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1. Foi exibido ontem, 15 de Fevereiro, o
documentário: «Colonia e Vilões», no Teatro Baltasar Dias no Funchal. Um
registo muito importante sobre a história do povoamento da Madeira. Ninguém
sabe a origem do «sistema de colonia na Madeira». Porém, no final do
documentário seguiu-se um debate sobre o mesmo. Fiquei perplexo com a tentativa
de explicação do historiador Alberto Vieira, que ensaia dizer que tendo em
conta a orografia da Madeira, a produção agrícola requer investimentos
avultados e para tal, consequentemente, só os ricos e grandes latifundiários é
que tinham condições para patrocinar tais investimentos. Sim, até pode ser
verdade, mas envolto numa injustiça tremenda e à conta de uma subsequente exploração
que roça a escravidão dos pobres «vilões madeirenses».
2. O documentário «Colonia e Vilões» realizado por Leonel
Brito entre 1976/77, o qual teve a antestreia a 16/05/1978 na Sociedade
Portuguesa de Autores, registando-se a particularidade de nunca ter sido
visualizado nos cinemas da Ilha da Madeira, local onde foi realizado. O
documentário ganhou uma Menção Honrosa no Festival de Cinema de Santarém.
Finalmente, chegou a um grande ecrã na Madeira. O documentário é uma
«verdadeira enciclopédia sobre a história da Madeira». Esta é uma leitura
interessante que devia fazer pensar todos nós, para que procuraremos sempre uma
luta militante contra todas as formas de opressão. As escolas deviam estar
atentas ao documentário, estudá-lo com os mais novos de forma muito séria. Nele
podemos encontrar a história natural da Madeira, a sua orografia, o povoamento,
a religião, a vida social, a cultura, a política, agricultura, a pesca, o
turismo, a indústria, os homens e as mulheres, os ricos, os pobres miseráveis,
o clero, os nobres e o povo domesticado pela religião e amordaçado pelas forças
políticas… O seu dever, seria obedecer com paciência e trabalhar de sol a sol
sem piar.
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3. Mas afinal o que foi a colonia? - A
definição da estrutura social e económica da Ilha da Madeira ficou traçada
desde os tempos do povoamento. As Ilhas da Madeira e Porto Santo, foram
divididas em três capitanias atribuídas a três capitães donatário, Bartolomeu
Dias, Tristão Vaz Teixeira e Gonçalves Zarco. Estes, por sua vez, dividiram as
terras entre os grandes senhores que as «arrendaram» aos colonos a troco da
divisão dos produtos da terra entre o colono e o seu senhor. Normalmente, a
produção era distribuída em partes iguais, mas não querendo dizer, que em
muitos casos seria para os senhorios a melhor parte.
Facebook: Madeira Quase Esquecida |
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4. Um sistema profundamente injusto. Se
quisermos alguma explicação para a sua origem, deve concentrar-se na louca distribuição
da riqueza que perpassa a história da Madeira. A exploração dos poderosos sobre
os mais fracos, que fazem depender a sua ganância desenfreada na miséria dos
pobres que produzem descaradamente. O povo paciente da Madeira revolta-se nos
episódios conhecidos como a Revolta da Farinha (1931) e a Revolta da Água na
Ponta de Sol (1962), tendo sido todas violentamente reprimidas pelas forças do
Estado Novo. A ditadura salazarista não olha o povo na miséria, antes pactua
com as elites no sentido de manter o camponês aprisionado à sua condição
histórica. A colonia, foi das coisas mais tenebrosas que a Madeira viveu e o
seu fim só veio em 1977. Este foi o maior grito de libertação que os
madeirenses realizaram. E como referiu magistralmente o Padre Martins Júnior no
debate, citando uma frase de um colono (se não me falha a memória, o sr.
Ferreira): «a terra é de Deus e o seu fruto é de quem trabalha». Foi este
espírito que permitiu uma luta pela libertação contra a opressão dos senhorios.
Foi seguramente uma espécie de «escravatura branca», que poucos perceberam existir,
pois foram necessário passar mais de 5 séculos para fazerem crer ao povo paciente
quanto estava a ser explorado indecentemente.
5. Nota final, o bispo Francisco Santana
que aparece em vários momentos no documentário pregando ao povo, revela
claramente que deve ter morrido sem perceber o que era o regime da colonia.
Pior ainda nunca se deve ter dado conta o que esse sistema representava de pobreza
miserável e sofrimento para o povo da Madeira. Um obrigado a quem teve a iniciativa
para que esta visualização fosse realizada no Funchal. Quem desejar ver o documentário pode abrir AQUI.
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