Por José Luís Rodrigues
«A paz começa no
nosso interior», disse Maria de Lurdes Pintasilgo, dias antes de morrer.
Obviamente, que estou profundamente de acordo com esta afirmação. Não é de todo
original. Mas serve para nos lembrar que a paz no mundo só é possível quando
cada um e cada qual descobrir esse valor no seu interior. Ninguém pode ser
agente de paz com os outros se não vive em paz consigo mesmo.
Os tempos correm tristes. A depressão toma conta de
muita gente. A situação económica do país contagia os estados de alma de toda a
gente. As medidas de austeridade provocam sobressaltos em muitos sectores.
Ninguém escapa a um certo desânimo e parece não ter lugar o sentido da
esperança. Porém, cabe-nos recordar que em cada manhã a vida volta a
ressuscitar e a dádiva de sabermos que os nossos olhos se reabrem para a luz da
manhã deve ser um dom maravilhoso que todos devemos saber contemplar.
Mas, não
pode esta certeza privar-nos de denunciar que os tempos estão tristes, não só
porque continuamos a ouvir palavras sobre o terrorismo, a violência, a miséria,
os refugiados, o sida... Mas também, porque ouvimos em todo lado, palavras
ofensivas, palavrões, de pessoas que se esperaria elevação e dignidade. As
ofensas roçam a linguagem do calhau e poucos se indignam com isso. Parece já
não existirem pessoas que merecem respeito. A linguagem estala o verniz,
manifesta má educação, falta de respeito...
A linguagem estalou com o verniz dos tempos que
correm, porque a mentira vale muito mais, mas mesmo muito mais do que toda a
verdade. São poucos os que são escravos da palavra e muitos os que se limitam a
dizer palavras ocas que depois não induzem à fidelidade do seu cumprimento. Já
não conto, porque seria impossível contar, as vezes em que sou aliciado com o
rol de palavras, palavras e mais palavras.
O que terá levado, a que as pessoas durmam
descansadas, mesmo que enganem meio mundo com as suas mentiras descaradas e com
o seu palavreado oco? Porque se tornou tão fácil viver sem qualquer sombra de
peso na consciência? Porque se tornou tão fácil viver de igual modo mesmo que
de manhã se diga verdade e à noite se enfie ouvidos dentro a mais descarada
mentira?
No meu singelo observar, considero que os tempos
correm tristes, porque são poucos os lugares da vida e do mundo que escapam a
esta triste realidade. Por exemplo, a política (reparem, refiro apenas a
política, mas podia referir todas as estruturas da nossa sociedade) é o que todos
muito bem sabem, não há respeito por ninguém. Vejamos o que se passa numa
sessão de debate parlamentar, vejamos como são as campanhas eleitorais e
vejamos como se tratam as questões da economia, da educação, da saúde e todas
as questões sociais.
Por fim, o povo é o bombo da festa. Está satisfeito.
Basta-lhe vegetar à sombra da ignorância e comprazer-se com os arrotos da
abundância de festas, passeios e todo o género de presentes. Os tempos estão
tristes e o país atravessa uma grande crise. Ainda estou para crer nessa crise
que se chama défice. Porque só acredito verdadeiramente na crise dos bolsos
vazios das pessoas. A pobreza toma conta de muitas das nossas famílias. Os
tempos estão tristes e ninguém se importa nada com isso. É pena!
Mesmo assim, desejo um bom fim de semana para todos!
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