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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Jesus não era religioso (&)

Fazemos muitas coisas «religiosamente», como se fossem sagradas ou, por outras palavras, com a intensidade dos santos. Fazemos religiosamente a nossa contabilidade, visitamos religiosamente as nossas mães, vamos aos jogos de futebol dos filhos religiosamente, passeamos o cão religiosamente, confessamos os nossos pecados religiosamente e praticamos a nossa religião religiosamente – o que significa que fazemos as coisas que devemos fazer e que as fazemos continuamente. E fazemo-las muito bem. E fazemo-las mais frequentemente que qualquer outra pessoa. Na verdade, fazemo-las tão bem que começámos a acreditar que é o próprio ato de as fazermos que nos torna santos.
Ser-se justo, por outro lado, é fazer aquilo que é conforme a Deus: ser-se decente, comprometer-se com o que está acima e para além dos ornamentos da religião, lutar pela essência da religião que, a acreditarmos no que Jesus ensina, é claramente a aceitação sem reserva , o abraço sem medida e sem limites daquilo que não é abarcável.
Jesus mostra-nos que a atitude mais religiosa pode ser a amorosa aceitação daqueles que têm dificuldade em fazer o que é «religioso» e «certo», por muito socialmente correto e por muito respeitável que seja, por muito corretos que eles próprios gostassem de ser.
Temos sido «liberais». Tornamo-nos laxistas. Decaímos. Ou melhor: eles decaíram. Nós não. E, assim, a nova religião, que, na verdade, é apenas uma extensão da anterior, revestida de indignação e de gritos amargos anunciando a condenação, está a instalar-se. A forma de ser castigadora, autoritária, conservadora – na verdade, reacionária – é agora um lugar comum. Queremos penas de prisão agravadas para quem comete uma primeira infração. Queremos uma abordagem sem perdão – do género: «um terceiro crime, e serás preso e guardado para sempre» ou «deita-se fora a chave» – para os reincidentes que cometeram pequenos delitos, mais prejudiciais para si próprios que para os outros. Não estamos interessados em proteger o inocente; queremos matar os assassinos. Queremos os dissidentes silenciados. Queremos os não-conformistas excomungados. Queremos os rebeldes reduzidos a nada. Queremos lei e ordem.
Estamos tão concentrados na religião que esquecemos a retidão. Não conseguimos entender pessoas como Helen Prejeans, que acompanham os condenados às nossas cadeiras elétricas. Não temos paciência para advogados astutos que fazem apelos das sentenças de pessoas que os nossos jornais já condenaram. Deploramos os juízes que dão sentenças razoáveis a pessoas decentes que deram por si em situações indecentes. Duvidamos daqueles que se dão com pessoas de quem suspeitamos. Olhamos, algo perplexos, para todas aquelas pessoas que tratam amorosamente aqueles que nós ainda não conseguimos amar, porque continuamos a ser mais religiosos do que retos. Que me importa o comportamento de Jesus com os ladrões? Que me importa o comportamento de Jesus com os cobradores de impostos? Que me importa o comportamento de Jesus com as mulheres apanhadas em adultério? Na verdade, que me importa um Evangelho enigmaticamente cheio do inaceitável, do suspeito, do desonesto, e de gente fraca – os leprosos, os samaritanos e as mulheres?
Obviamente, não é que não haja lugar para a responsabilidade. O que não há, de facto, é lugar para a condenação dos outros, quando enfrentamos os nossos próprios pecados. O problema é que, simplesmente, já não há lugar para apedrejar, enquanto não formos suficientemente puros para o fazer.
Ser-se justo, por outro lado, é fazer aquilo que é conforme a Deus: ser-se decente, comprometer-se com o que está acima e para além dos ornamentos da religião, lutar pela essência da religião que, a acreditarmos no que Jesus ensina, é claramente a aceitação sem reserva , o abraço sem medida e sem limites daquilo que não é abarcável.
Jesus mostra-nos que a atitude mais religiosa pode ser a amorosa aceitação daqueles que têm dificuldade em fazer o que é «religioso» e «certo», por muito socialmente correto e por muito respeitável que seja, por muito corretos que eles próprios gostassem de ser.
O problema é que Jesus não era nem saduceu nem fariseu, não era um conservador nem um liberal. O facto é que Jesus era demasiado liberal até para os liberais. Jesus não deixava que a Lei se tornasse uma barreira entre Ele e a pessoa à sua frente. Jesus era um radical. Jesus amava. Jesus era um radical que amava.
Joan Chittister
In O sopro da vida interior, ed. Paulinas
(&) Título do autor do blogue...

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