Solenidade de São João Baptista
A habitação de João
Baptista era o deserto. Mas, não será isso impedimento para João descobrir Deus
nem muito menos para que ele não permitisse a existência de Deus na sua vida. Na
aridez do deserto percebeu e vemos nós que a sua missão é ser um sinal de Deus
no meio da humanidade.
Deste habitante do
deserto salta à vista o seguinte no Evangelho de S. Lucas, escutemos com
atenção: «Dizia pois João à multidão: raça de víboras, quem vos ensinou a fugir
da ira que está para vir? Produzi pois frutos dignos de arrependimento e não
comeceis a dizer a vós mesmos: temos Abraão por pai, porque eu vos digo que até
destas pedras pode Deus suscitar filhos de Abraão» (Lc 3,7-8). Eis o grito de
quem não pode calar, a injustiça e toda a exploração dos fortes sobre os mais
fracos da sociedade. Já dizia o antigo Bispo do Porto, profeta do século XX,
que há maneira de João Baptista dirá forte e bom som contra os poderosos deste
mundo, que se acham donos da verdade e das pessoas para manipularem como muito
bem entendem. Dizia o bispo: «não vejo vantagem nenhuma
em afogar um grito de dor.»
Face a esta convicção
somos levados a ler e anunciar um João Baptista para hoje, o tempo concreto em
que vivemos. Muito longe do João assexuado dos altares, com barbichas
celestiais, popularizado com comes e bebes por todo o lado. Este João não nos
serve.
Toda a tradição bíblica
demonstra uma predileção de Deus pelo «povo eleito», porém, também se descobre
que Deus toma a sério o Seu amor por todos os povos e não deixa de desejar para
toda a humanidade a salvação, caso fosse ao contrário deixaria de ser o Deus da
misericórdia e da justiça anunciado por todos os profetas.
Esta compreensão nem
sempre esteve presente no coração do povo de Israel, assim sendo, uma parcela
deste povo, fez-se empedernido ao ponto de merecer de João Baptista o epíteto
de «raça de víboras». Pois, será desta «raça» que muitos amigos de Deus
conhecerão a morte e até o próprio «Messias» morrerá às suas mãos.
Os escribas e fariseus presenciaram ou tomaram conhecimento de todos os feitos
do Nazareno, sem que isso lhes servisse de incentivo para o abandono das
muralhas do orgulho e da intolerância, dentro das quais estavam encastelados,
preferindo antes conspirar sorrateiramente contra o Filho de Deus, levando-o à
cruz.
Estas «raças de víboras» consideravam-se «filho de Abraão»,
tomando foros de santidade, facto que lhes daria o pretenso «direito» de
malbaratar os mandamentos e explorar o povo. Estas «raças de víboras» de antes
tal como as de hoje, pensando que o simples facto de se pertencer a determinada
escola religiosa, estão desobrigados dos deveres fundamentais exigidos pelas
leis de Deus.
A crença de que bastando apregoar os currículos celestiais
são acesso fácil e garantias para entrar no Reino dos céus, mas descuram-se estas
«raça de víboras» os seus próprios deveres elementares de justiça e de amizade
pelos mais pobres e fracos da sociedade, vivem vida de ricos à custa do bem
comum e no seu egoísmo, tornam-se orgulhosos, intolerantes e obstinados…
Esta «raça de víboras» de Jesus e de João Baptista, constituem
também aqueles que «não entram no reino dos céus nem deixam que os outros
entrem», os que «atam pesados fardos nos ombros dos mais fracos não lhes
tocando, sequer, com a ponta do dedo», os que insuflam fé cega, os que
sobrepõem os seus interesses mais imediatos acima dos ditames da consciência,
os que comercializam as coisas de Deus, os que «honram Jesus com os lábios mas
têm longe dele os corações», os que «têm Deus na boca e o diabo no coração», e
ainda aqueles que delapidam os talentos de tanta gente amavelmente cedidos por
Deus aos seus filhos.
O mundo de antes e de hoje, está fatalmente corroído por
«raças de víboras», por isso, revistemos o nosso coração com a lucidez e a
coragem de João Baptista.
José Luís Rodrigues
3 comentários:
«Raça de víboras» continua por aí, carregados de fé nos lábios, carregados de incenso nas palavras, mas ocos na alma.
Consideram-se porventura o «povo eleito»__ pelo voto do Deus-Povo__mas de fato são reles víboras narcístas e petulantes mais não sendo que sepulcros: caiados por fora mas podres por dentro...
Obrigado por estes momentos de meditação. A palavra de Deus continua viva e operante em cada profeta por Ele escolhido.
Neste mundo materializado parece que não se tem tempo para Deus.
Os Santos populares tornaram-se uma festa de comes e bebes e nada mais.
Que Deus nos dê capacidade de escutar a Sua palavra através dos santos ou dos Seus pastores e nos ajude a vivê-la na vida de cada dia.
Vou seguir o seu blogue como meio catequético ao nosso dispor.
Padre José Luís, Meu Amigo e Irmão, vivemos um período no qual encontramos essas "raças de víboras" por todos os lados e até na própria Igreja tão descristianizada está. Recheada de beatas e beatos que sem escrúpulos nos patenteiam um deus que não é o de Jesus. S.João , o Baptista, foi quem primeiro anunciou o Reino de Deus e a ingrata missão de Jesus. Nós vemo-Lo no confronto declarado contra os poderosos.Esses herodes e herodiádes que andam por aí a pedir a cabeça dos inocentos e honestos que querem, realmente, a transformação, tal como Deus a quis e a quer. João -o profeta- foi morto tal como Jesus -o Deus encarnado- tb o foi. E outros proto-mártires e os do tempo actual sÃO todos fustigados,maltratados e, até, morrem de fome e de traição desses sacripantas que pairam por aí .Só pq os incomodam e não acreditam nas suas fúteis e nefastas palavras e gestos. Queremos, sim,o "Caminho, a Verdade e a Vida" Tal como no-La a ensinou o Senhor de todas e de todas, mais concretamente dos simples, para os quais ele deu o seu "trono" e a sua "cátedra".Aos simples.
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