo para o merecer”.
Ele afirma que “as famílias numerosas são uma alegria para a Igreja”, mas concorda com João Paulo II em que a paternidade responsável não é “procriação ilimitada ou falta de consciência acerca daquilo que é necessário para o crescimento dos filhos, mas é, antes, a faculdade que os cônjuges têm de usar a sua liberdade inviolável de modo sábio e responsável, tendo em consideração tanto as realidades sociais e demográficas, como a sua própria situação e os seus legítimos desejos”.
No capítulo, ele fala da gravidez, e eu aqui deixo para as mães dizerem se ele acertou ou não, porém claro está que ele quer que a gravidez seja uma experiência alegre para elas.
O papa afirma a necessidade e o direito de um filho a ter o amor de uma mãe e um pai. Não somente como indivíduo, mas “juntos que eles ensinam o valor da reciprocidade, do encontro entre seres diferentes, onde cada um contribui com a sua própria identidade e sabe também receber do outro”.
Segundo ele, “se, por alguma razão inevitável, falta um dos dois, é importante procurar alguma maneira de o compensar, para favorecer o adequado amadurecimento do filho”.
Apesar da ênfase na necessidade dos dois pais, no capítulo seguinte o papa insiste que “o progenitor que vive com a criança deve encontrar apoio e conforto nas outras famílias que formam a comunidade cristã, bem como nos organismos pastorais paroquiais”. Ele observa que “estas famílias são muitas vezes afligidas pela gravidade dos problemas econômicos, pela incerteza dum trabalho precário, pela dificuldade de manter os filhos, pela falta duma casa”.
O Papa Francisco insiste na existência de um papel especial para a mulher na família. Apesar de ser “legítimo, e até desejável, que as mulheres queiram estudar, trabalhar, desenvolver as suas capacidades e ter objetivos pessoais”, ele afirma que “não podemos ignorar a necessidade que as crianças têm da presença materna, especialmente nos primeiros meses de vida”.
Pergunto-me o quanto estas opiniões foram influenciadas pelo fato de que a sua própria mãe o deixava com a sua avó durante o dia, quando as coisas ficaram mais difíceis na casa com a chegada de um outro irmão.
“Aprecio o feminismo”, escreve Francisco, “quando [este movimento] não pretende a uniformidade nem a negação da maternidade”.
“A mãe, que ampara o filho com a sua ternura e compaixão, ajuda a despertar nele a confiança, a experimentar que o mundo é um lugar bom que o acolhe, e isto permite desenvolver uma autoestima que favorece a capacidade de intimidade e a empatia.
Por sua vez, a figura do pai ajuda a perceber os limites da realidade, caracterizando-se mais pela orientação, pela saída para o mundo mais amplo e rico de desafios, pelo convite a esforçar-se e lutar. Um pai com uma clara e feliz identidade masculina, que por sua vez combine no seu trato com a esposa o carinho e o acolhimento, é tão necessário como os cuidados maternos.
Há funções e tarefas flexíveis, que se adaptam às circunstâncias concretas de cada família, mas a presença clara e bem definida das duas figuras, masculina e feminina, cria o âmbito mais adequado para o amadurecimento da criança”.
Conclui que “o problema nos nossos dias não parece ser tanto a presença invasora do pai, mas sim a sua ausência, o fato de não estar presente”.
Por outro lado, no Capítulo VIII, ele admite “que o masculino e o feminino não são qualquer coisa de rígido”.
“O fato de assumir tarefas domésticas ou alguns aspectos da criação dos filhos não o torna menos masculino nem significa um falimento, uma capitulação ou uma vergonha”, afirma ele na exortação. Tampouco estes intercâmbios sadios “não tiram dignidade alguma à figura paterna”.
“A rigidez torna-se um exagero do masculino ou do feminino”, continua o pontífice, “e não educa as crianças e os jovens para a reciprocidade encarnada nas condições reais do matrimônio. Tal rigidez, por seu lado, pode impedir o desenvolvimento das capacidades de cada um, tendo-se chegado ao ponto de considerar pouco masculino dedicar-se à arte ou à dança e pouco feminino desempenhar alguma tarefa de chefia”.
O Capítulo VI reflete sobre “alguns dos principais desafios pastorais”. Ele é endereçado aos bispos, sacerdotes e líderes pastorais. Ele evita uma especificidade detalhada porque “as diferentes comunidades é que deverão elaborar propostas mais práticas e eficazes, que tenham em conta tanto a doutrina da Igreja como as necessidades e desafios locais”.
O papa fala da importância de proclamar o Evangelho da família, preparar os cônjuges para o matrimônio, formar líderes leigos, apoiar e acompanhar os casais na continuidade de suas vidas em união e quando passam por crises, incluindo o rompimento, o divórcio ou a morte.
Válidas de nota são suas palavras sobre os seminaristas, que “deveriam ter acesso a uma formação interdisciplinar mais ampla sobre namoro e matrimônio, não se limitando à doutrina”.
“Além disso, a formação nem sempre lhes permite desenvolver o seu mundo psicoafetivo”, afirma o papa que certa vez foi reitor de um seminário. “É preciso garantir um amadurecimento, durante a formação, para que os futuros ministros possuam o equilíbrio psíquico que a sua missão lhes exige”.
Ele também insta a presença de leigos e “particularmente a presença feminina, na formação sacerdotal”.
O Capítulo VII trata da educação dos filhos, o que os pais deveriam realizar “de modo consciente, entusiasta, razoável e apropriado”. Ele insta igualmente vigilância, mas não a obsessão. “O que interessa acima de tudo é gerar no filho, com muito amor, processos de amadurecimento da sua liberdade, de preparação, de crescimento integral, de cultivo da autêntica autonomia”. Ressalta a formação ética e religiosa dos filhos.
Na maior parte, aquilo que ele diz é delicado e tradicional, mas o papa também levanta questões novas, como a necessidade um desligamento tecnológico.
Ele igualmente ecoa o chamado do Vaticano II por uma “educação sexual positiva e prudente”. Reconhece que “é difícil pensar na educação sexual num tempo em que se tende a banalizar e empobrecer a sexualidade”. Argumenta que “só se poderia entender no contexto duma educação para o amor, para a doação mútua”. Ele não está feliz com a educação sexual que se centra no “sexo seguro”.
O Capítulo VIII é o que digo que deveria ser lido por todos os sacerdotes, teólogos e católicos divorciados, sendo também uma leitura válida para todo mundo. Provavelmente ele é a melhor discussão sobre a consciência e o pecado que vi publicada pelo Vaticano. Este capítulo merece um tratamento muito mais aprofundado do que posso dar aqui.
Ele começa citando os Padres Sinodais que disseram que, embora a ruptura do vínculo matrimonial “é contra a vontade de Deus”, mesmo assim a Igreja “dirige-se com amor àqueles que participam na sua vida de modo incompleto, reconhecendo que a graça de Deus também atua nas suas vidas, dando-lhes a coragem para fazer o bem, cuidar com amor um do outro e estar ao serviço da comunidade onde vivem e trabalham”.
Em tais casos, “poderão ser valorizados aqueles sinais de amor que refletem de algum modo o amor de Deus”.
Ele cita a “lei da gradualidade”, conforme articulada por São João Paulo II, através da qual todo ser humano “[avança] gradualmente com a progressiva integração dos dons de Deus e das exigências do seu amor definitivo e absoluto em toda a vida pessoal e social”.
Ao citar o Sínodo dos Bispos, ele diz haver uma necessidade de “evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diferentes situações” e que “é preciso estar atentos ao modo como as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição”.
Por meio do diálogo e do discernimento, a Igreja ajuda aqueles em situações irregulares a compreender a “a pedagogia divina da graça nas suas vidas”. Ele faz observar que as situações desses casais podem ser muito diferentes e não deveriam ser catalogadas em classificações rígidas.
“Uma coisa é uma segunda união consolidada no tempo, com novos filhos, com fidelidade comprovada, dedicação generosa, compromisso cristão, consciência da irregularidade da sua situação e grande dificuldade para voltar atrás sem sentir, em consciência, que se cairia em novas culpas. A Igreja reconhece a existência de situações em que ‘o homem e a mulher, por motivos sérios – como, por exemplo, a educação dos filhos – não se podem separar’.
Há também o caso daqueles que fizeram grandes esforços para salvar o primeiro matrimônio e sofreram um abandono injusto, ou o caso daqueles que ‘contraíram uma segunda união em vista da educação dos filhos, e, às vezes, estão subjetivamente certos em consciência de que o precedente matrimónio, irremediavelmente destruído, nunca tinha sido válido’” (citações de João Paulo II).
Em seguida estão os divórcios recentes, “ou a situação de alguém que faltou repetidamente aos seus compromissos familiares”.
Todos estes exigem um discernimento cuidadoso. Não há “receitas simples”, diz ele citando o Papa Bento XVI. Consequentemente, “é compreensível que se não devia esperar do Sínodo ou desta Exortação uma nova normativa geral de tipo canônico, aplicável a todos os casos”.
“É possível apenas um novo encorajamento a um responsável discernimento pessoal e pastoral dos casos particulares, que deveria reconhecer: uma vez que [conforme disse o Sínodo] ‘o grau de responsabilidade não é igual em todos os casos’, as consequências ou efeitos duma norma não devem necessariamente ser sempre os mesmos”.
De novo, citando o Sínodo, ele concorda que “os batizados que se divorciaram e voltaram a casar civilmente devem ser mais integrados na comunidade cristã sob as diferentes formas possíveis, evitando toda a ocasião de escândalo”.
Os divorciados e recasados deveriam se perguntar, mais uma vez citando os Padres Sinodais:
“[…] como ele se comportaram com os seus filhos, quando a união conjugal entrou em crise; se houve tentativas de reconciliação; como é a situação do cônjuge abandonado; que consequências têm a nova relação sobre o resto da família e a comunidade dos fiéis; que exemplo oferece ela aos jovens que se devem preparar para o matrimônio”.
Um tal discernimento, segundo os Padres Sinodais, exige “humildade, privacidade, amor à Igreja e à sua doutrina, na busca sincera da vontade de Deus e no desejo de chegar a uma resposta mais perfeita à mesma”.
Isso é bem diferente da “ideia de que algum sacerdote pode conceder rapidamente ‘exceções’, ou de que há pessoas que podem obter privilégios sacramentais em troca de favores”, escreve Francisco. Ele então apresenta uma seção sobre as circunstâncias que podem atenuar a responsabilidade moral, a qual deveria ser considerada em um tal discernimento.
“Já não é possível dizer que todos os que estão numa situação chamada ‘irregular’ vivem em estado de pecado mortal, privados da graça santificante”, escreve ele.
Ao citar o Catecismo da Igreja Católica, ele nota: “A imputabilidade e responsabilidade dum ato podem ser diminuídas, e até anuladas, pela ignorância, a inadvertência, a violência, o medo, os hábitos, as afeições desordenadas e outros fatores psíquicos ou sociais”.
Alhures, observa que o catecismo refere circunstâncias que atenuam a responsabilidade moral e menciona a “imaturidade afetiva, a força de hábitos contraídos, o estado de angústia e outros fatores psíquicos ou sociais” que diminuem ou extenuam a culpabilidade moral.
Francisco concorda com o Sínodo: “mesmo defendendo uma norma geral a ser seguida, é necessário reconhecer que a responsabilidade com respeito a determinadas ações ou decisões não é a mesma em todos os casos”.
O Papa Francisco, porém, vai além do simples uso da consciência para reconhecer que “uma situação não corresponde objetivamente à proposta geral do Evangelho”.
Ele diz também que pode reconhecer “com sinceridade e honestidade, aquilo que, por agora, é a resposta generosa que se pode oferecer a Deus e descobrir com certa segurança moral que esta é a doação que o próprio Deus está a pedir no meio da complexidade concreta dos limites, embora não seja ainda plenamente o ideal objetivo”.
Francisco está dizendo que não é suficiente apenas considerar se as ações da pessoa correspondem, ou não, a uma norma ou lei geral. “É verdade que as normas gerais apresentam um bem que nunca se deve ignorar”, diz ele, “mas, na sua formulação, não podem abarcar absolutamente todas as situações particulares”.
Assim, para o Papa Francisco “é possível que uma pessoa, no meio duma situação objetiva de pecado – mas subjetivamente não seja culpável ou não o seja plenamente –, possa viver em graça de Deus, possa amar e possa também crescer na vida de graça e de caridade, recebendo para isso a ajuda da Igreja”.
Em nota de rodapé (351), ele afirma que “em certos casos, poderia haver também a ajuda dos sacramentos”. Menciona tanto a Confissão como a Eucaristia, que “não [são] um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos”.
O pontífice entende que alguns querem uma abordagem mais rigorosa, sem lugar para confusão. “Mas creio sinceramente que Jesus Cristo quer uma Igreja atenta ao bem que o Espírito derrama no meio da fragilidade: uma Mãe que, ao mesmo tempo que expressa claramente a sua doutrina objetiva, ‘não renuncia ao bem possível, ainda que corra o risco de sujar-se com a lama da estrada’”.
“Os pastores, que propõem aos fiéis o ideal pleno do Evangelho e a doutrina da Igreja, devem ajudá-los também a assumir a lógica da compaixão pelas pessoas frágeis e evitar perseguições ou juízos demasiado duros e impacientes”.
Reconhece que “que a misericórdia não exclui a justiça e a verdade, mas, antes de tudo, temos de dizer que a misericórdia é a plenitude da justiça e a manifestação mais luminosa da verdade de Deus”.
O capítulo final é sobre a espiritualidade conjugal e familiar.
Ele insiste que o Senhor habita na família real e concreta, “com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos diários”. Viver uma vida de amor em tal família é um meio de aprofundamento da união com Deus. “A espiritualidade encarna-se na comunhão familiar”.
“Aqueles que têm desejos espirituais profundos não devem sentir que a família os afasta do crescimento na vida do Espírito”, segundo ele, “mas é um percurso de que o Senhor Se serve para os levar às alturas da união mística”.
Eis um documento papal que vale a pena tirar um tempo ler e ser objeto de reflexão. Há partes maçantes; há partes que inspiram e deleitam; há partes que trarão esperança; e há partes que irão enfurecer.
Se esta exortação apostólica trouxer o debate sobre a família feito no salão sinodal às paróquias e famílias, então ele terá tido sucesso.
In Instituto Humanitas Unisinos, Sábado, 09 de abril de 2016

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