Comentário à missa deste domingo
IV do Tempo Pascal
A voz de Jesus é uma voz que nos toca no
mais fundo da existência e faz de cada pessoa humana, um caminho de realização
do seu amor pela vida. A salvação não tem outra possibilidade senão essa do
amor que Jesus nos oferece e nos manda viver em todos os momentos da nossa
existência. No Evangelho de João aprendemos esta condição formidável que Deus
nos deu através de Jesus. Deus é Pai e tomou-nos a todos como seus filhos,
deu-nos a vida eterna, nunca havemos de morrer, nunca sairemos da mão de Deus,
fomos dados a Jesus – Filho de Deus – para que com Ele nos tornássemos também
filhos muito amados deste Deus que é Pai/Mãe, que Jesus nos mostra.
Outra coisa extraordinária que Jesus nos
revela é que «Eu e o Pai somos um só» – diz Jesus. Esta frase revela-nos como é
forte a comunhão que existe entre o Deus Pai/Mãe e o Filho. Até hoje nenhum
filho foi capaz de pronunciar uma coisa tão formidável em termos de relação
entre paternidade/ maternidade e filiação. Só Jesus, porque sabendo de onde vinha
podia pronunciar esta riqueza de relação entre pai/mãe e filho. Como viver hoje
esta intimidade com Deus? – É o próprio Jesus que nos vai ensinar. Todos os que
souberem escutar a sua voz irão aprender como viver essa intimidade de amor.
Mas a nossa vida, por vezes, está tão envolta em necessidades ou na falta delas
que não nos predispõe para um verdadeiro encontro de intimidade que Jesus nos
oferece. As tribulações da vida não permitem descobrir a verdade dessa
descoberta.
Jesus é o Bom Pastor, que nos chama e
nos convoca para a verdade da vida como dom do seu amor. E aceitar este dom
maravilhoso de Deus Pai, é acolher a verdade plena na nossa existência e,
sobretudo, prepara-nos desde logo o caminho da eternidade. Pois, reparemos no
que dizem as palavras de Jesus: «Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão-de
perecer». Esta certeza de salvação é pronunciada pela voz de Jesus, que se
mostra mestre da vida e da libertação total de tudo o que ponha em causa o
amor, a paz e a inquietação interior do pecado.
Tudo o que seja verdade radical do amor,
nunca é demais para ser vivido no dia a dia, porém, não podemos dizer que essa
possibilidade salvadora seja realmente fácil de ser vivida. Não, não é fácil
enquadrar o nosso viver com esses valores que a mensagem de Jesus nos mostra,
porque as circunstâncias do nosso quotidiano estão sempre marcadas por tantas
tentações que nos desviam do caminho certo do amor e da felicidade. No entanto,
nada de bom se consegue sem uma força de vontade interior muito grande. As
coisas boas conquistam-se a pulso, com muita paciência e muita persistência. Os
cristãos, são chamados a serem gente de esperança e nada os deverá demover do
caminho de Deus e do seu projecto de salvação.
É fácil ser enganado por charlatães ou
por pessoas sem escrúpulos que não se importam nada com a distinção entre o que
é certo e o que é errado. Assim, será sempre muito mais importante cada um de
nós escutar profundamente a voz da verdade e do amor.
Por isso, onde existe a
teimosia soberba para a vivência constante do ódio e do rancor não pode haver
lugar no coração para o encontro da intimidade de Deus nem pode haver
predisposição para a escuta da voz do Senhor Jesus. Neste dom extraordinário
que é a vida, Jesus convoca-nos para a procura do sentido último radicado na
transcendência para que viver neste mundo não seja apenas estar sem horizonte,
mas fixados no céu.
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