Se fosse ainda pertencesse ao mundo dos
vivos faria hoje 100 anos (nasceu em Gouveia a 28 janeiro de 1916 e morreu em
Lisboa a 1 de março de 1996)
Guardo com muita estima muitos momentos
da obra de Virgílio Ferreira e retenho especialmente uma passagem de «Na Tua
Face»: «…reparei que pouco a pouco eu ia passando através de toda a sua face
enrugada e divisava através dela como de um vidro sujo a sua face antiga
inatingível que estava do lado de lá e não nela, no vidro. (…) Levantamo-nos e
de súbito eu vi, eu vi o rosto de Bárbara rejuvenescer, a face lisa de
esplendor e imprevistamente era aí que eu repousava, na tua face, na imagem
final do meu desassossego».
Perante esta riqueza que nos sossega as
dúvidas descobre-se uma passagem de Régis Debray: «(o Deus único), é uma ideia
de tal maneira forte que há um poder de síntese, um poder de explicação de tal
forma vivificante, dir-se-ia uma necessidade vital, que penso que Deus não nos
abandonará e que nós não abandonaremos Deus». Deve ter sido precisamente por
aqui que o autor de «Manhã Submersa» e de «Aparição», deve ter repousado com
alegria e felicidade. Pois estes temas são essenciais no seu pensamento, perpassam
toda a sua obra. Com o autor não devemos perder esta certeza: «O melhor de uma verdade é o que dela nunca se chega
a saber». E em relação ao trocadilho mais popular do mundo, «ver para crer», definiu o seu contrário, «crer para ver».
Fica esta invocação sobre um autor pelo qual se aprende a crer que há um sentido último para a existência e Virgílio Ferreira, há muito tempo que entrou na dimensão da plenitude desse sentido da vida. A procura da sua obra revela que o autor procurou magistralmente e incansavelmente o sentido da existência.
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