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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O Pai-nosso de David Bowie

Nota do autor do blogue: Está dito e muito bem dita nesta reflexão que nos põe a pensar o essencial. Mais ainda se nos confrontarmos com a pouca sensibilidade cristã que quotidianamente nos assiste. Não bastam beijos, abraços e apertos de mão dentro das igrejas, é preciso extravasar as portas do coração no meio do mundo e praticar tais gestos todos os dias diante da "Eucaristia" do encontro de uns com os outros, sem que se faça qualquer sombra de acessão de pessoas. É isso que agrada a Deus e agradará de certeza o mundo e contribuirá para a beleza da vida aqui e agora. Mais um contributo acompanhado de alguma música de David Bowie. ABRIR AQUI
É preciso ter grandeza de coração para cultivar a sabedoria da misericórdia e distinguir o pecado e o pecador.
Nem todos gostaram que o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura, homem de muita espiritualidade, lembrasse com apreço David Bowie, falecido no dia 11 do mês corrente.
Os medíocres têm a tentação de julgar que tudo é medíocre. E pior ainda se forem cristãos. Para esses críticos azedos, eles, o célebre cantor está "merecidamente" no inferno por conta da sua vida afastada de Deus.
Não adianta dizer-lhes que não nos cabe julgar, e menos ainda condenar, quem quer que seja. Para os crentes, só Deus é quem julga. Podemos julgar atos, mas sempre fraternalmente; nunca julgamos as pessoas que os praticam.
A sabedoria da misericórdia recomenda-nos que compreendamos, uma vez por todas, a diferença entre criticar um ato e julgar uma pessoa. Os cristãos detestam o pecado, mas nunca o pecador.
Quero ficar com a memória agradecida a David Bowie quando genufletiu, no estádio de Wembley, em 1992, na homenagem a Freddy Mercury e rezou comovido o Pai-nosso.
A propósito: nem todos os seguidores do perfil do cardeal gostaram da menção. Vários declararam que o cantor estava “merecidamente” no inferno por conta de sua vida afastada de Deus. A um cristão, no entanto, não cabe julgar (e muito menos condenar) ninguém: só Deus julga as pessoas. Nós só podemos julgar atos: se alguém praticou atos questionáveis ou abertamente criticáveis, são esses atos que podem (e até devem) ser questionados ou criticados, desde que fraternalmente; mas nunca, nunca podemos julgar a pessoa como tal por tê-los praticado. Compreender essa diferença entre julgar um ato e julgar uma pessoa é crucial para o verdadeiro cristão, que sempre rejeita o pecado, mas nunca rejeita o pecador. Ao pecador (e ao virtuoso) cabem as nossas orações, a nossa misericórdia e o nosso gesto de confiá-lo às mãos do Pai, o único que julga pessoas – e as perdoa, bastando que elas lhe peçam sincero perdão.
Portanto, como bem escreveu o cardeal Ravasi, “may God’s love be with you“, David Bowie! Descansa em paz – e perdoa a nós todos que, dizendo-nos cristãos, agimos tantas vezes negando o amor cristão com a nossa herética falta de misericórdia.
Pe. Rui Osório

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