Escrever nas estrelas
1. Todos nós temos uma vida interior.
Uma pessoa faz-se com estas duas dimensões: a vida interior e a vida exterior.
A comunhão entre as duas realidades, também é um tema interessante. Mas não vou
tratar dele por hora. Agora interessa-me relevar que a vida interior tem três características
que são muito importantes para o nosso bem estar e felicidade: uma correcta
concepção de Deus, a harmonia psicológica e as circunstâncias do meio que nos
rodeia.
2. O transcendente tem uma influência
muito grande na nossa vida. Se a relação interior com essa dimensão não for bem
enquadrada e se não estiver bem definida, os prejuízos que daí possam advir
para o próprio e para os outros com quem convive, podem ser verdadeiros fardos
que levam à desgraça. Deus não pode ser uma entidade encarada com suprema
violência nem muito menos como um conjunto de regras morais que obrigam a
comportamentos mecanizados ou previamente programados, sem liberdade e com o
medo cerceador de vir a errar. Deus tem que ser um mistério inabarcável,
próximo e inacessível ao mesmo tempo. Deus é mistério de liberdade,
misericórdia, suma bondade, desafio estético e beleza, porque caso não seja
visto com estes atributos conduz ao sofrimento, ao medo e ao cerceamento da ousadia
da liberdade criativa. Aliás, que fique claro, fora destes parâmetros Deus não
existe.
3. Outro elemento para uma saudável vida
interior, é a harmonia psicológica. Quando tal não acontece, temos aquilo que
vamos presenciando todos os dias, violência generalizada. O ódio comanda vida,
mesmo que já se saiba que este é um veneno que mata quem se alimenta dele. A
paz exterior não está presente, porque ela secou na fonte, que é o interior de
cada pessoa. Assim, porque falha essa harmonia psicológica, as pessoas não se
suportam, não toleram as falhas, os insucessos e não sabem conviver com as
derrotas pessoais e com as dos outros. A falta de harmonia psicológica deriva
por sua vez de uma desequilibrada vida espiritual, onde se percebe que há
religiosidade distorcida, péssima concepção acerca da divindade, confusão entre
o bem e o mal, com a ajuda de que tudo é pecado, porque há um vigia castigador
em cada esquina. A desarmonia psicológica conduz à mania da perseguição que faz
desequilibrar totalmente as relações fraternais. Os outros tornam-se inimigos,
porque o amor secou. E chegados a esta fase pouco falta para o desespero e a consequente
desgraça do fim da existência neste mundo, que pode ser levado a cabo pelas
suas próprias mãos. A desarmonia psicológica conduz ao desgosto pela
existência, à fealdade de tudo, à incapacidade de fazer silêncio, à não
contemplação da natureza e à inutilidade do ser gente. O mundo é um lugar todo tenebroso,
feio e perigoso, que é preciso fugir dele para sempre.
3. Ambas as situações, quer a correcta
ou incorrecta relação com Deus, a harmonia ou desarmonia psicológica, leva-nos
às circunstâncias do meio que nos rodeia. O contexto familiar, social, político
e religioso, fazem e muito o que somos e ajudam a construirmos o que sentimos e
somos em cada momento da nossa vida. O ambiente que nos rodeia e as pessoas com
quem convivemos vão influenciar a ideia que temos sobre Deus, a forma como nos relacionamos
com o transcendente e vão sobremaneira influenciar o estado psicológico.
Precisamos de saber viver neste ambiente, a inteligência, a serenidade, a
honestidade não nos devem faltar quando temos que seleccionar o que vamos reter
daquilo que nos chega da família, do ambiente social, da mediação política e
das práticas religiosas onde estamos inseridos (se for o caso que não estejamos
inseridos nelas, podemos vê-las na acção dos outros). A realidade circundante é
muito importante para o que venhamos a sentir, que depois influenciará naquilo
que vamos viver pessoalmente e no convívio com os outros.
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