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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O poder das lágrimas

As lágrimas do presidente dos Estados Unidos da América foram notícia. Por isso, são a notícia. Mas que não as convertamos em pérolas arrancados do coração do mar. Nem muito menos estas lágrimas fazem dormir as flores, sob o vento frio ao longo da costa dos Estados Unidos, quer a costa que se estende para os lados do Pacífico quer a costa que sobe pelo lado do Atlântico Sul passando pelo Golfo do México até ao gélido Ártico.
Não foram poucos os autores que fizeram os seus personagens chorarem nos penhascos de Half Dome ou nos penhascos de Kalaupapa, no Havaí, onde passeavam em lágrimas. Estes penhascos continuam áridos e inóspitos sob o céu ameaçador que cobre o mundo inteiro, onde a floresta das armas cresce pujante, correspondendo cada vez mais à sede e fome insaciável da ganância e do ódio que mata a sangue frio tantos inocentes.   
O presidente chora. Os famosos também choram. Sabem o que é a dor. Sabem o que é o sofrimento. Sabem que as armas matam pessoas todos os dias neste mundo carregado de armas mortíferas… Sabem que uma mãe e um pai com um filho morto nos braços experimentam um sofrimento indescritível. Ninguém terá dúvidas quanto a tudo isto.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sabe que no seu país as armas ressoam alto e têm semeado a morte contra tantos inocentes. As lágrimas do presidente são uma admiração, porque anunciou em lágrimas medidas, contornando a frequente vontade dominadora do Congresso Norte americano que se opõe às medidas agora anunciadas para dificultar a venda de armas. Merece por isso o nosso aplauso, porque concordamos com o presidente que «não estamos aqui para discutir o último massacre, mas para tentar evitar o próximo», disse com as lágrimas a escorrerem no rosto.
Porém, deve também fazer chorar este presidente e os do mundo inteiro, não só quando nos seus países morrem massacradas 20 crianças, mas também pelos milhares delas que morrem todos os dias no Afeganistão, Paquistão, Iraque, Líbia, Palestina, Síria, entre tantos outros países. Trata-se de encontrar medidas universais que ponham fim a todo o género de violência.
Porque não podemos agora aplaudir o presidente dos Estados Unidos que inteligentemente consegue contornar o poder do Congresso para implementar quatro medidas contra o comércio das armas no seu país, mas ao mesmo tempo o mesmo presidente, dá cobertura a massacres pelo mundo fora, permitindo a venda de armas a grupos terroristas sanguinários ou apoiando governantes sem escrúpulos que ordenam massacres contra o seu próprio povo. Enquanto tal não acontecer, as lágrimas do presidente Obama e de qualquer governante com responsabilidade em assuntos de armas de qualquer país, converter-se-ão sempre em lágrimas de crocodilo.

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