Como já sabem este é o título, aliás, muito
bonito, da Exortação Apostólica do Papa Francisco, que resulta do Sínodo sobre
a família. As reações são o mais variado possível. Há posições totalmente a
favor da mensagem do Papa, vindas de todos os quadrantes da Igreja Católica.
Outras moderadas, nas quais me incluo, porque considero que a Exortação abre
caminhos e portas para que a Igreja seja sempre de inclusão e não de exclusão,
mas no seu todo é um texto monótono e fastidioso de se ler. Não sei como é que as
famílias irão pegar nele…
Adiante. Há posições totalmente contra, uma
grande parte da hierarquia, os ditos da ala conservadora, é intransigente na
defesa de uma doutrina fechada sobre a família, mesmo que parada no tempo e
inadaptadas às problemáticas da família hoje, que sofre mudanças todos os dias
e que se apresentam tão distintos nos mais diversos contextos da vida deste
mundo.
Mas, têm surgidos posições muito
críticas que me parecem interessantes. Ainda não tinha tido contacto com
nenhuma posição de nenhuma mulher sobre este texto.
Aqui está uma entrevista curiosa e interessante
(imperdível) de uma teóloga, Ivone Gebara, onde traça uma visão crítica sobre
as várias nuances da Exortação do Papa Francisco sobre a família. Muito
interessante a sua visão e coloca em ordem vários assuntos sobre a família,
salientando que a grande novidade de facto radica precisamente nas portas que o
documento parece entreabrir com a ideia de que é preciso agir «com misericórdia
e caridade» com todas as situações que a família apresenta.
Temo que esta Exortação Apostólica seja
mais um documento papal com o mesmo destino de tantos outros que vieram,
venderam, geraram boas receitas, deram que falar, mas passado o efeito, estão
nas prateleiras a colher pó.
Destaco umas frases que achei
interessantes e desafiadoras de Ivone Gebara:
1. Questões como a pobreza, a falta de emprego, de condições de moradia
e saúde, a violência familiar, a emigração massiva que tornam difícil a vida
familiar são abordadas muitas vezes em meio a um aparato bíblico, teológico e
citações de documentos eclesiásticos. Tal procedimento, longe de esclarecer,
obscurece a problemática e não lhe dá o devido valor no contexto atual de nossa
história. O texto cheio de citações que justificam posturas tradicionais da
hierarquia católica não permite que os leitores tenham uma visão mais integral
das questões e até de possíveis novidades abordadas no Sínodo.
2. Por isso é preciso que cada comunidade cristã escreva seus textos,
suas diretivas, seus objetivos presentes... É preciso deslocar o magistério
para o povo e permitir que escrevam suas cartas sobre e como suas vidas estão
sendo vividas. O conhecimento universal ou universalizante apesar de sua
importância nem sempre ajuda os pequenos grupos a crescerem por dentro e por
fora. É certo que num mundo globalizado necessitamos de algumas análises
globais, mas necessitamos, sobretudo, aprender desde o local, a fazer análises
a partir de nossas próprias vivências, a criar a tradição de pensar nossa vida
valorizando nossa história e nosso saber.
3. Essa plasticidade de imagens e símbolos reflete bem
a efervescência e mistura da vida, essa mobilidade intensa da diversidade e da
diferença que nos constitui. Por isso, somos convidados a amar o próximo, o
caído na estrada, o malcheiroso, o diferente, e não só aquele ou aquela que
pensa igual ou gosta das mesmas coisas. Talvez devêssemos tentar ser mais
artistas, inventores de nós mesmos, poetas capazes de brincar com as palavras,
de dividir pães, peixes e frutos na renovada dança de cada dia. Sair da rigidez
do mesmo, das estruturas prefixadas dos documentos, das palavras de ordem e das
teses magistrais... Sair dos conselhos em vista da perfeição desconhecida ou
imaginada... Perceber que há mais bondade do que imaginamos e muita, muita
beleza que não pode ser contida nos odres velhos de nossas teologias.
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