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sexta-feira, 22 de junho de 2012

Quando Manuel Alegre estava preso e escreveu um poema ao papa


O poeta e ex-candidato à Presidência da República, Manuel Alegre, contará esta sexta-feira, 22 de junho, perante bispos e responsáveis da cultura da Igreja, como um seu pedido à polícia política fascista o levou a escrever um poema dedicado ao papa João XXIII.
Foi no verão de 1963, conta o escritor ao jornal “Público”, antecipando a sua participação na 8.ª Jornada da Pastoral da Cultura, da Igreja Católica, em Fátima. Alegre tinha sido preso em Angola, então colónia portuguesa, depois de participar num levantamento contra o regime. Detido em Luanda, na cadeia da PIDE, a polícia política, Alegre ouviu falar de uma encíclica do papa João XXIII, sobre a paz no mundo, a Pacem in terris, publicada em abril de 1963.
«Pedi para ler a encíclica mas os carcereiros não permitiram», conta Manuel Alegre. «Pelos vistos era um texto subversivo.» O texto do papa dirigia-se «a todas as pessoas de boa vontade» - uma fórmula que era utilizada pela primeira vez nos documentos pontifícios. Nele se falava de liberdade, justiça, de anticolonialismo, direitos culturais, económicos e sociais, bem como da participação das mulheres na sociedade, conta o ex-deputado socialista.
«Para quem lutava pela liberdade, a encíclica foi uma inspiração», diz o autor de Praça da Canção. Por isso, Alegre acabou por escrever o poema Para João XXIII: «Porque não sei de Deus não trago preces./ Sou apenas um homem de boa vontade./ Creio nos homens que acreditam como tu nos homens/ creio no teu sorriso fraternal».
«A encíclica dizia que ninguém tinha a verdade toda. É algo que continua a ser de grande atualidade nesta época de pensamento único, em que nos querem tirar tantos direitos sociais e políticos», diz Manuel Alegre sobre aquele documento.
António Marujo

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