Católico não praticante, é uma expressão muito
comum na linguagem de muita gente. Duvido que muitos saibam verdadeiramente o
seu sentido. É moda dizer-se o que toda a gente diz. Porém, não é raro ver de
muitos destes que se dizem católicos não praticantes andarem com velas na mão
nas procissões, pagarem promessas e calcorrearem Igrejas a ver o self-service
religioso mais bonito, barato e pouco ligado ao compromisso com a vida. Por
isso, ouvirmos gente deste teor a considerar-se católico não praticante dá
vontade de rir e são de uma incongruência atroz.
Noutro domínio considero mais interessante ouvir
uma expressão mais inteligente, embora curiosa: «creio, mas não pratico!». Mas
hoje parece ser a mais comum e enforma muitos ambientes das nossas sociedades.
Não é possível crer sem praticar como não é possível ser católico sem praticar.
E já agora só para vermos como se pode ter uma posição de grande elevação
perante as coisas do acreditar, vale a pena citar aqui o escritor moçambicano Mia
Couto, que estes dias andou pela Madeira e deixa-nos uma entrevista maravilhosa
no JM: «Deus
é a relação que mantenho com a própria vida. Nunca senti necessidade de venerar
uma entidade, de rezar. Eu rezo quando conto as minhas histórias. Quando amo. E
se existir esse Deus todo poderoso, sei que ele vai aceitar-me assim». Quem pode
ousar dizer que não estamos perante um verdadeiro crente praticante?
A modalidade não praticante foi criada
para tornar confortável algo que deveria exigir muito de quem crê e compromisso
com a instituição que por tradição nos inseriram. Por isso, essa grande
multidão, dos católicos não praticantes desejavam uma Igreja Católica mais ou
menos como uma organização puramente mundana, sem valores morais, aceitando
todas as loucuras relacionadas com a vida, particularmente, a banalidade da sexualidade
e que os seus membros ditos por eles de praticantes, estivessem mais remetidos às
sacristias e menos envolvidos na luta contra as injustiças.
O ser ganha consistência na ação. Ser
católico não praticante é tão incoerente como ser outras coisas na vida e dizer
que está fora delas: desportista não praticante; militante de um partido não
praticante; escuteiro não praticante; vegetariano não praticante; esposo/esposa
não praticante; apaixonando não praticante; devoto não praticante; amigo não
praticante; sem abrigo não praticante; doido ou palerma não praticante; entre
tantas coisas que esta vida tem e que nos obriga a sermos ou não sermos. Eis a
questão…
Por isso mesmo amigos, quando se diz que a
Igreja perde fiéis, estamos enganados. Não, ela perde infiéis e ainda bem. Nada
mais normal sair de uma realidade com a qual não nos comprometemos. Quem quer
ser fiel permanece e não inventa rótulos para se justificar. Ou somos ou não
somos. Não apenas no âmbito da religião, mas em todas as coisas da nossa vida.
Os mornos, Deus vomita-os, como ensina o Apocalipse.
Fazer parte de uma religião não é porque fica
bonito. As modas passam com o tempo e com as pessoas. Fazer parte da Igreja
Católica deve servir para descobrir a sua riqueza de mensagem e procurar ser
militante, com sucessos e insucessos, com virtudes e falhas, na santidade e no
pecado, mas sempre viver com alma o compromisso do amor.
1 comentário:
Caros amigos. Sou ex seminarista e a procura da fe sempre me saiu furada. Nao creio em Deus. Viajei muito e o mundo de fartura e miseria de verdade e mentira do bom e do mau nao sao compativeis com o Deus todo poderoso que me disseram existir. No entanto quando estou em apertos, rezo e tenho que admitir que isso me da forca e novo alento. Uma contradicao, nao e?
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