Comensal divino:
1. Eis o extraordinário mundo novo que se inicia a partir da Madeira, Diocese
do Funchal. As mudanças que se anteveem parecem ter gestação na «pérola do
Atlântico». Nada melhor para encher ainda mais o orgulho de muitos madeirenses
que sempre acharam a Madeira o centro do mundo e que deste umbigo universal está
toda a razão de ser da existência. A meu ver deve ter sido precisamente aqui neste
lugar, que ao sétimo dia, Deus com as suas mãos estafadas de moldar o barro
para fazer o exemplar Adão e Eva, recuperou as forças de tão afanada obra
criadora.
2. Sempre me fez muita confusão ver os Papas, os bispos e os padres a serem
os convidados de honra nos encontros, pequenos ou grandes, sobre a família,
para falarem precisamente sobre família e como nela se vive a fidelidade no
casal, a educação dos filhos, a ensinarem como se resolvem todos os problemas
inerentes ao ser família tal como a conhecemos. Sempre evitei ao máximo falar
do que não tenho experiência e muito raras vezes encetei viagem por esse
caminho. Desperta-me muita perplexidade que os ensinamentos venham de quem teve
que abdicar de constituir família em nome da causa e da missão pelo Reino de
Deus. É assim e ponto.
3. Esse festim era o que tanta gente pode testemunhar, principalmente, os
grupos e movimentos ligados à família sejam mais ou menos religiosos. A
conversa versava sobre família assim, família assada, educação assim, educação
assada... Com regras e mais regras sobre a vida sexual, procriação, matrimónio
civil, matrimónio canónico, regras e mais regras para padrinhos, regras e mais
regras para procriar, exclusão e excomunhões se algo falhasse... Mas, despertou
agora a opinião pública e a da Igreja Católica - e todos sabemos o que foi, não
necessito de reafirmar - a realidade da vida inverteu-se, e como que a talho de
vingança, todos sabem de tudo sobre a vida do clero. Será caso para dizer-se «o
feitiço voltou-se contra o feiticeiro»? – Porque estou para ver o que isto vai
dar e como reagirá quem sempre achou que podia ensinar o melhor dos mundos a
partir da sua «sabedoria» sobre a família com muita teoria, mas em fuga da
experiência prática familiar.
4. No mesmo patamar, por estes dias, adensou-se ainda mais a minha
confusão, por ver uma onde crescente de leigos especialistas em padres, sexualidade
dos padres, celibato dos padres, castidade para os padres, vida geral dos
padres, filhos dos padres (não imaginava que existia tanto padre por aí a
procriar, honra lhes seja feita, já que quem deve procriar não o faz, então que
sejam estes a contribuir para o rejuvenescimento da nossa tão envelhecida
população) e a infinidade de doutrina relacionada com a vida do clero. É caso
para humildemente manifestar aqui a minha mais sincera gratidão, mas fica claro,
que se antes me fazia remover as tripas a doutrinação sobre a família e a vida
em casal, feita pelos solitários, não menos elas se removem com a doutrinação
sobre castidade, celibato e fidelidade e moralismo sexual, produzida pela plêiade de
gente, adúltera, recasada uma, duas, três e quatro vezes… Portanto, vamos com
calma e que a vida se faça com serenidade, porque sobre tudo e sobre todos ainda
temos muito que aprender, até porque cada pessoa é um oceano imenso, sempre
como construção inacabada e imperfeita.
1 comentário:
Parabéns pela excelente reflexão sobre os dois estados de vida.
Paulo Victória
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