Sexta feira Santa
Comensal divino
No Calvário de toda a vida há um ser humano e divino maltratado
O grande silêncio que se abateu na laje
fria do Calvário não desmente a crueldade de um processo injusto promovido pelo
poder político e religioso de braço dado. Quando os interesses dos poderes prevalecem
é tão fácil o entendimento!
Este é o dia e a hora da paixão do
sofrimento e da morte de um Deus humanado. Eis nisso tudo, a humanidade
inteira, vergada ao peso da cruz:
- na loucura desenfreada do negócio das
armas porque não se calam no espectro da guerra;
- no campo da batalha da violência
doméstica;
- nos negócios sujos da carne humana ou
na desonestidade (corrupção) que rouba o bem comum e não se lembra que há
justiça;
- no desrespeito de uns pelos outros em
tantos lugares da vida;
- na morte por causa da pobreza, do
abandono e da exclusão social;
- na vergonha terrível do nosso tempo
que são os milhares de pessoas refugiadas;
- na infidelidade aos valores e
princípios básicos;
- na fome que mata o sonho e rouba a esperança a milhões de seres humanos no mundo inteiro;
- nas doenças que perseguem tantas pessoas;
- nas carências na saúde e educação que resultam de políticas que se desviam do essencial e das prioridades;
- na perda da liberdade de expressão;
- na perda do direito a
pensar e ser diferente;
- na desigualdade;
- na exclusão;
- nas iniquidades;
- na irresponsabilidade que se revela em
tantos domínios da existência porque se deixou de pensar e viver como
"corpo" , não se pensa como comunidade;
- na incongruência do discurso da Sua
Igreja, que prega tanto o sentido da irmandade, mas não larga os títulos
anacrónicos e os ornamentos hierárquicos;
- nas riquezas desmedidas que pertencem
a todos mas alguns apoderam-se delas e gerem-nas como domínios próprios;
- no abandono e subaproveitamento só porque sim de tantos
bens que podiam estar ao serviço dos mais pobres;
- enfim, na concorrência desleal,
desrespeitosa e por vezes insultuosa em todos os domínios, principalmente, no político, no social e no religioso da sociedade em geral...
Precisamos de uma
"ressurreição" que nos purgue desta contínua paixão soberba e desta
"morte colectiva", e que nos encaminhe mais uma vez no caminho seguro
onde sejamos todos por um, contra a lógica tenebrosa do cada um por si e o
restante não conta. Alguns dos nossos calvários estão aqui elencados, tomara
que um dia sejam iluminados e que as vítimas que eles produzem encontrem a
alegria da libertação do sofrimento e da morte para todo o sempre.
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