Este é um assunto que sempre me
acompanha. Muitas vezes até se torna incómodo. Mas felizmente que não me deixa
em paz este pensamento. Provavelmente, até me tem ajudado a «pecar» contra a
instituição para fazer o bem às pessoas em concreto quando se apresentam com os
seus dramas, as suas dificuldades, a sua pobreza… Nada nos deve deter quando
podemos dar resposta em nome da compaixão, seguindo o exemplo do Evangelho de
Jesus Cristo. Nenhuma norma, nenhuma regra, nenhum dogma, devem estar acima do
consolo e do reacender da esperança no coração de uma pessoa.
Os pastores convertem-se em lobos do
rebanho quando são «funcionários de Deus», foi o que considerou o teólogo Eugen Drewermann de uma forma extraordinário quando analisou a vocação e a vida
dos padres e das freiras.
É tempo de acabar com a confusão geral que perverte
a natureza da Igreja, o ser povo de Deus em marcha. A sociedade, e sobretudo a
comunicação social, frequentemente e rapidamente confunde a hierarquia, isto é,
o Papa, os bispos e os padres, com a Igreja como se o resto da multiplicidade e
diversidade que constitui a Igreja fosse paisagem irrelevante. Se um falha
todos falham. Esta confusão do ramo com a floresta é o pão nosso de cada dia. Tudo isto é mau demais, porque empobrece todo o corpo e mancha a verdadeira natureza de uma organização que tem o dever de ser campeã da misericórdia e do amor de Deus no mundo.
Há uma forte busca de muitos que desejam ou imaginam
com o Espírito de Deus uma maior comunhão no interior da Igreja. Não se pode
recorrer à confusão e aos malabarismos do poder para atacar a mudança, ou
então, abortar desde logo este constante, elementar e profundo sentir humano: o
desejo de mudança. O Papa Francisco está a ser um vanguardista e uma luz para a
Igreja e para o mundo. É triste persistam alguns pastores agarrados ao passado
e às leis absurdas que salvavam o sábado contra a dignidade e o valor de cada
pessoa.
Perante tudo isto, não se pode, isso sim, deixar que
a Igreja se esvazie da sua riqueza: a diversidade de carismas e a
multiplicidade de sensibilidades. Nem podemos deixar que a Igreja continue a
ser um simples espaço onde apenas alguns mostram a sua soberba e o gosto
pessoal pelo poder ou vontade de mandar uma multidão de gente adormecida. E
muito menos não se espera que em nenhuma situação o pastor se transforme em
lobo do rebanho. Salve-nos Deus do pastoreio legalista e insensível a cada
situações concreta da vida onde predomina o sofrimento, a dor e angústia do
desespero.
A Igreja é o espaço livre
onde o Espírito de Deus age como quer e em quem quer, no sentido de criar uma
dinâmica que alimenta a fé e a esperança na salvação. Nunca um dinamismo que
cerce os direitos fundamentais como o da liberdade e o de pensar. A Igreja, é
um espaço livre para gente livre. A religião, nunca pode ser vendida ou
comprada por este ou por aquele. Na religião, não há lugar para donos. Cada um
com a sua fé é senhor de si mesmo. E deixemos o resto à conta de Deus Nosso
Pai.
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