Para quem vai à missa no fim de semana e não só. Domingo V da Páscoa
O Evangelho de São João, deste domingo V
da Páscoa, apresenta-nos o mandamento novo de Jesus: «Como eu vos amei,
amai-vos também uns aos outros». Não é fácil cumprir este mandamento que Jesus
nos manda viver. A nossa vida está tão repleta de tantas coisas complexas
demais que se torna, por vezes, impossível corresponder ao mandato de Cristo.
Todos temos experiências de relação com as pessoas que vamos encontrando, que
nos marcaram profundamente para o bem e para o mal.
No entanto, cada um deve em primeiro
lugar ser capaz de acolher todos aqueles que Deus colocou na sua vida e amá-los
profundamente. Dessa forma, já viveremos o mandamento novo que Jesus nos
ensina. Os contextos mais difíceis do mundo são o melhor lugar para viver o
amor.
Primeiro que tudo, devem estar no nosso
coração todos os que a vida nos ofereceu como membros da nossa família, do
trabalho, da opção de vida e de todas as caminhadas que encetamos.
Logo depois, somos desafiados a viver o
amor para com todos aqueles que se cruzam connosco no dia a dia. A esta forma
de vida não se chama ingenuidade ou inocência doentia, mas disponibilidade para
a vivência da felicidade pessoal e dos outros. Não devemos aceitar todas as
patetices e asneiradas dos outros, mas somos chamados a acolher, compreender e
perdoar. O Papa Francisco diz desta forma o essencial sobre o que devemos fazer
nas errâncias quotidianas: «Ponha amor e a sua vida será como uma casa construída
na rocha».
O poeta Herberto Helder alinhou com o
jogo sublime das palavras a grandeza da amizade, que nos revelou este momento
tão improvável: «Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado. / Os
amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos, / com os livros
atrás a arder para toda a eternidade. / Não os chamo, e eles voltam-se
profundamente / dentro do fogo. / - Temos um talento doloroso e obscuro. / Construímos
um lugar de silêncio. / De paixão». (Herberto Helder, Ofício Cantante, in
POESIA COMPLETA).
O amor que Jesus nos manda viver como
elemento essencial do seu Reino passa pela entrega ao serviço dos outros e pelo
acolher a todos como irmãos, amigos. O reino de Jesus Cristo está identificado
pela fraternidade. Até podemos definir a religião cristã como uma fraternidade.
Ninguém se pode dizer cristão se não vive na base da amizade e da abertura aos
outros como irmãos como valor fundamental da sua vida de todos os dias.
Talvez seja esta visão do cristianismo
que nos leva a concluir que esta religião é difícil de ser vivida. No entanto,
não devemos deixar que este pensamento nos atrofie a coragem ou a entrega à
descoberta do essencial para a felicidade, ser fraterno.
Nesse «inferno» que às vezes pode ser a
relação com os outros, pode ser que também esteja a descoberta outras vezes do
céu. A fraternidade é o maior desafio deste mundo e da vida concreta de cada
pessoa, porém, é essencial que faça parte deste mundo. Está mais que provado
que a ausência deste valor tem levado a humanidade à tragédia. Por isso, mesmo
que pouco bastava um pouco de prática do ensinamento de Jean Cocteu: «A felicidade de um amigo deleita-nos. Enriquece-nos.
Não nos tira nada. Caso a amizade sofra com isso, é porque não existe».
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