O padre e
poeta José Tolentino Mendonça, entrevistado na emissão desta sexta-feira do
programa Câmara Clara (RTP 2), afirmou que a poesia de Daniel Faria (1971-1999)
revela Deus e a humanidade.
«Daniel
Faria traz uma poesia ainda com o sopro divino e, ao mesmo tempo,
extraordinariamente humana, próxima do corpo, do desejo, da descoberta do
mundo, mas também do grande combate da fé e do conhecimento de si», sublinhou o
diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
O poeta
que morreu aos 28 anos, quando estava prestes a concluir o noviciado no
Mosteiro Beneditino de Singeverga, oferece à poesia, «de uma forma muito densa,
toda uma tradição e um património são raros na literatura» portuguesa.
As
palavras de Daniel Faria transmitem uma «aspiração espiritual que em outras
épocas foi muito marcante», instaurando uma novidade na poética atual, que, «de
certa forma, se confunde mais com o mundo, o real e o quotidiano».
«É uma das
aventuras poéticas mais radicais e luminosas que o século XX inscreveu na
literatura portuguesa», observou o padre Tolentino Mendonça, num apontamento
dedicado ao volume com a poesia reunida de Daniel Faria, recentemente lançado
pela Assírio & Alvim.
Rui Jorge
Martins
Um aperitivo...
Tenho Saudades do Calor ó Mãe
Tenho saudades do calor ó mãe que me penteias
Ó mãe que me cortas o cabelo — o meu cabelo
Adorna-te muito mais do que
os anéis
Dá-me um pouco do teu corpo como herança
Uma porção do teu
corpo glorioso — não o que já tenho —
O que em ti já contempla o que os
santos vêem nos céus
Dá-me o pão do céu porque morro
Faminto, morro à
míngua do alto
Tenho saudades dos caminhos quando me deixas
Em casa.
Padeço tanto
Penso tanto
Canto tão alto quando calculo os corpos
celestes
Ó infinita ó infinita mãe
Daniel Faria, in "Dos
Líquidos"
2 comentários:
Caro Senhor Padre José Luís Rodrigues,
Saúdo-o com vigor e entusiasmo.
Simpatizei desde logo com VRevma quando começou a agitar consciências nesta terra triste e doente, apesar de ainda hoje não me sentir inteiramente seguro que comungue de todo o alimento que VRevma distribui, desde logo pela net.
Esta minha simpatia, já se vê, não me impede de ser ousado.
Senhor Padre, a Igreja católica na Madeira não é muito diferente das igrejas católicas do resto do mundo. Ela necessita para se expandir, mais do que os mandamentos de Cristo, verdadeiramente da velhacaria humana, pois que, como já nos ensinaram fora da catequese, o catolicismo é apenas uma instituição enquanto o Cristianismo é sobretudo um Sentimento; e como todas as instituições criativas da natureza humana aquela necessita do espírito sagaz, competidor e interesseiro do homem para progredir, para deitar raízes e crescer. Ter de borla um templo, um equipamento caro ou uma esmola, ainda que à conta de um silêncio comprometido ou de uma cumplicidade vergonhosa é apenas uma contrapartida tida como justa e equilibrada para a Igreja-Instituição (ou para o católico fanático), não para um Cristão bem formado!
Dom Carrilho é um Bispo da Igreja. Dom Carrilho arrasta os males da Igreja na cauda se a tivesse. Não a tendo, arrasta, ainda sim, visivelmente o seu peso generoso. Pelo que nos é dado a avaliar pelos seus atos e omissões o espírito Cristão nele vegeta certamente carente, enquanto o corpo encontrou trato adequado.
Este Bispo tem ainda a singularidade de labutar de forma meiga e com expressão cândida, atributos que fazem ser quase impossível não simpatizar com o titular investido no cargo. À conta desta aparência enganadora segue também a igreja a ofuscar este, a distrair aquele e a arrebatar aqueloutro.
A diferença entre VRevma e a minha pessoa, modesto conhecedor da história, é que VRevma, enquanto Sacerdote Cristão, há-de acreditar e esperar convicto pela regeneração/renovação do género humano até ao último suspiro, enquanto o signatário já nada espera deste mundo desde a adolescência. VRevma foi ensinado na Fé ilimitada e na crença pia de um mundo melhor, o signatário acredita mais na bondade da próxima vida.
Não obstante estas convicções distintas, por favor continue trilhando o seu desígnio de apóstolo entre os homens graves e infernais desta terra, pois esse papel tem sempre de ser desempenhado por alguém no teatro da vida.
Que seja o Senhor!
Respeitosos cumprimentos de,
V.D´A.
Caro Vico:
Muito agradecido pelas generosas palavras que me enviou.
Amigo, tento cumprir o meu dever e sob um manto grande de limitações (pecados) procuro seguir Jesus Cristo e o Seu Evangelho. Não quero ser apenas mais um entre tantos, mas viver de acordo com o meu modo de ser tomando e dando um projecto que considero interessante, que se levado à prática podia proporcionar mais e melhor dignidade para todos. Se não chegar a ver essa mudança tanto faz, basta-me saber que cumprir o meu dever e que lutei por ideais... Abraço fraterno e tudo de bom para si.
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