Deus
e eu - Um texto exclusivo do Carlos Vares para os leitores do Banquete...
Frente a frente.
Adorá-lo ou Desafiá-lo? Como entidade de bem não levará a mal um exercício de
dúvida. Será que olho para Ele nos olhos? Será um ser, uma luz, uma metáfora,
uma mandala, uma consciência, um valor ou uma ética? O que finalmente será?
Enerva aquele modo de
Ser que encerra em nós as perguntas e as respostas, um monólogo em presença de
dois com todos. Se vê, ouve e sabe tudo só poderei jogar com a verdade nos
limites da compreensão humana. A verdade com Deus é como uma arma de dissuasão
pela positiva, não haverá um passo em falso sem ter a certeza. É incrível que
haja esta solução e ninguém a tenha usado. Deus parece aqueles que nunca perdem
a razão porque nunca vão a votos. Será? Que silêncio.
Não será naïve jogar
honesto para perder quando outros jogam sujo e ganham, ficando com a razão e a
importância através da vitória suja? Se vitórias assim ditam as regras, como
pode o mundo triunfar se o mal é tão fácil e o mérito tão desafiante na
complacência do próprio Deus? Será que Deus é uma matriz de consciência que
surge com a evolução do ser humano? Existe enquanto tivermos consciência ou
existência?
Custa ter coragem de
reclinar o olhar e finalmente ter a certeza de que existe quando sentimos tanta
injustiça, quando parece que os piores ganham sempre e que os males afectam só
a boa gente. Será que notamos o benefício dos maus e omitimos o dos bons? Será
de novo a consciência? Onde acaba o sentimento e começa o pecado?
Como responderia Deus
aos desafios dos maus materializando a sua presença na Terra? Penso em momentos
da história universal que nos poderiam ter levado ao extermínio se o bem não
lutasse com maus modos. Imagino a Segunda Grande Guerra, com os bons a lutar
com as palavras e não com armas, como ganharíamos à besta? Não teremos vencido
por via do pecado para alcançar o bem? Proponho um desafio, ver as suas
soluções em aulas práticas. Há uma condição, teria que actuar como ser humano,
sem truques. Será que Deus na ausência da harmonia e da perfeição, na presença
de toda a maldade deste mundo, também perderia as estribeiras? Chegaríamos ao
limite da legítima defesa para cometer um pecado inimputável? Seria prova da
Sua imagem e semelhança em relação a nós? Só me lembro do sofrimento de Cristo
e o que disse na cruz enquanto homem. Somos experiências de Deus para alcançar
a perfeição?
Como ser perfeito,
supremo, infinito, a causa primária de tudo mas também o fim das coisas, Deus
nunca esteve sujeito a um início onde decorre o espaço, o tempo, a matéria e o
transcendente. Se nascemos mas nunca temos fim, passando da matéria para o
espírito e Deus é a origem, onde somos a imagem e semelhança, qual a génese do
Criador? Se Deus é a origem de tudo como existe Deus e o conhecimento? Será que
regressamos, de novo, à matriz de consciência onde Deus derrama a evolução do
homem nesta imensidão do universo? Deus é autodidata ou faz experiências
connosco?
Somos os únicos à Sua
imagem e semelhança no universo? Porquê só nós ou porquê tantas imagens e
semelhanças? Porque a fé é profusa em metáforas num labirinto que nos impede de
chegar a ideias claras? Para criar o mistério da fé? Porque temos tantas
perguntas ao fim de tanto tempo?
Num mundo com tantos
deuses, muitas vezes fonte de discórdia, porque terei eu o original e os outros
não? O meu Deus não sucumbirá como os deuses dos egípcios, dos gregos, dos
astecas ou por acção da ciência? Porque ficamos instantaneamente devotos quando
a ciência falha ou não é suficiente? Deus existe porque precisamos de
acreditar, nos referenciar em algo e ter a resposta universal quando
desconhecemos?
Por vezes agoniamos tal
como seu Filho na cruz e ficamos a pensar se sente, apesar de ter criado o que,
por vezes, estes terrenos sentem de dor e injustiça.
O leitor é crente por
fé, por devoção, por via das dúvidas, não vá o diabo tecê-las ou só quando está
aflito? Porque é que sendo uma questão para se levar muito a sério há muitos
intermitentes na sua fé? Porque é que se a fé salva o espírito para todo o
sempre somos tão humanos, com defeitos e virtudes, no dia-a-dia? O que falha em
algo tão imprescindível?
Que certezas ficam?
Deus é um enigma que cada um assume com maior ou menor profundidade, para
distinguir o bem do mal, e nos transportar do plano material da nossa dimensão
humana para a espiritual? Deus faz-nos viver pelo melhor prisma da humanidade?
A Sua existência serve para nos provocar a dúvida e termos a humildade da
pequenez na imensidão do desconhecido? Será que é a dúvida sobre Deus que nos
faz melhores pessoas? Se a humanidade falhar será à sua imagem e semelhança? Se
Deus exerce efeito, existe? Como? A descoberta é a missão da vida.
Caro Deus gostei muito
deste bocadinho, agora que virei do avesso a fé, as consciências ou
existências, deixo-te por afazeres terrenos. Abana esses Santos acomodados
porque vivemos tempos desafiantes onde a descrença substitui a dúvida. Dizem
que o Padre José Luís convidou o Trump para um “Deus e eu”, vou ver como te
desenrascas! Já percebeste que é mentira, pequei por uma boa causa, a de
desafiar-te a ser melhor Deus. Que heresia.
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