Em boa hora visitei um dia a Feira do
Livro do Funchal 2016. Uma oportunidade para me deixar surpreender. E que
surpresa a minha ao me ver perante o livro: «As Bulas de Criação da Diocese do
Funchal». A minha alma ficou parva. Um livro desta envergadura e não se lê o
nome «Diocese do Funchal» como referência actual. Logo na capa está em
destaque: «Região Autónoma da Madeira». Uma nota episcopal, nicles. Nem muito
menos um soberano nihil obstat que
tenha vindo do antiste. Dá a ideia que este livro/documento foi publicado à socapa, à reveria. Se for gostei da irreverência e de ler um livro apócrifo dos tempos modernos.
Não desistimos, procuramos em todas as
páginas a ver se há algo diocesano. Nada. A contra capa anuncia «Por ocasião
dos 500 anos da Diocese do Funchal (1514-2014). No canto esquerdo em baixo os emblemas
da Região Autónoma da Madeira;
Secreataria Regional da Economia, Turismo e Cultura (SRETC) e Direção Regional
de Cultura (DRC). Diocese do Funchal está como Braga que seguramente da Madeira não se
avista pelo canudo. Visto que nada se vislumbra das entidades que comandam a
Diocese do Funchal hoje, perguntamos: como pode ser possível sair uma obra destas, a
tradução das bulas que erigiram tão distinta instituição há 502 anos e nada se
disse, não se apoiou, não se fez um lançamento condigno e muito menos fez parte
do chavascal de tanta coisa inútil que foi preenchendo os diversos eventos da
celebração dos 500 anos em 2014… Aqui há gato.
Depois de andar um bocado nestas divagações, foi a minha pessoa ler
com a paciência de Job aquelas ilustres Bulas traduzidas magistralmente pelo Rev.
Pe Orlando Moisés de Freitas Morna. Nada de especial quanto ao conteúdo. Porém,
é um documento histórico valioso e carrega o peso de 500 anos, cuja publicação,
diga-se de passagem em livro encadernado de forma excelente e com fotos d o Papa
Leão X e de todos os bispos que passaram pela Diocese do Funchal até ao actual
D. António Cavaco Carrilho. Não é de somenos esta iniciativa. Se naõ nos escapa
a sensibilidade, provoca-nos um certo arrepio à medida que fazemos a leitura se
pensarmos que lemos um texto com esta antiguidade e que por causa dele podemos
nós hoje contemplar toda a riqueza patrimonial pertencente à nossa Diocese e
fazer parte de uma realidade que foi pensada e lavrada pelo crivo da palavra há
500 anos.
A meu ver este é o elemento mais
interessante da celebração dos 500 anos da Diocese do Funchal. Por razões que
só as altas instâncias da Diocese e o Espírito Santo saberão (obviamente, que o
Padre Morna, o tradutor, também saberá), não consta nada de oficial, nem o imprimatur nem o nihil obstat nem uma referência nem uma nota nem, nem, nem… O que
se passou?
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