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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

A minha Festa

Comensal Divino
Obrigado amigo Donato Paulo Vares Macedo...
Falar da minha Festa é sobretudo um exercício de recuo no tempo. À memória olfactiva e dos sentidos de coração cheio, pleno de alegria inocente próprio das infâncias felizes. Desta sorte retenho sobretudo a alegria e o Amor, sobretudo o Amor vivido em família e nas vivências da Fé naquele tempo de Advento que precede a Festa do Nascimento do Menino-Jesus.
Lembro-me de muito novo ir às Missas do Parto, sobretudo à capela da então denominada Escola Salesiana de Artes e Ofícios (onde era aluno) e à Igreja do Socorro. Na escola haviam festejos, música, cerimónias e autos de Natal feitos pelos alunos. Muitos de nós - ex-alunos - conservam estas deliciosas memórias emolduradas no canto dourado do nosso coração.
Tal como hoje as ruas engalanavam-se de gambiarras e dentro de casa, saíam dos caixotes os pastores a sagrada família, os reis magos, os anjos e outros figurantes de barro que compunham a nossa lapinha com papel que nós pintávamos no terraço nas semanas anteriores. Com todos estes, extraíam-se os pós de cores e brilhantes polvilhados no escuro do papel pintado, que era moldado debaixo duma estrutura de velhas socas pregadas em caixas de madeira e outros tabuados, que iam dando forma ao relevo que se pretendia recriar. As searas iam guarnecendo os limites da sagrada recriação numa alusão ao pão nosso de cada dia, assim como as frutas, os perinhos do Vale Formoso que íamos comprar à Camacha. Por fim o alegra-campo emprestava o verde fresco em torno da parte superior do nosso presépio que subia pela parede de pedra até quase ao tecto. Nalguns anos chegava mesmo ao tecto.
A gruta do nascimento era naturalmente o centro do presépio, onde estava a sagrada-família. 
Enquanto criança o Pai Natal era uma figura incontornável no meu imaginário e de quase todas as crianças. Adorava sempre que meu pai parava o carro à noite em frente da "Estilográfica" para ver o velhote de vermelho e barba branca dançante rodeado de brinquedos e pistas de comboios irrequietos, tal como o espírito dos petizes seduzidos de olhos petrificados na montra.
Mas, meto-me dentro da máquina do tempo e regresso ao presente, ainda com uma criança dentro de mim, como acredito que todos tenhamos. Revejo com alegria um regresso em força das nossas tradições da fé natalícia, como são o caso das Missas do Parto enquanto elemento distintivo dos ritos madeirenses de Natal, tão acarinhados por novos e menos jovens. É certo de que eu não sou sequer muito praticante deste rito da época, mas é indubitável que move muita gente, num ritmo onde o pagão e o espiritual estão presentes, mas sobretudo o convívio e a alegria. Aliás, é um palco muito aproveitado por políticos locais para marcarem presença e serem vistos, ainda que ao longo do ano, nunca pisem um templo, tal como eu.
Sim, o Natal é um momento alto do consumo, dos presentes. Tal como outros momentos festivos do nosso calendário.
Todavia a confraternização e a alegria, são valores de proximidade entre todos que importa relevar a que a espiritualidade natalícia nos impele.

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