Escrever nas estrelas
1. Julgar é fácil. Ajudar a reconstruir, é mais difícil. Mas é este o desafio mais bonito e premente que deve assistir as pessoas de bem, particularmente, se são cristãos. Porque seguem o Mestre Jesus Cristo, que perante as situações de condenação fatal, levanta do chão, perdoa e envia em paz.
2. Quanto à questão, «Padre Giselo do Monte assume a paternidade de uma menina», está tudo mais que
dito, mas o que importa mesmo é que saberá o Padre Giselo o que fazer com responsabilidade, não lhe
faltarão mãos amigas e corações generosos para o ajudarem no que for
necessário. Foi pena logo no início não se ter tido
clarividência para matar à cabeça o assunto, com transparência e coragem,
esvaziando-se dessa forma o efeito surpresa que as notícias em catadupa provocaram.
3. Porém, é preciso
relevar um dado que tem sido esquecido pela miséria ou até devia dizer «porcaria»,
que se tem dito e redito por todo lado. Lembro as crianças que estão no meio
desta história, que estão a ser e irão ser as principais vítimas. O restante do
elenco, trata-se de adultos.
4. Toda a gente enche a
boca, especialmente, os agentes da comunicação social, que não se deve entrar
pela vida privada de ninguém, tenho visto nos últimos dias a vida privada de
várias pessoas despejada no olho da rua à vista de toda a gente. Todos pensam,
todos sabem, todos têm opinião… Não sobre a beleza da vida, a dignidade das
pessoas, mas sobre o moralismo farisaico que deve sobrecarregar a vida das
pessoas, «Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e
os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los»
(Mt 23, 4). Muitos pensam que esta frase se destina só aos padres, mas por
sinal foi dirigida aos fariseus, que existem em todo o lado e em todos os
tempos em todos os quadrantes sociais.
5.
No primeiro ponto disse que era a última vez que falava neste assunto e juro
que farei todo o esforço para que assim seja. Porque, logo que o assunto caiu
no pelourinho da comunicação social e depois de subir ao cadafalso das redes
sociais, onde se tem despejado toda a porcaria que vai na alma das pessoas,
tenho pensado principalmente, na bebé, na jovem mãe, no padre-pai e nas outras
duas crianças. Outras pessoas deviam ser trazidas à liça, porque o caso implica
muita gente. Mas deixo isso para outros pensarem e dizerem o que entenderem sobre
cada uma das situações. E dentro do elenco que nomeei, centro-me ainda mais,
penso com tristeza imensa nas três crianças, na sua situação hoje e no seu futuro.
6.
Como se sentirão no futuro, quando crescerem e venham a ver tudo o que foi
escrito nestes dias sobre as pessoas que as procriaram, as protegem, vestem e
dão de comer nesta fase do seu crescimento? Como irão lidar com aquilo que foi
dito do seu pai, da sua mãe e de todas as pessoas que fizeram parte do seu
passado? Como serão tratadas na escola, na catequese e quando brincarem com as
outras crianças, dado que todos sabemos que as crianças são cruéis entre si?
Como se sentirão, se lhes apontarem o dedo, porque têm uma irmã ou meia irmã,
que o pai é um padre? Como serão olhadas pelos adultos, quando vivemos numa
terra que olha atravessado para tudo o que é diferente? Como serão encaradas no
contexto social onde habitam? Como se integrarão na escola, na catequese, nas
brincadeiras e nos lugares onde andam as crianças hoje (grupos desportivos,
clubes e outros)?
7.
Nestes tempos em que nos inquietamos com o problema do bullying nas escolas, com
o sofrimento horrível que isso acarreta para as crianças e que as marca indelevelmente
para o futuro, acho que devíamos estar a opinar com mais seriedade e com mais
qualidade sobre um assunto tão delicado, porque estão crianças envolvidas. Os
acusadores da «porcaria» de hoje, facilmente se converterão em carpideiras face
ao sofrimento que seguramente irão passar estas crianças amanhã.
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