As lágrimas do presidente dos Estados
Unidos da América foram notícia. Por isso, são a notícia. Mas que não as
convertamos em pérolas arrancados do coração do mar. Nem muito menos estas
lágrimas fazem dormir as flores, sob o vento frio ao longo da costa dos Estados
Unidos, quer a costa que se estende para os lados do Pacífico quer a costa que
sobe pelo lado do Atlântico Sul passando pelo Golfo do México até ao gélido
Ártico.
Não foram poucos os autores que fizeram
os seus personagens chorarem nos penhascos de Half Dome ou nos penhascos de
Kalaupapa, no Havaí, onde passeavam em lágrimas. Estes penhascos continuam
áridos e inóspitos sob o céu ameaçador que cobre o mundo inteiro, onde a
floresta das armas cresce pujante, correspondendo cada vez mais à sede e fome insaciável
da ganância e do ódio que mata a sangue frio tantos inocentes.
O presidente chora. Os famosos também
choram. Sabem o que é a dor. Sabem o que é o sofrimento. Sabem que as armas
matam pessoas todos os dias neste mundo carregado de armas mortíferas… Sabem
que uma mãe e um pai com um filho morto nos braços experimentam um sofrimento
indescritível. Ninguém terá
dúvidas quanto a tudo isto.
O presidente dos Estados Unidos, Barack
Obama, sabe que no seu país as armas ressoam alto e têm semeado a morte contra
tantos inocentes. As lágrimas do presidente são uma admiração, porque anunciou
em lágrimas medidas, contornando a frequente vontade dominadora do Congresso
Norte americano que se opõe às medidas agora anunciadas para dificultar a venda
de armas. Merece por isso o nosso aplauso, porque concordamos com o presidente que
«não estamos aqui para discutir o último massacre, mas para tentar evitar o
próximo», disse com as lágrimas a escorrerem no rosto.
Porém, deve também fazer chorar este
presidente e os do mundo inteiro, não só quando nos seus países morrem
massacradas 20 crianças, mas também pelos milhares delas que morrem todos os
dias no Afeganistão, Paquistão, Iraque, Líbia, Palestina, Síria, entre tantos
outros países. Trata-se de encontrar medidas universais que ponham fim a todo o
género de violência.
Porque não podemos agora
aplaudir o presidente dos Estados Unidos que inteligentemente consegue
contornar o poder do Congresso para implementar quatro medidas contra o
comércio das armas no seu país, mas ao mesmo tempo o mesmo presidente, dá cobertura
a massacres pelo mundo fora, permitindo a venda de armas a grupos terroristas
sanguinários ou apoiando governantes sem escrúpulos que ordenam massacres
contra o seu próprio povo. Enquanto tal não acontecer, as lágrimas do
presidente Obama e de qualquer governante com responsabilidade em assuntos de
armas de qualquer país, converter-se-ão sempre em lágrimas de crocodilo.
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