«De nada servem palavras como
diálogo, escuta, conversão, solidariedade, respeito à vida quando na prática é
a violência e a defesa de ideias pré-concebidas que parecem nortear alguns
comportamentos religiosos públicos. Seguem esquecendo que não se deve tomar
Deus em vão. Não apenas seu nome, pois isto, já o fazem. Tomar Deus em vão é
tomar as criaturas em vão, selecionando-os, desrespeitando-as e julgando-as de
antemão. Nós todas/os temos palhas e traves em nossos olhos e eu sou a
primeira. Por isso, cada pessoa ou grupo apenas consegue ver algo da realidade,
que é sempre maior do que nós. Entretanto, se quisermos enxergar um pouco mais,
somos convidadas a nos aproximar de forma desarmada dos outros. Somos
desafiadas a ouvir, olhar, sentir, acolher, perguntar, conversar como se o
corpo do outro ou da outra pudessem ser meu próprio corpo, como se os olhos e
ouvidos dos outros pudessem completar minha visão e audição. E mais, como se as
dores alheias pudessem ser de fato minhas próprias dores e suas histórias
devida minhas mestras. Só assim poderemos ter um pouco de autoridade com
dignidade. Só assim nossa belas palavras não serão ocas. E, talvez, nessa
abertura a cada dia renovada, poderemos acreditar na necessidade vital de
carregar os fardos uns dos outros e esperar que a fraternidade e a sororidade
sejam possíveis em nossas relações».
Fevereiro – 2012, Ivone Gebara, Escritora,
filósofa e teóloga, in Adital.
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