Escrever nas estrelas
O Dr. António Fontes na sua habitual e incontornável crónica-sátira Trum
Trump, no Dnotícias da Madeira, este domingo discorre sobre o caso do Pe.
Giselo, aproveitando para achincalhar pessoas e instituições, com uma linguagem
de baixo nível e com generalizações muito injustas. Vamos a três pontos.
1. Tantas vezes me farto de rir com as piadas certeiras e engraçadas, que
como se costuma dizer "não lembra ao diabo". Muito aprecio o género
da sátira e acho que o Dr. António Fontes tem jeito para a coisa. Até lhe fico
grato pela boa disposição logo bem cedo em cada manhã de domingo, antes de
entrar em modo liturgia dominical com as missas habituais da manhã de cada
domingo - são logo três seguidas para três assembleias de extraterrestres que
escolheram a Madeira para serem esquisitos, gastando um pedaço do
precioso domingo para fazerem umas coisas esquisitas dentro das igrejas. Olhem
que tem gente de todas as idades. Por isso, não venham com a conversa do
"só para meia dúzia de velhos".
2. Adiante. Algumas vezes a escrita do Dr. António Fontes resvala da sátira
engraçada e certeira, para a brejeirice e para o calão sem freio na língua a
propósito e a despropósito. Quando tal acontece, fico-me por um singelo
sorriso, porque me coloco na pele dos visados. O Dr. António Fontes tem graça e
jeito para dizer brincando coisas muito sérias. Admiro essa qualidade - ou
talento, parafraseando o Evangelho daquele "louco de Nazaré"
que anda para aí há dois mil anos a enganar meio mundo e esse meio mundo engana
o outro meio mundo que falta. Repito, muito me divirto e considero necessário
que entre nós este género da sátira exista, precisamos que nos digam com graça,
com sátira, aquilo que é sério demais, sobretudo, quando diz respeito ao bem comum,
a toda a sociedade.
3. A sátira-crónica deste domingo, o Trump Trump, do Dr. António Fontes,
teria piada se não tivesse entrado pela brejeirice com expressões altamente
ofensivas e caluniosas para pessoas e instituições. A liberdade de expressão é
um valor, é um direito, mas devem ser exercidos com o respeito e com a
dignidade que todas pessoas merecem e, particularmente, as instituições, que
sempre estão muito para além das atitudes deste ou daquele membro, mesmo que
ele tenha a mais elevada categoria dentro da estrutura. Por exemplo, a Igreja
Católica não é o Papa, não é um bispo ou os bispos em geral, não é um padre e
os padres em geral... É uma realidade que está acima, muito acima desta ou
daquela pessoa, deste ou daquele grupo, desta ou daquela classe, desta ou
daquela família... Portanto, mesmo que já seja gasto dizer-se, relembro, o ramo não é a floresta nem muito menos a
floresta é o ramo.
Enfim, para terminar, vamos agora a três lembranças.
1. É verdade que como em todas as instituições a Igreja Católica e,
particularmente, a Diocese do Funchal têm pessoas que, podemos considerar
(mesmo que injustamente), que «não servem para nada» ou podemos ir ainda mais
longe, com a expressão popularmente generalizada e proficuamente utilizada na
gíria, «não prestam para nada». Tudo muito certo, mas uma coisa são algumas
(sublinho, algumas) pessoas quando tomam decisões, fazem opções e assumem determinadas
atitudes, outra bem diferente, são as instituições a elas associadas.
Generalizar é perigoso, injusto e desonesto intelectualmente.
2. A par de tudo o que é dito na primeira
lembrança, é verdade sim senhor que a Igreja Católica e, particularmente, a
Diocese do Funchal, estão carregadas de defeitos, de falta de transparência,
com negócios esquisitos, heranças mal geridas ou desviadas do fim a que se
destinavam, padres por todo lado com mais direitos e outros com menos, tantos
deles a não cumprirem os seus deveres, alguns que não falam com os colegas,
pouco solidários, malcriados, ganância pelo poder e pelos dinheiro,
carreiristas ou trepadores, intriguistas, maldizentes, maldosos, conservadores,
anacrónicos, pedófilos, tarados sexuais, moralistas e zelosos com regras quando
são para os outros, bispos medrosos, calculistas e alguns acomodados como
príncipes em seus palácios… Ora, como se vê, uma infinidade de maus exemplos por
todo o lado vindo dos Papas, dos bispos, dos padres, dos frades e freiras e da
enorme multidão de leigos que não raras vezes cheiram mais a mofo do que os religiosos.
3. No entanto, face à descrição mais tenebrosa e negra que se possa fazer
da Igreja Católica em qualquer parte do mundo, ela é também porto de abrigo de
uma imensa multidão de pessoas que são sérias, têm fé verdadeira, porque
acreditam ser possível a fraternidade, a justiça solidária, a dignidade e a paz
para todos. Por isso, ajudam (tantas vezes com enormes sacrifícios pessoais,
gratuitamente e voluntariamente) os pobres, os doentes, os idosos, as crianças
abandonadas, as que participam na catequese, os jovens nos grupos juvenis (por.
ex. Escuteiros, só para lembrar o mais conhecido) e as famílias e tanta gente
que vai por aí, que se não fossem as pessoas ligadas às igrejas (comunidades)
as suas cruzes seriam muito mais pesadas.
Conclusão: Dr. António
Fontes, a sua crónica deste domingo (19 de novembro de 2017) foi uma das que não me fez
rir, mas até podia, dado que o tema tem enredo para uma excelente sátira, mas esta
desceu ao nível da linguagem do calhau, ofendeu pessoas e instituições, tendo
em conta que as desconsidera levianamente e meteu tudo dentro do mesmo saco.
Foi pena este domingo para mim não ter começado com umas valentes gargalhadas.
Ficam em dívida até que venha a próxima crónica com verdadeira graça, que até
pode ser sobre o autor que subscreve este escrito, desde que não resvale para a
ofensa caluniosa, a brejeirice e o insulto. Glória a Deus nas alturas e paz na
terra a toda humanidade por Ele amada.
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