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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O diálogo é o alicerce da democracia

1. A democracia é impossível sem diálogo. Entre nós enfermamos bastante da falta de diálogo para que se possa saborear uma democracia mais abrangente e que contemple a vida de todos os cidadãos. Parece ser uma derrota e uma humilhação ouvir-se e ter em conta aqueles que são de outra cor partidária ou que pertençam a outras correntes que não aquela cor e corrente de pensamento onde estamos inseridos. O partido do poder que nos governa foge como o diabo da cruz dos partidos da oposição, porque sendo minoritários não têm legitimidade para serem escutados e o que pode vir daí para aprendermos deles... Pobre e pouco de acordo com os tempos novos em que vivemos.

2. Estamos muito mal habituados quanto a essa riqueza que o diálogo nos pode trazer. Muitas asneiras poderiam ser evitadas e menos dissabores para todos se a abertura para o diálogo de quem governa estivesse sempre presente. A reconstrução de uma sociedade requer esforço de todos. E todos devem ser considerados mediante aquilo que pensam e valorizadas as suas propostas. Um clima de «guerra aberta ou submersa» não nos leva a sítio nenhum. Melhor, leva sim aos atentados ecológicos, à acentuação da desigualdade e ao desbaratar do bem comum, gerando com isso mais injustiça e conflitualidade social.

3. Entre nós devíamos ter uma Igreja Católica mais consciente desta  prerrogativa do diálogo. Não existe, infelizmente. Há uma Igreja calada ou silenciada porque os poderes assim desejam. O Papa Francisco, submetendo-se às mais ignóbeis acusações interferiu claramente no conflito dramático em que mergulhou a Venezuela. Tem sofrido os mais diversos ataques, que vão de «comunista» para cima  e até muitos aproveitaram a dica para o definir como «bode expiatório» dos conflitos. No entanto, não deixa de manifestar o que deseja da Igreja da Venezuela, particularmente, dos bispos, que vivem na realidade, que devem acompanhar a população no sofrimento em condições desumanas, devem exigir responsabilidades, denunciar as armadilhas do «falso diálogo» e construir pontes.

4. Achei interessante este desejo do Papa Francisco, porque deve ser aplicado não só na Venezuela, mas em todo lado. Por exemplo, entre nós, nada tem sido dito sobre as misérias que o poder gera, nada sobre obras mal feitas, nada sobre a destruição de património, nada sobre o desbaratar de dinheiros em coisas que não são prioritárias, nada de pedir responsabilidades. Entre nós, estão à solta os políticos. Falam o que querem, pensam que têm terreno livre para enganar e que podem fazer tudo como muito bem entendem sem dialogar com ninguém porque se acham legitimados para tudo. Começa, felizmente, a emergir uma sociedade civil, que reclama, aponta caminhos e vai esperneando alguma coisa. Um sinal, que, esperemos, não esmoreça...
 
5. Este caminho não tem futuro. Esta democracia assim tem os dias contados. Hoje, seguindo o pensamento do Papa Francisco, cabe aos políticos, à sociedade civil e a todos os seus sectores sociais concretizar a acção da unidade e a estratégia do diálogo como caminho indivisível para vivermos um verdadeiro espírito democrático. Com esse espírito democrático não há envergonhados, não pode haver humilhados nem muito menos derrotados, porque levaram à prática qualquer medida que eventualmente tenha vindo de outro grupo, de outro partido e de outro sector social que não esteja afecto ao poder em vigor.
 
6. Parece que para alguns é mais fácil rotular ou então ofender-se quando alguém aponta outra luz e outro caminho, porque viu que este que se segue não é benéfico para todos, é injusto e atentatório da história. Tanta desgraça poderia ser evitada se essa abertura democrática tivesse estados na cabeça de quem governa. Uma sociedade democrática faz-se com todos e para todos. Enquanto durar a exclusão do diferente e enquanto as medidas continuarem a serem mais meios e formas para a discriminação, a paz social e o bem continuarão a ser só e apenas para alguns. Isso não é democracia. É um carnaval todo o ano.

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