Comentário à missa do próximo domingo
XVII Tempo Comum
Já ouvi por muitas
vezes pessoas interpretarem de forma errada esta passagem bíblica em Efésios 4,
2 "suportai-vos uns aos outros". Muitos interpretam a palavra
"suportar" como "tolerar" e chegam ao cúmulo de dizer:
" Não gosto de fulano mas suporto-o porque Deus manda!"Suportar é
algo que está muito além desta concepção. Significa sustentar, estar debaixo
de..., sofrer, etc. Creio que o exemplo de Cristo com a cruz às costas ilustra
bem e melhor define o que verdadeiramente significa, suportai-vos uns aos outros...
Se nos remetemos ao
Evangelho de Mateus, vamos encontrar uma alusão parecida com a de São Paulo,
feita por Jesus. "Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja
que lhe emprestes" (Mt 5.42). Nos tempos que correm este ensinamento tem
muito que se lhe diga. E pela quantidade de gente que encontramos que não é
capaz de ser fiel à palavra dada nem muito menos cumprir o que promete, estamos
bem arrumados com este ensinamento… Num tempo de tantos aldrabões como viver
isto? – Perguntamos.
Ora vejamos, tantas
vezes, ao sermos solicitados a ajudar certas pessoas necessitadas,
inclinamo-nos a perguntar: «São cristãos? São sérios? O que fazem no dia-a-dia?
Fumam cigarros? Passam os dias nos cafés? Vivem correctamente? Se não, por que
os haveríamos de ajudar»? Obviamente, que se descobre cada vez mais a
consciência de que se deve ajudar quem precisa e não quem merece. Senão… Há uma
velha alegoria judaica, mais ou menos neste teor: um dia Abraão estava sentado
à porta da tenda, como tinha por costume, esperando hospedar estranhos, quando
viu, caminhando na sua direcção, um homem de cem anos, todo curvado e amparado
no seu bordão, fatigado pelos anos e pela viagem.
Abraão recebeu-o
bondosamente, lavou-lhe os pés, fê-lo sentar-se e serviu-lhe a ceia. O ancião
comeu, entretanto, sem pedir a bênção de Deus nem lhe dar graças. Ao ser-lhe
perguntado por que não adorava o Deus do céu, o velho disse a Abraão que
adorava unicamente o fogo, e não conhecia outro deus. Diante desta resposta,
Abraão no seu zelo, ficou indignado a ponto de mandar embora o velho da sua
tenda, expondo-o às trevas, aos males e perigos da noite, sem protecção. Deus
chamou Abraão e perguntou-lhe onde estava o estrangeiro. Ao que o patriarca
respondeu: "Atirei-o para fora, pois não Te adora". Deus então
respondeu: "Eu tenho-o suportado por mais de cem anos, se bem que ele me
desonre, e tu não o pudeste suportar por uma noite, sendo que ele não te causou
nenhuma perturbação?" Tendo em conta isto, diz a história, Abraão chamou o
homem de volta, foi hospitaleiro com ele, e proporcionou-lhe sábias instruções.
Nos nossos dias onde a
fome assola algumas das famílias da nossa terra, porque o desemprego e a
sobrecarga de impostos faz-se sentir de forma cruel, torna-se imperioso que a
nossa reflexão se centre na dimensão da partilha. O milagre da multiplicação do
pão e do peixe, realizado por Jesus vem dizer isso mesmo, que cada um seja
capaz de pensar nos outros e se faz a descoberta do amor de Deus que se derrama
em abundância, deve sentir este apelo da partilha e da solidariedade com os
mais necessitados.
Os bens materiais que o
mundo produz chegariam para saciar a humanidade inteira se a ganância e a
propensão humana para acumular de forma tão desregrada não existisse. No fim
sobraria muito. O importante seria descobrirmos a presença de Deus em cada um,
nos que podem oferecer, porque sim, Deus dá com abundância, nos outros, os
necessitados, porque recolhem da amizade e da partilha os que descobriram essa
fartura de Deus que não se circunscreve ao egoísmo e à ganância.
Face a esta liturgia descobrimos
mais ainda que o mundo podia ser um lugar de felicidade se a humanidade se
concentrasse na verdadeira riqueza, que consiste na prática de valores, tudo o
resto viria por acréscimo. Enquanto a cegueira que vem do açambarcamento e do
acumular desmedido acontecerem vamos continuar a saber de discrepâncias quanto
ao bem-estar da humanidade e a fome, a nudez e o abandono de alguns serão
sempre o pior retrato que nos é dado contemplar.
José Luís Rodrigues
1 comentário:
Padre José Luis, Amigo e Irmão, no mundo não encontro nenhuma doutrina, discursos ou mesmo uma práxis que substitua a do Evangelho. Dar para Jesus é uma realização pessoal de cada homem e de cada mulher. Toda as opções que fazemos temos que pensar muito nos nossos irmãos e irmãs.Sejam opções politicas, económicas, sociais, eclesiais, ecológicas. O Outro está sp presente. Seja o Homem/Mulher, seja Familia, seja a Natureza (vegetal e animal) que são tb os nossos próximos. A fome grassa pq como diz, no seu lindo texto, o egoismo e a ganância triunfam. Parace que nascemos todos e todas para o dinheiro.´É bom tê-lo e saber aplicá-lo honestamente e equitativamente.Fortunas desmesuradas são uma ofensa à nossa dignidade de cidadãos. De que me serve este raly de hj quando há gente com fome e com frio; qual o interesse do futebol qdo os jogadores cairam na teia igual à dos poderosos com mansões, aviões particulares, carros e iates de luxo para além de transformarem as próprias mulheres em prostitutas de luxo. Este nosso conterrâneo, cujo nome omito pq é para mim um vómito dessa tal pobreza que depois se transforma na riqueza avarenta e inescrupulosa. Para ignorância de todos nós. Dizer que o futebol é o nosso conforto, animação. Para mim é uma alienação pior que a aquela que disse Karl Marx "que a religião era o ópio do povo" Nem vejo futebol.E de bancada ainda pior chego a arrotar. Praticar desporto, sim. Saudável. O pão que queremos é o repartido por todos e para todos. Tenho vergonha dos milhares de seres humanos que morrem à fome todos os dias. São 30 mil.Homens e mulheres; crianças e idosos. Esqueléticos sem assistência médica, água potável, moradia adequada, emprego e trabalho com direitos e deveres. Uma Naturesa nossa Mãe e não madrasta. È isso que Deus quer e está escrito nos seus livros sagrados pq é uma utopia concreta que se realiza diariamente conforme a nossa conversão e apego a uma nova Humanidade.Do pão eucaristico saltemos para o pão da rua.Isto é, uma Eucaristia mais alargada. Um verdadeiro agapé!
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