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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

A vida sem dignidade não é vida

Pão quente da Palavra para este domingo VI Tempo Comum
Este domingo 6º do tempo comum, o último antes de iniciarmos o tempo da Quaresma, fala-nos de Deus, cuja substância é o amor, a bondade, a misericórdia e a ternura. Não há outra forma de conceber a existência de Deus senão com estes valores que estão claramente disponíveis para o serviço da humanidade inteira. O coração de Deus é imenso. A partir de todas as formas e em todas as ocasiões procura «abraçar» para integrar todos os homens e mulheres dentro da comunidade dos filhos amados de Deus. Não há exclusão no coração de Deus, por isso, pressupõe-se que não aceita que ninguém em seu nome faça vingar sistemas de discriminação ou exclusão. Quando aqueles que rezam, meditam e apregoam esta mensagem acerca de Deus, mas depois inventam normas e regras que excluem ou promovem o narcisismo exclusivista, pecam contra o mundo e contra a riqueza multifacetada da acção do Espírito Santo.   
São Paulo, aponta o caminho, Cristo a todos quer salvar, tenham a cor que tiverem. Tenham a doença ou a mazela que tiverem. Não importa. Basta que cada coração esteja cheio de amor e aberto ao acolhimento do outro de forma desinteressada. Esta é a religião dos irmãos, porque todos filhos de um Pai/Mãe comum. Por isso, dói saber-se que muitas manifestações de racismo e xenofobia ainda fazem parte das nossas sociedades. Esta é a lepra dos nossos tempos. Jesus demonstra claramente que não quer ninguém no chão, mas a todos deseja chamar à vida com dignidade.
Não pensemos que o racismo é só coisa de África ou da América, está muito bem implantado no nosso quotidiano. Silenciosamente provoca muitas injustiças e sofrimentos.
O apelo do Apóstolo dos gentios deve calar fundo no coração de cada um de nós: «não sejais ocasião de pecado…» Não podia vir mais a propósito este apelo, para que cada um deixe de pensar que se salva sozinho e que ser cristão não implica uma abertura aos outros incondicionalmente. A salvação de Deus, nunca acontece individualmente, mas vem ao encontro de todos. E Deus quer que nos olhemos como irmãos.
Também é curioso que a primeira leitura nos mostre como ao abrigo de uma imagem construída e distorcida de Deus, fizeram leis que definiam como se devia lidar com os leprosos. Aqui temos um tema reincidente, para percebermos como neste domínio ainda não avançamos muito, frequentemente as religiões sob a desmedida sede do poder e a vontade de dominar, inventam imagens de Deus deturpadas para fazerem valer os seus intentos, mesmo que a esse custo venha sofrimento, discriminação e morte, que depois são apresentados levianamente como danos colaterais. Deus não é nada disto e está claramente contra isto.
Por isso, no Evangelho Jesus clarifica as coisas. Porque Jesus mostra-nos um Deus que vem ao encontro das vítimas discriminadas e dos excluídos. A sua compaixão é incomensurável com os que caíram na miséria, estende a mão de amor aos pecadores, liberta do sofrimento e chama todos para o Seu Reino. O Deus de Jesus não está nada aí para a marginalização e faz a denúncia clara contra todas as formas de opressão nas famílias, na política e na religião. A sua lógica é a fraternidade. Tudo o que ponha em causa essa nova estrutura não entra no coração de Deus e não devia entrar também no nosso.

1 comentário:

francisco disse...

Desculpe a ignorância mas o que é "pecar contra o mundo"?

A lógica é sem dúvida o amor, "se não tiver amor, nada sou" diz o Apóstolo São Paulo.

O Apóstolo São João na primeira carta fala sobre isso com beleza, diz-nos:
"Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele." (1 Jo 4,16)

E com simplicidade explica:
"Se alguém disser: «Eu amo a Deus», mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê." (1 Jo 4,20)

"Quem diz: «Eu conheço-O», mas não guarda os seus mandamentos é um mentiroso e a verdade não está nele" (1 Jo 2,4)

Novamente com beleza resume esse Amor:
"É por isto que reconhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos; pois o amor de Deus consiste precisamente em que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são uma carga, porque todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo. E este é o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé. E quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?" (1 Jo 5,2-5)

Um ponto em que o Papa Francisco nos pede várias vezes para reflectirmos é o de não sermos rígidos, como os fariseus e doutores da lei.
Os fariseus e doutores da lei consideram a Lei como um fardo e um conjunto de obrigações a cumprir para ficar com tudo resolvido em relação a Deus, esquecendo o amor e a misericórida.
Na outra ponta de sermos fariseus e doutores da lei temos a situação de como Deus ama-nos, podemos dizer que incondicionalmente na medida em que está sempre pronto para nos acolher bastando darmos o passo, consideramos a Lei como um fardo que podemos excluir pois Deus ama-nos.

Na verdade diz o Apóstolo São João que "os seus mandamentos não são uma carga", «o Sábado foi feito para o Homem» quer dizer que a Lei faz parte do Amor de Deus nem é um fardo como obrigação nem como um fardo para excluir.
É como para cuidar dos nossos pais temos deveres a cumprir, não são apenas deveres para cumprir sem amor nem cuidar deles é amar sem cumprir os deveres, faz parte do próprio amor.