A
nossa fé afirma que o Verbo ilumina cada homem (cada pessoa em qualquer
circunstância do mundo e da vida) que vem a este mundo e não apenas os
católicos baptizados. Mais afirmamos todos que o Espírito Santo enche toda a
terra e move os corações de todas as pessoas na direcção do bem, da verdade e
do amor. Estas são expressões de todas as religiões verdadeiras e sinais da
obra de Deus na história.
Se
esta não for a base comum para o diálogo aberto, sincero e fraterno o que
reinará na Igreja será o fundamentalismo que revela espírito de seita e
decadência espiritual. Mais se dirá, então, que todos cairemos também num
relativismo religioso, e invés de subirmos o monte da transfiguração para a
unidade e a comunhão, desceremos ao fundo da vala da miséria da divisão.
O
que mais surpreende nas Sagradas Escrituras, é que para a fé não é o ateísmo o
mais perigoso, mas o medo e a falta de coragem.
O
medo de tomar medidas corajosas que venham dar resposta aos desafios colocados
à Igreja, continua a ser muito grande. Não que quer medo do pensamento da
humanidade de hoje. Os cristãos cresceram na fé e estão muito mais esclarecidos
quanto às questões religiosas. Os homens de hoje autonomizaram-se quanto à fé e
à religião, exigem mais qualidade nas celebrações e intervêm na vida da Igreja
com responsabilidade e sinceridade. Por isso, sonham com uma Igreja mais
fraterna, onde a conversão não seja só para os leigos mas para todos. No fundo,
não serve de nada uma Igreja de cristãos pobres e ignorantes. Não se pode temer
a democracia e as liberdades modernas.
O teólogo e escritor checo Tomás Halík, por
estes dias na sua estadia em Portugal para proferir uma conferência, o
«Regresso de Deus» e apresentar o seu mais recente livro («Quero que tu sejas -
Podemos acreditar no Deus do amor?»), defendeu o seguinte: «Penso que a
principal diferença entre as pessoas hoje não é entre crentes e os que se dizem
não-crentes. Julgo que a principal distinção é entre os que ‘habitam’ e os que
‘procuram’».
Mais
ainda se destaca que perante tanto que se vai perdendo, poderá ajudar a que não
nos tornemos derrotistas nem que avancemos pela vereda do mais cruel
pessimismo, escutemos com seriedade e serenidade: «Às vezes, a fé tradicional
está a morrer, mas depois da morte deve vir a ressurreição. A verdadeira fé
cristã é a fé da ressurreição, que passou por este momento da morte, da
não-crença, da dúvida». É isso mesmo, o regresso de Deus pela porta segura e
certa.
Sem comentários:
Enviar um comentário