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domingo, 12 de maio de 2013

Mãe infusa

Para ajudar a celebrar Nossa Senhora de Fátima por estes dias... A incontornável e grande Natália Correia...

Ainda estão por dizer
as púdicas confidências
do tempo em que era possível
ouvir as hortênsias.

No quintal de incontinente
o maracujá enlanguescia
e pedra a pedra se reconstruía
a casa infinitamente.

Teu rosto ainda não vagueava
na noite fria do retrato.
Em que desmemoriada candeia
derramaste oh mãe o azeite intacto?

Dispunhas as jóias do inverno
para a festa cálida do verão.
Por certo alguma levaste
passando-a ao fisco da morte
para que uma pérola te assinalasse
no caso que o vento espalhasse
o pólen da tua mão.

Eis-te todavia sem ossos
mas mais do que nunca infusa
em teu ovular desvelo
e eu carnalmente intrusa
pressinto que para tocar-te
enfermo de longos cabelos.

Natália Correia, Poesia Completa, O Vinho e a Lira, 1966
Publicações Dom Quixote, 1999

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