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quarta-feira, 20 de abril de 2016

O desafio da amizade todos os dias

Para quem vai à missa no fim de semana e não só. Domingo V da Páscoa
O Evangelho de São João, deste domingo V da Páscoa, apresenta-nos o mandamento novo de Jesus: «Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros». Não é fácil cumprir este mandamento que Jesus nos manda viver. A nossa vida está tão repleta de tantas coisas complexas demais que se torna, por vezes, impossível corresponder ao mandato de Cristo. Todos temos experiências de relação com as pessoas que vamos encontrando, que nos marcaram profundamente para o bem e para o mal.
No entanto, cada um deve em primeiro lugar ser capaz de acolher todos aqueles que Deus colocou na sua vida e amá-los profundamente. Dessa forma, já viveremos o mandamento novo que Jesus nos ensina. Os contextos mais difíceis do mundo são o melhor lugar para viver o amor.
Primeiro que tudo, devem estar no nosso coração todos os que a vida nos ofereceu como membros da nossa família, do trabalho, da opção de vida e de todas as caminhadas que encetamos.
Logo depois, somos desafiados a viver o amor para com todos aqueles que se cruzam connosco no dia a dia. A esta forma de vida não se chama ingenuidade ou inocência doentia, mas disponibilidade para a vivência da felicidade pessoal e dos outros. Não devemos aceitar todas as patetices e asneiradas dos outros, mas somos chamados a acolher, compreender e perdoar. O Papa Francisco diz desta forma o essencial sobre o que devemos fazer nas errâncias quotidianas: «Ponha amor e a sua vida será como uma casa construída na rocha».
O poeta Herberto Helder alinhou com o jogo sublime das palavras a grandeza da amizade, que nos revelou este momento tão improvável: «Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado. / Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos, / com os livros atrás a arder para toda a eternidade. / Não os chamo, e eles voltam-se profundamente / dentro do fogo. / - Temos um talento doloroso e obscuro. / Construímos um lugar de silêncio. / De paixão». (Herberto Helder, Ofício Cantante, in POESIA COMPLETA).
O amor que Jesus nos manda viver como elemento essencial do seu Reino passa pela entrega ao serviço dos outros e pelo acolher a todos como irmãos, amigos. O reino de Jesus Cristo está identificado pela fraternidade. Até podemos definir a religião cristã como uma fraternidade. Ninguém se pode dizer cristão se não vive na base da amizade e da abertura aos outros como irmãos como valor fundamental da sua vida de todos os dias.
Talvez seja esta visão do cristianismo que nos leva a concluir que esta religião é difícil de ser vivida. No entanto, não devemos deixar que este pensamento nos atrofie a coragem ou a entrega à descoberta do essencial para a felicidade, ser fraterno.
Nesse «inferno» que às vezes pode ser a relação com os outros, pode ser que também esteja a descoberta outras vezes do céu. A fraternidade é o maior desafio deste mundo e da vida concreta de cada pessoa, porém, é essencial que faça parte deste mundo. Está mais que provado que a ausência deste valor tem levado a humanidade à tragédia. Por isso, mesmo que pouco bastava um pouco de prática do ensinamento de Jean Cocteu: «A felicidade de um amigo deleita-nos. Enriquece-nos. Não nos tira nada. Caso a amizade sofra com isso, é porque não existe». 

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