«Pão quente da Palavra» no domingo III
Tempo da Quaresma
Quem
é Jesus? - São Paulo responde assim: "pregamos Cristo crucificado,
escândalo para os Judeus e loucura para os Gentios, mas, para aqueles que são
chamados, tanto Judeus como Gregos, força de Deus e sabedoria de Deus"
(1Cor. 1, 23-24). Extraordinária esta formulação do Apóstolo dos Gentios. Jesus
como "escândalo" e como "loucura". Como encarar estes
atributos aplicados a Jesus, quando todos nós a maior parte das vezes
acreditamos e pregamos um Jesus longe da vida, muito das orações intimistas e
do comodismo da consciência?
A história da Igreja está muito marcada
por uma catequese acerca de Jesus totalmente desencarnado, apenas divino, sem
história e sem este mundo, onde nós habitamos. A catequese forjou um Jesus
pacato, muitas vezes somente tristonho e afeminado como se pode constatar
nalgumas pagelas e na iconografia que a história das confissões religiosas
cristãs edificou.
São
Paulo com a sua acutilância e a seu apurado zelo missionário, destrona essa
realidade e mostra que Jesus é o Cristo do alto da Cruz, que acolheu esse
destino para ser escândalo e loucura. Não esteve com ponderáveis tolos, quanto
às suas opções e destrona todo o pietismo patético para se apresentar
radicalmente a favor da transformação da vida e do mundo.
O
Evangelho deste domingo, mostra que, afinal, este Jesus, está bem dentro da
história do mundo e da vida. A purificação do Templo de Jerusalém é prova de
que estamos diante de um Cristo activo e bem empenhado na construção do mundo e
da História. Jesus não é apenas o reformador do Templo mas Aquele que o
substitui. Jesus é o Templo novo. A nova religião que convida à libertação e à
eternidade, é a religião Cristã. Desta feita não temos um Jesus inativo, pacato
ou submisso, mas um Jesus que intervém na História, para a transformar em
realidade libertadora para todos.
Para
nós seria mais fácil um Jesus apenas remetido à sua divindade, lá das alturas,
que legitimasse os poderes deste mundo e que autorizasse alguma igreja ser
patética com as excomunhões anacrónicas e com as condenações de alguns dos seus
membros, porque ousaram pensar de modo diferente do institucional.
Somos
levados a procurar diariamente a verdade sobre a nossa vida espiritual. Porque,
também diariamente somos confrontados com as raivas absurdas que nos
descontrolam o pensamento e as palavras. As teimosias nas nossas ideias fixas e
manias pessoais são frequentemente uma propensão que nos ataca e que requerem
uma dose elevada de limpeza ou de arrependimento.
Diante das brigas inúteis
entre vizinhos, colegas e companheiros de trabalho, o arrependimento deve estar
sempre presente para que a reconciliação da amizade seja também uma constante
na vida de cada pessoa e, sobretudo, se são pessoas que acreditam na pessoa de
Jesus. Com tudo isto, Jesus Cristo em nós será "escândalo e loucura"
para muitos. Porque a lógica de Jesus nada tem a ver com a lógica guerreira e
concorrencial que este nosso mundo apresenta, onde predomina a força dos
poderosos, a «economia assassina» e a produção de pobreza em massa. Por isso,
deixemos que o verdadeiro sinal da libertação se faça realidade no nosso
coração, para que a vida toda se torne o verdadeiro sacrário onde o amor de
Deus habita eternamente.
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