1. A palavra normal não pode entrar nesse descampado onde se semeia dor, lágrimas, sangue, manchas negras e morte... Qualquer forma de violência, nunca pode ser normal. Não tem detalhes nem ocasiões aceitáveis, normais. E ponto. Se alguém admite que os insultos, as humilhações, as proibições, as ameaças e as perseguições não são violência, precisa urgentemente de tratamento psiquiátrico ou então sou eu que afinal vivo num mundo errado. Inaceitável estupidez.
2. Não é normal o que diz um inquérito de 2015, feito nas escolas da Madeira, onde são revelados dados curiosos, mas deveras preocupantes. A Secretaria Regional da Inclusão e Assuntos Sociais, do Governo Regional da Madeira, revelou que 23% dos jovens inquiridos já assistiram a actos de violência doméstica nas suas casas e 13,7% considera normal a violência no namoro. Normal, onde?
3. Um outro estudo da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) publicado a nível nacional, deixa a nu outra realidade dura e preocupante: há crianças de 13 anos vítimas de violência no namoro e um em cada 6 jovens considera normal ter relações sexuais forçadas. Isto não pode ser normal... Tudo muito anormal e frustrante.
4. A crueza dos números é preocupante. Mas salta-me à vista e provoca-me um arrepio haver gente que considera existir atitudes violentos que podem ser consideradas de normais. Tem que haver causas, que necessariamente, conduzem a isto. Tem que existir instâncias e pessoas culpadas desta vergonha. O ambiente de casa também deve estar a ajudar imenso neste descalabro. A escola faz o que pode, mas os alunos são o espelho do que receberam em casa, do que vão vendo na televisão e na internet. Obviamente, que não quero ser injusto e ofender ninguém, mas os pais devem ser colocados à cabeça dos responsáveis por esta tragédia social. Porém, e essencialmente, tudo isto é bem revelador do desastre da falta de valores em que vivemos em toda a linha. E nesta crise, destaco o vazio de autoridade a que o ambiente geral condenou todas instâncias da educação.
5. Muitas vezes à sexta feira à noite gosto de descer à cidade e apreciar o ambiente que uma noite de fim de semana oferece. Nos locais da farra juvenil, são imensos os grupos de jovens com 12, 13 e 14 anos aos bandos, alguns bem cedo já apresentam sinais bem evidentes de consumo alcoólico. Pergunto-me tantas vezes, onde estão e como estarão os pais desta gente?
6. Não me admira nada que venham para aí dizerem que temos a melhor legislação do mundo sobre o consumo de álcool e que este está proibido a pessoas com menos de 18 anos. Em que planeta é que isto se aplica? - Outra hipocrisia de um país que não protege as pessoas e que recorre à banalidade de fazer leis só porque sim, mas não cria ao mesmo tempo mecanismos que permitam que as leis se apliquem convenientemente.
7. Outro dado prende-se com a banalização sexual. O ambiente geral favorece a perversão sexual, ridiculariza a virgindade, a fidelidade e desvaloriza a dimensão do respeito pela dignidade sexual de si próprio e do outro. Há uma certa perversão que se tornou normal e isso sim é uma enorme anormalidade.
8. É preciso despertar. Os dados são preocupantes. Nada é normal quando se trata de violência, porque a violência por si mesma é o que de mais anormal existe na relação entre as pessoas, ainda mais se se trata da relação amorosa entre casais que se predispõem à partilha do que são e têm no caminho que sonham para serem felizes. É preciso junto dos jovens reflectir, sensibilizar e prevenir para que esta tragédia social, que considera o anormal normal em determinadas ocasiões no âmbito da violência tenha fim à vista de uma vez por todas.
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