(Irmãos Grimm
tradução de Ana Maria Machado)
tradução de Ana Maria Machado)
Era uma vez um velho muito
velho, quase cego e surdo, com os joelhos a tremerem. Quando se sentava à mesa
para comer, mal conseguia segurar a colher. Derramava a sopa na toalha e,
quando, afinal, acertava na boca, deixava sempre cair um bocado pelos cantos.
O filho e a nora dele achavam
que era uma sujidade e ficavam com repugnância. Finalmente, acabaram por fazer com que o velho se sentasse num canto atrás do fogão. Levavam-lhe a comida numa
tigela de barro e – o que era pior – nem lhe davam o bastante.
O velho olhava para a mesa
com os olhos compridos, muitas vezes cheios de lágrimas.
Um dia, as suas mãos tremeram
tanto que ele deixou cair no chão a tigela e ela quebrou-se. A mulher ralhou
com ele, que não disse nada, só suspirou.
Comprou depois uma gamela de
madeira muito barata e era aí que ele tinha de comer.
Um dia, quando estavam todos
sentados na cozinha, o neto do velho, que era um menino de quatro anos, estava
a brincar com uns pedaços de pau.
— O que é que estás a fazer?
– perguntou o pai.
O menino respondeu:
— Estou a fazer uma gamela,
para o pai e a mãe poderem comer quando eu crescer.
O marido e a mulher
olharam-se durante algum tempo e desataram a chorar. Depois disso, trouxeram o
avô de volta para a mesa. Desde então passaram a comer todos juntos e, mesmo
quando o velho derramava alguma coisa, ninguém dizia nada.
William J. Bennett
O
Livro das Virtudes
Editora Nova Fronteira, 1995
(adaptação)
(adaptação)
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