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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Um mundo cada vez mais perigoso

Esta manhã fomos confrontados com as declarações graves do ex-Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), António Guterres. O mais prestigiados português da atualidade, afirmou que há «sérios riscos» do sistema europeu de asilo e do espaço Schengen «colapsarem» porque há «cada vez mais» países a recusarem entrada de refugiados. Assegurou que «No momento em que os europeus precisavam de se unir, infelizmente continuam a desunir-se, o que é péssimo para os refugiados», sustentou no debate «Estudo de Caso: A tragédia dos refugiados e a resposta internacional», nesta segunda-feira à noite na Fundação de Serralves, no Porto.
O ex-primeiro-ministro português frisou que «as coisas em vez de estarem a melhorar estão a piorar», lembrando que o drama dos refugiados é uma «tragédia» e um «mau sintoma» da situação atual de um mundo «cada vez mais perigoso». O Papa Francisco tinha advertido da seguinte forma: «É o mistério do mal que ameaça também a nossa vida e que requer de nossa parte vigilância e atenção para que não prevaleça» (Angelus, 4 janeiro de 2016).
Precisamente, perante esta denúncia grave sobre a situação do mundo hoje, estamos também a ser confrontados com a notícia que a Dinamarca seguramente vai aprovar hoje uma lei contra os refugiados, eufemisticamente chamada de «Nova lei de asilo». Esta lei prevê entre várias medidas a confiscação de valores aos migrantes, que segundo vários especialistas viola várias convenções internacionais e faz remontar às leis de espoliação nazis contra os judeus que vigoraram na Europa durante o período tenebroso das ditaduras nazis que assolaram a Europa durante o século XX. Além da espoliação de valores a lei prevê a perda de direitos sociais e disposições que travam a obtenção de autorização de residência e a unificação familiar.   
A reforma, apresentada em Dezembro, foi proposta pelo partido anti-imigração Partido do Povo Dinamarquês, aliado do governo minoritário de Lars Lokke Rasmussen, e, graças a um acordo com outros partidos, tem praticamente assegurada uma maioria no parlamento.
É deste mundo perigoso que nos fala António Guterres. Não pode ser assim. A loucura dos interesses materiais e o medo não podem prevalecer perante o valor da vida humana, a dignidade e o direito de ser gente em qualquer parte do mundo.
Nós, cidadãos devemos indignar-nos sobremaneira e procurar todas as formas de denúncia, pressão e sensibilização das autoridades europeias para que tomem medidas corajosas para minorar este drama. 
Não vejo diferença nenhuma quando contemplo hoje os barcos apinhados de gente em relação aos vagões dos nazis que na segunda guerra mundial transportavam os judeus em condições miseráveis para os campos da concentração da morte. Parece que a vida humana, apesar dos avanços tão solenes e sofisticados, pouco ou nada vale para a humanidade hoje. Isso é triste, muito triste.

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