Dá-me
vontade de começar este texto com o Papa Bento XVI, não porque não tenha
percebido que já não é ele o Papa, porque parece que alguns ainda não se deram
conta que mudou o Papa e que já não se chama Bento XVI, mas simplesmente e
humildemente Papa Francisco. Mas, vamos à citação que ficou para a história e
que será preciso relembrar sempre que for necessário. Dizia o então Papa no
avião a caminho de Portugal: «Os ataques ao Papa e à Igreja não vêm só de fora,
os sofrimentos da Igreja vêm do seu próprio interior, do pecado que existe na
Igreja» (10 de Maio de 2010).
Cada
vez mais se percebe o sentido e o alcance desta frase pronunciada pelo Papa Bento
XVI. Uma frase emblemática, que sempre nos saltará à vista sempre que a
Instituição Igreja Católica seja confrontada com manchas negras de qualquer
teor. Não me admira nada que surjam mazelas, pecados e falhas de toda a ordem levadas
a cabo pelos membros da Igreja Católica. Ninguém se pode gabar de não falhar,
de não pecar. Já o Evangelho ensina que quem não tem pecado que atire a
primeira pedra. Todos se retiraram furiosos contra Jesus, porque não se acharam
dignos de atirar pedras. A condição humana é assim mesmo, capaz do melhor e
capaz do pior. O «bicho» humano já não tem mais nada que nos surpreenda e onde
existirem pessoas haverá sempre virtudes que engrandecem o bem comum e mazelas
que inferiorizam a humanidade e violentam a sua dignidade.
Porém,
deixa-me atónito a forma como a Igreja Católica lida com tais situações miseráveis
quando se trata dos seus membros. Há uma falta de sensibilidade e de inteligência
que nos surpreende, que desemboca depois na irresponsabilidade e num encolher
de ombros preocupante. Não se tem uma acção pastoral que seja capaz de lidar
com a Comunicação Social com elevação e inteligência, não existe capacidade de
previsão em relação às consequências de determinados comportamentos suspeitos e
impróprios. Não se salvaguarda as comunidades, as pessoas concretas, os fiéis…
Esta forma de olhar as coisas a ver se passa, a ver se cai no esquecimento,
numa sociedade profundamente mediatizada é confrangedor, revela pouca sabedoria
e nenhuma capacidade de adaptação aos tempos que correm.
A
Igreja Católica precisa, especialmente, nós padres, precisamos de reagir ao mundo mediatizado
com inteligência, aliás nada que seja necessário ser dito, porque o mesmo mundo
utilizada a inteligência e o modus vivendi actual para confrontar a Igreja e os
seus membros, por conseguinte, não pode, a Igreja Católica, reagir como se
estivesse na Idade Média ou como se estivesse nos tempos em que tudo girava à
sua volta e marcava a agenda social. Não é assim, esse tempo passou. Precisamos
de estudar, de reflectir e de rezar estes tempos concretos que são os nossos e
reagir com a linguagem de hoje com sabedoria e inteligência.
Os
silêncios carregados de medo e calculados, a pouco ou nenhuma capacidade do
alcance e das consequências das coisas não pode ser um alimento quotidiano na
nossa Igreja, a visão sobre o presente e sobre o futuro deve ser de uma clarividência
soberba, exige-se o fim do puritanismo, do fundamentalismo em relação a todas
as questões que inquietam a sociedade de hoje, o fim das regras e mais regras
absurdas para realizar-se os baptismos, para ser padrinho e madrinha, para
receber os sacramento em geral... Este moralismo absurdo e este rubricismo
exagerado, não resulta e mina sobremaneira a sociedade negativamente contra a
Igreja e os seus membros. Daí ao surgiram as mazelas e pecados por quem é
puritano, impõe regras e mais regras sobre os outros, sofre os piores ataques
e mergulhamos todos na tragédia da intolerância e dos juízos injustamente
generalizados.
É
preciso salvar a Instituição Igreja Católica da Madeira, uma das mais antigas
da Madeira, que está a celebrar 500 anos de presença na Madeira. Há uma longa
memória que é preciso salvaguardar, um trabalho enorme realizado em prol de um
povo e de uma terra que, seguramente estará carregado de defeitos e de pecados,
mas também estará, seguramente, carregado de virtudes. São imensas as figuras ligadas
à Igreja que não merecem este achincalhamento, há uma memória que nos merece o
maior respeito. A 10 de Maio de 1952 o Bispo D. Manuel de Jesus Pereira,
escrevia o seguinte: «Desde a minha chegada à Madeira, em 1948, a morte, que a ninguém
poupa, ceifou aqui três Sacerdotes, grandes em qualquer parte, que tanto
honraram a Igreja e a sua Terra. O Revº. Cónego Jardim, o Revº. Pe Fernando e o
Revº. Pe Laurindo» (Pe J. Plácido Pereira, Padre
Augusto Fernando Augusto da Silva, Conferência promovida pelo Instituto
Cultural da Madeira, Eco do Funchal, 1952, pag. 9).
A
nós, Igreja de hoje, cabe-nos levar adiante o nosso trabalho com dedicação e
empenho pelo nosso povo, que devemos amar ao jeito do Evangelho e ao modo de
Jesus com toda atenção, misericórdia e compaixão pelas falhas, pelos pecados e
pelo sofrimento que muitas atitudes e opções, vão semeado na nossa terra.
Olhamos para a cruz de Jesus Cristo e tomamos o seu exemplo na relação com os
outros, para que na hora dos nossos percalços sejamos também compreendidos e acolhidos
com compreensão e misericórdia.
Que nesta hora encontremos
serenidade e abertura de espírito para continuar o nosso trabalho com dedicação
e mesmo que humanamente corramos o risco de errar, nunca vacilemos perante as
dificuldades que serão muitas nesta hora para todos nós. Que a Igreja toda seja
responsável, olhe para o passado e sinta o peso da responsabilidade que tem
para defender e lutar até à morte se necessário por uma Instituição que tem
muito de útil em prol do povo sofrido da Madeira e que não se deixe contaminar
nem desviar do caminho que o Evangelho nos manda seguir. Que sempre nos guie a
maior tolerância e respeito pelos outros. Mais ainda desejamos que toda a
hierarquia da Igreja Católica da Madeira se ajoelhe diante do nosso povo,
peça-lhe perdão e a sua bênção a exemplo do Papa Francisco. Como seria tão
bonito nos púlpitos das nossas Igrejas tornar-se habitual ecoar o pedido de
perdão e desculpas ao povo!
1 comentário:
Bom dia!
Senhor Padre José Luís
Comecei por ler esta mensagem meio desconfiada.
A segunda vez que o li baixei a guarda e rendi-me por completo ao que aqui disse.
"Não se tem uma acção pastoral que seja capaz de lidar com a Comunicação Social com elevação e inteligência, não existe capacidade de previsão em relação às consequências de determinados comportamentos suspeitos e impróprios. Não se salvaguarda as comunidades, as pessoas concretas, os fiéis…" na minha humilde e insignificante opinião, a igreja deveria aprender a reagir com verdade, categoria e distinção às noticias dos meios de comunicação em geral parece que fundamentam a sobrevivência à custa de noticias carregadas de sensacionalismos exagerados, com a finalidade de influenciar a opinião publica aumentando dessa forma as audiências e vendas ( a todo o custo).
"precisamos de reagir ao mundo mediatizado com inteligência," não apenas os padres e a igreja, mas também crentes fiéis e toda a comunidade católica precisa reagir com inteligência e sabedoria.
Sem muitas emoções pelo meio.
"Mais ainda desejamos que toda a hierarquia da Igreja Católica da Madeira se ajoelhe diante do nosso povo, peça-lhe perdão e a sua bênção a exemplo do Papa Francisco. Como seria tão bonito nos púlpitos das nossas Igreja tornar-se habitual ecoar o pedido de perdão e desculpas ao povo..." e terminou com chave de ouro.
Eu não iria tão longe ao ponto de fazer dobrar os joelhos, mas ficaria muito satisfeita por ouvir um dia "o pedido de perdão e desculpas ao povo...".
PR
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