Dada a oportunidade, não podia deixar de
salientar aqui a importância da denúncia do Papa Francisco sobre as
consequências do capitalismo selvagem. Um capitalismo selvagem que a humanidade
viveu como se fosse já o paraíso na terra. Pois, era o tempo dos máximos dos
máximos, ganhar pouco era miserabilismo, ter todos os bens materiais possíveis
era a felicidade, gozar a vida o quanto mais e melhor possível era a realização
pessoal mais adequada. Uma festa enorme carregada de ilusões que nos conduziu a
esta desgraça da crise.
A crise, onde se sentou no trono o
desemprego. Os mínimos dos mínimos é melhor que nada. Daí que se admire e se
exalte alguém que tem a ousadia de criar o mínimo, porque é sempre melhor que
nada.
Não é aceitável nem uma nem outra
mentalidade. É condenável a mentalidade do capitalismo que não olha a meios
para conseguir os fins, mesmo que para tal tenha que explorar ao máximo em
função dos lucros e do bem estar de meia dúzia de privilegiados. As pessoas e a
natureza, pouco ou nada contam e quando contam será para render ao máximo em
função do bem estar desses alguns. A outra mentalidade que está a emergir,
contenta-se com a exploração mesmo que a outro nível e teremos que aceitar que
um dos países intervencionados pela troika, como é o nosso caso, apresente o
maior índice de vendas de carros topo de gama no grupo dos países onde manda a
troika. Inaceitável.
A maioria tem que se contentar com os
mínimos, enquanto outra minoria mesmo que explore, deve ser exaltada, porque
cria algum emprego, vende alguma coisa (mesmo que sejam camisolas). Tudo ao
mínimo dos mínimos porque em tempos de miséria sempre é melhor ter alguma
coisita, quando há bem pouco tempo se achava que nenhuma família vivia com o
salário mínimo, agora já vive. Este volte face consoante as modas ou os contextos
sociais, políticos e económicos são inaceitáveis e revelam as várias faces do
mesmo capitalismo selvagem.
O Papa deixou duras críticas ao «capitalismo
selvagem» durante uma visita à casa «Dom de Maria», dirigida pelas religiosas
de Madre Teresa de Calcutá, que acolhe pessoas necessitadas, no Vaticano. Vejamos, «um capitalismo selvagem ensinou a
lógica do lucro a qualquer custo, de dar algo a fim de receber, da exploração
sem pensar nas pessoas ... e vemos os resultados na crise que estamos
enfrentando», disse o papa.
A visita, que decorreu na tarde de
terça-feira, visou assinalar o 25.º aniversário da entrega da gestão desta casa
de acolhimento a Madre Teresa por João Paulo II.
Neste âmbito o Papa Francisco elogiou a
hospitalidade «sem distinção de nacionalidade ou religião» que se vive na
instituição, pedindo que se recupere o «sentido do dom», da gratuidade e da
solidariedade.
Com olhos postos na tragédia do mundo, o
Papa Francisco, releva que «na fronteira entre Vaticano e Itália, esta casa é
um forte apelo a todos nós, à Igreja, à Cidade de Roma, a ser sempre mais
família, abertos ao acolhimento, à atenção e à fraternidade».
Como que desejando e propondo uma
alternativa ao capitalismo selvagem que conduziu à desgraça dos povos apresenta
o seguinte: «já a palavra 'dom' define a identidade desta casa – pois doa
acolhimento, apoio material e espiritual. Seus hóspedes, provenientes de todo o
mundo, também são um dom para esta Casa e para a Igreja: vocês nos dizem que
amar a Deus e ao próximo não é algo de abstrato, mas de profundamente concreto.
Vocês doam a possibilidade aos que aqui trabalham de servir Jesus em quem está
em dificuldade, em quem precisa de ajuda. Todos devemos recuperar o sentido do
dom, da gratuidade e da solidariedade. Um capitalismo selvagem ensinou a lógica
do lucro a todo custo, do dar para obter, da exploração sem olhar para as
pessoas.... e os resultados nós vemos na crise que estamos vivendo. A música
desta Casa é o amor».
Por fim, a última característica, se
qualifica como um dom «de Maria». Maria de Nazaré, fez da sua existência um incessante
e precioso dom a Deus. «Maria é um exemplo e um estímulo para aqueles que vivem
nesta Casa, e para todos nós, a viver a caridade para com o próximo não como
uma espécie de dever social, mas partindo do amor de Deus, da caridade de
Deus». Que o Papa Francisco seja uma inspiração para os líderes mundiais, para
que segundo a sua mensagem se entreguem à prática de políticas que defendam os
povos, as famílias a se reconstruírem com dignidade. Que em nenhum contexto
fiquemos satisfeitos com os mínimos dos mínimos, porque se assim for não
faltará muito para se ouvir louvores à pobreza e ao miserabilismo. Ambos
«filhos legítimos» do capitalismo selvagem em todos os tempos e contextos.
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