10
horas da manhã de hoje. A celebração das ordenações sacerdotais, na Sé Catedral
do Funchal, começa precisamente a esta hora. Uma festa, quem assume a
responsabilidade de presidir à cerimónia, repete até à exaustão. Muito bem.
Também digo, uma festa para todos nós e mais um sinal de esperança para a nossa
sociedade que bem precisa de gente que em todos os quadrantes se entregue de
alma e corpo ao seu serviço. É o que esperamos de mais este quatro novos
sacerdotes hoje consagrados para o serviço de todos.
Mas,
vamos à mensagem que se proclamou e o que devia ficar para quem agora começa
esta tarefa de ser padre e para o povo (a Igreja) que beneficia de mais estes
colaboradores.
A
mensagem reveste-se, em primeiro lugar do regozijo, alegria que este momento
suscita em todos nós. Ideia repetida vezes sem conta.
Mais
adiante salta uma ideia interessante, mas que não é desenvolvida: «os novos
padres são enviados para o mundo para serem o rosto da misericórdia de Deus,
especialmente, para os mais necessitados», disse o bispo do Funchal. Interessante,
mas não tem desenvolvimento, nem muito menos reflecte sobre a realidade da
Igreja que se perde em burocracias estéreis e facilmente esta ideia que se proclama
sobre os telhados se converte em «verbum volant», (palavra levada pelo vento),
porque são infindáveis as incompreensões diante dos pobres, as exigências de
papéis e exigências face à recepção dos sacramentos. Nunca se aponta as
questões que são as mais prementes em cada momento histórico que estamos a
viver. Ou vergonha ou medo. Há algo aqui que não se entende.
Outra
coisa que se aponta sem reflexão nem uma réstia de esclarecimento com uma
leitura concreta, é esta ideia: «a crise da igreja é uma crise de fé». Será? –
Não terá antes que ver com questões mais do foro humano e todas as questões
sobre a hierarquia da Igreja Católica que continua a viver anacronicamente um
funcionalismo que pouco ou nada diz à mentalidade dos nossos dias. O que será
que afasta as pessoas da Igreja? - A meu ver todos os anacronismos e todas as
questões sobre a vida profundamente conservadoras que a Igreja Católica teima
em fazer valer para ninguém. Falta de fé não pode ser. A multidão de pessoas é
enorme, que procura caminhos alternativos nas seitas religiosas, na bruxaria,
nos movimentos religiosos de caris muçulmano e budista. São tantos os caminhos de
procura para se expressarem no caminho da fé. Por isso, o que está em crise é a humanidade da Igreja Católica e não o valor da fé que continua bem vincado no coração da humanidade. Mais uma vez se pretende desvias as atenções. Ou será que se considera falta de fé a tendência cada vez mais forte da humanidade actual que vai menosprezando a hierarquia católica e que cada vez vai escutando menos o que se prega, porque a linguagem está profundamente desenraizada e fora de tempo? Será?
A seguir
são feitos um conjunto de informações. Palavras, mais palavras… Actividades e
mais actividades em catadupa, que disfarçam as questões concretas sobre a
sociedade madeirense, mergulhada numa crise financeira sem precedentes, onde o
desemprego conduz famílias inteiras à fome, à emigração, à pobreza… Pelo meio,
o vazio de reflexão sobre uma sociedade enganada, mergulhada na mentira, nos
desvios quanto à responsabilidades, à caça de bruxas para justificar a
incompetência e a incúria. As cada vez mais duras investidas sobre o clero, apelidados
com epítetos de baixa categoria, as críticas humilhantes e inverdadeiras sobre
pessoas da sociedade em geral, propagadas por um Jornal «afilhado amado» desta
mesma Igreja Católica da Madeira, ficaram à porta da Igreja da Sé. Um degelo de
reflexão, de ideias novas que apontem caminhos novos para problemas velhos e
novos a consumirem os homens e as mulheres deste tempo que é o nosso tempo.
Nada de nada.
Por
fim, destaque-se que «o sacerdócio não é uma profissão». Não é de todo, mas
também é… O sacerdote «anuncia Jesus Cristo, luz da vida em abundância». É ele
o profeta, que levanta a sua voz em prol dos mais pobres, dos injustiçados e
está até à última gota de sangue ao lado dos fracos contra os poderosos deste
mundo que egoisticamente açambarcam tudo em detrimento do bem comum e da
justiça. É ele o denunciador e o anunciador, para ser verdadeira luz em nome do
«único» Mestre, Jesus Cristo. Dizia-se lá na cerimónia fazer tudo «sem medo». Que
assim seja, sem medo de nada nem de ninguém.
Bom,
eis tudo o que foi dita pela metade. Em singela reflexão neste espaço,
acrescenta-se ao que se diz e celebrou uma achega, para que o degelo não seja
tão estrondoso no mar de problemas em que andamos mergulhados. Uma tempestade
que não sabemos para que porto seguro será conduzida a barca de Jesus Cristo.
Que o Espírito Santo nos proteja cada vez mais nestas andanças e que o milagre
da pesca milagrosa se faça sentir, não apenas com padres, bispos e outros
hierarcas, mas com o pulsar da Igreja toda, que são todos os baptizados.
José Luís Rodrigues
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