Mesa da palavra
Comentário à Missa do próximo domingo
Domingo XII Tempo Comum
Boa
esta pergunta! Serve para reflectir e pensar o essencial da nossa fé cristã.
Todos sabem muito de Jesus e ao mesmo tempo ninguém sabe nada. Tudo o que se
possa dizer acerca Dele, fica sempre muito aquém daquilo que Ele é
verdadeiramente. Porque, São João da Cruz dá-nos o mote: «A razão disso é que
Ele está escondido, e tu não te escondes para O encontrar e sentir. Quem quiser
encontrar uma coisa escondida há-de penetrar escondido no lugar onde ela está
escondida; ao encontrá-la, fica tão escondido como ela». São muito poucos os
que conseguem. Será que terá razão o poeta António Ramos Rosa, quando diz, que
«a graça da salvação é para poucos»?
O conhecimento de Jesus, é sempre muito
pouco face à realidade que Ele é e provavelmente não nos foram dados sentidos suficientes
para abarcar tal conhecimento. Jesus é sempre um desafio. Uma meta que se vê ao
longe para a qual se corre, na esperança que um dia se chegue ao seu terminus e
aí sim, revelar-se-á em plenitude essa realidade. O próprio Jesus não nos desampara
e revela já o que Ele pode ser já: «Eu sou a luz do mundo, aquele que Me segue
não andará nas trevas, mas terá a luz da vida»(Jo 8,12). Este desafio serve
para «tomar a cruz todos os dias», mostra que no empenho da vida revelamos o
amor por Jesus e como estamos conscientes dos Seus ensinamentos. A vida por J.
Cristo, mostra-se no zelo do dever, na partilha fraterna, no coração aberto à
compaixão pelos outros, especialmente, os sem lugar e vez na sociedade. A vida
iluminada por Jesus Cristo está no sorriso da criança que se mostra disponível
para amar sem interesse, está nos braços imensos de homens e mulheres que
limpam e alimentam os incapacitados, está naquele que diz não ao roubo e à
infidelidade dos princípios e compromissos pessoais e sociais. Está na vida que
se transmite de todas as formas.
Afinal, "Quem Eu sou..." pode estar
em todas as facetas do mundo e da vida toda. Ora bem, para dar o salto de
cristãos amorfos e atrofiados pelo costumeiro ritualismo fica o seguinte
ensinamento: "Muitos seguem a Jesus até a distribuição do pão, mas poucos
até beberem o cálice da paixão" (Tomás de Kempis). Falta gente que tome,
corajosamente, ao modo de Jesus, o cálice da entrega na construção do mundo
para todos. E mais ainda nos ensina Pascal: «Cristo morreu de braços abertos,
para que nós não vivamos de braços cruzados». Pois, assim se comunga o que se diz nona densidade
do nome Jesus, para fazermos vida hoje em abundância com a esperança que haverá
um futuro que almejo ser de plenitude feliz para toda a eternidade. Eis a
grandeza de Jesus na pequenez que eu sou.
Muitos
preferiam que houvesse uma resposta clara e objectiva para esta pergunta.
Porém, aquilo que se sabe de mais claro é que Jesus continua a ser uma figura
inquietante e a certeza maior sobre a sua pessoa, pode ser, está envolto no
mais profundo mistério.
Nada
a lamentar sobre este aspecto. Ainda bem que as palavras, os pensamentos estão sempre
aquém de tudo aquilo que é verdadeiramente Jesus. O caminho da fé desvela-nos
um Jesus inesgotável, que, em nenhum momento, se circunscreve aos pensamentos
pessoais ou às mais sábias doutrinas humanas.
Jesus,
é um mistério, com cerca de 2000 anos. Diante deste nome continuam vivas as
perplexidades, os enigmas, os silêncios, os debates, os pensamentos e muitas,
muitas palavras sem fim.
Já
dissemos que a pessoa de Jesus, se reveste de uma imensidão que escapa a todo o
simplismo da vida e de todas as vidas. Não se confina aos dogmatismos, às
teorias, aos comodismos e aos fundamentalismos, que as várias confissões
religiosas geram, mediante a necessidade de configurarem um nome só, um modelo
único e uma verdade absoluta acerca de Jesus.
Mas,
é o Jesus da Ressurreição, da vida infinita e plena, que negará e evitará o
perigo do sectarismo, que explora exaustivamente as emoções humanas. Também é o
Jesus da Ressurreição que evita o perigo da falta de sentido para a vida
humana, porque responde de forma plena às inquietações do coração humano e
surge como possibilidade de salvação para todos os crentes.
Se
não fosse Jesus, tudo na nossa sociedade seria mais escuro e a multidão dos
desesperados seria incontável. Estas tentativas para banir Jesus do coração dos
homens, reduz-se a pura teimosia e a uma cegueira soberba que mais não é senão
vontade de protagonismo, fundamentalismo agnóstico e irresponsabilidade total
face aos valores que nos guiaram durante séculos.
Mas,
“medo de quê e de quem, se nada temos a perder? Honras, audiências,
popularidade, reconhecimento e homenagens, para que servem? Ah! Como é fugaz a
glória deste mundo que passa!… Cidadãos do Infinito havemos de ser, na alegria
e serenidade dos pobres que em Deus confiam. Influências, jogos de poder,
‘lobbies’, pressões, para quê, se a verdade não depende das estatísticas nem do
‘share’ das audiências, se o amor não se compra nem se vende, se a Igreja não
está a saldo?” (José Jacinto Farias, scj, Agência Ecclesia).
Importa
descobrir caminhos novos que conduzam à vida para todos. E na memória da Terra
Prometida – a Igreja comunidade da experiência da fé – somos chamados à procura
da felicidade que se encontra no Cristo vivo da História e da Ressurreição.
1 comentário:
Padre José Luís Rodrigues, Amigo e Irmão,é muito dificil falar de Jesus e,todavia, a mais simples palavra fala d'Ele com uma Beleza infindável e infinita. Dizia o teólogo protestante Karl Barth "quando falo de Deus é um homem que fala". Nada de muitas dissertações,tratados, discursos etc. um gesto simples é o suficiente. Tanto mais, que Ele falou mais aos pobres e aos simples que aos arrogantes e poderosos:escribas e doutores da lei Basta crer para dizer a PALAVRA!
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